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PROGRAMA DE APOIO À SAÚDE DO SERVIDOR PÚBLICO: UMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL E INTEGRADA

PUBLIC SERVANT HEALTH SUPPORT PROGRAM: A MULTI-PROFESSIONAL AND INTEGRATED APPROACH





Informações Básicas

  • Revista Qualyacademics v.3, n.1

  • ISSN: 2965976-0

  • Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).

  • Recebido em: 24/03/2025

  • Aceito em: 25/03/2025

  • Revisado em: 30/03/2025

  • Processado em: 01/04/2025

  • Publicado em: 04/04/2025

  • Categoria: Estudo de Revisão



Como citar esse material:


SAMPAIO, Adelar Aparecido. Programa de apoio à saúde do servidor público: Uma abordagem multiprofissional e integrada. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.3, n.1, 2025; p. 242-257. ISSN 2965976-0 | D.O.I.:



Autor:



Adelar Aparecido Sampaio

Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Contato: adelarsamapaio@hotmail.com

 


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RESUMO


O serviço público é reconhecidamente uma atividade de alta demanda intelectual, emocional e física. Esse quadro, concomitante com o atual processo de intensificação da atividade laboral no pós-pandemia de Covid-19, acarreta a presença de fatores de risco e o aumento da incidência de transtornos e reações comportamentais, mentais, físicas e orgânicas, com consequências nas áreas pessoal, profissional e institucional. Diante disso e a inexistência de programas de suporte à promoção da saúde e prevenção do adoecimento e abordagens integradas sobre o tema, o artigo estrutura-se em uma pesquisa básica de aporte bibliográfico e de análise informativa, descritiva e exploratória e visa descrever orientações acerca de um programa de apoio à saúde de servidores públicos, de modo específico na esfera administrativa municipal. Nesse prisma, apresenta-se as especificidades do contexto, desafios básicos que implicam sobre o bem-estar e a identificação de lacunas no conhecimento que perpetuam as condições adversas do servidor público. Como sugestões, o estudo fornece bases essenciais para medidas interventivas em um programa multiprofissional e integrado, bem como recomendações para desenvolvimento de estratégias promissoras de gerenciamento da saúde e qualidade de vida em favor dos servidores públicos.

 

Palavras-chave: Saúde; Bem-estar; Servidores Públicos.


 

ABSTRACT

 

Public service is recognized as an activity that demands a great deal of intellectual, emotional, and physical effort. This situation, combined with the current process of intensification of work activity in the post-COVID-19 pandemic period, leads to the presence of risk factors and an increase in the incidence of behavioral, mental, physical, and organic disorders and reactions, with consequences in the personal, professional, and institutional areas. Given this and the lack of support programs for health promotion and disease prevention and integrated approaches on the subject, this article is structured around basic research with bibliographic support and informative, descriptive, and exploratory analysis, and aims to describe guidelines for a health support program for public servants, specifically in the municipal administrative sphere. From this perspective, the specificities of the context are presented, as well as basic challenges that affect well-being and the identification of gaps in knowledge that perpetuate the adverse conditions of public servants. As suggestions, the study provides essential bases for intervention measures in a multidisciplinary and integrated program, as well as recommendations for the development of promising health management and quality of life strategies in favor of public servants.

 

Keywords: Health; Well-being; Public Servants.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

Nas últimas décadas, a situação descrita sugere uma preocupante crise de saúde pública no Brasil, com impactos significativos na vida profissional e pessoal dos cidadãos, especialmente no caso dos servidores públicos. A busca por soluções demanda por abordagens integradas, envolvendo colaboração entre o as esferas administrativas do governo, em suas várias instâncias, profissionais da saúde e a sociedade em geral. Isso pode incluir a implementação de políticas específicas, como programas de suporte emocional, melhoria nas condições de trabalho e investimentos na promoção de estilos de vida saudáveis para os profissionais do serviço público (Hurtado et al., 2022).


A atividade laboral do servidor público, geralmente, é reconhecida como uma atividade profissional peculiar, pela necessidade de recrutamento de intensa demanda intelectual, emocional, física para cumprir a sua lista crescente de atribuições.


O excesso de estresse, o esgotamento e a desmotivação não apenas comprometem a saúde física e mental, mas também têm implicações significativas na qualidade dos processos de trabalho, especialmente às atribuições de atendimento à população. Em um cenário de carência de investimento para a saúde do servidor público, quando isso acontece, as demandas se acumulam e, as reações físicas, mentais e comportamentais as acompanham, gerando o aumento e a recorrente incidência de diferentes tarefas, que atribulam os diversos domínios da sua saúde.


Este desafio foi claramente evidenciado pela pandemia de Covid-19, que obrigou os profissionais a se adaptarem rapidamente a novas modalidades de trabalho e a níveis elevados de estresse. Essas circunstâncias destacam a necessidade urgente de estratégias robustas voltadas para apoiar o bem-estar dos servidores públicos, visando assegurar resultados sustentáveis. As consequências dessas desordens comportamentais conflitam com a sua incapacidade de influenciar práticas institucionais aptas a melhorar, substancialmente, as suas condições de trabalho, sua qualidade de vida e as suas repercussões para a qualidade do serviço prestado ao cidadão.


O fato é que existem poucos trabalhos que relatam experiências em desenvolvimento de ações de prevenção de doenças e promoção da saúde dos servidores. As questões relacionadas à saúde, regra não fazem parte da pauta dos projetos de capacitação gerencial da administração pública, que geralmente opta por organizar serviços médicos de forma isolada das políticas de recursos humanos, contribuindo para a construção de concepções e dinâmicas idiossincráticas (Carneiro, 2006).


Compreende-se que, para mitigar os problemas básicos de saúde de servidores públicos, o enfoque nos fatores de proteção deveria ser destaque nas intervenções preventivas. No entanto, presentemente, o investimento nesse setor primário da atenção à saúde parece ainda não ter alcançado, substancialmente, respostas significativas. Por outro lado, o crescimento progressivo de exigências, responsabilidades e da carga de trabalho reforçam os fatores de risco, que se encarregam pelo aumento da incidência de transtornos mentais, físicos e orgânicos dos servidores (Araujo; Pinho; Masson, 2019).


A relevância deste artigo, assume o contexto informativo, descritivo e exploratório do tema em tela, diante à falta de informações abrangentes sobre o estado de saúde e a qualidade de vida de servidores públicos das instituições municipais brasileiras, procurando identificar lacunas no conhecimento que perpetuam as condições adversas do servidor.


Assim, este manuscrito pretende desempenhar um papel fundamental ao fornecer informações essenciais que beneficiam não apenas os próprios servidores, mas também as instituições públicas, pesquisadores, formuladores de políticas públicas de saúde, além de outros interessados no aprimoramento do ambiente de trabalho no serviço público.


Apesar da abundância de pesquisa sobre os aspectos psicossociais do bem-estar dos trabalhadores, persiste uma lacuna significativa no desenvolvimento e implementação de estratégias de intervenção abrangentes, adaptadas especificamente às necessidades dos servidores públicos municipais. Embora os estudos existentes forneçam informações valiosas sobre os fatores de risco e as consequências do esgotamento, continua a existir uma necessidade crítica de programas baseados em evidências que mitiguem eficazmente essas questões e promovam um bem-estar sustentável entre os servidores. Para preencher essa lacuna, são necessárias abordagens inovadoras que integrem ações multidisciplinares e interdisciplinares com estratégias práticas para apoiar os servidores ao longo de suas carreiras.


Com o objetivo de entender como certos programas de intervenção personalizados podem reduzir eficazmente o impacto do estresse e do esgotamento profissional no bem-estar dos servidores, o objeto central deste estudo direciona o foco para o desenvolvimento de propostas abrangentes que não apenas mitigam os fatores de estresse imediatos, mas também promovem a resiliência e a satisfação profissional a longo prazo entre os servidores. As intervenções eficazes devem incluir medidas proativas para melhorar os mecanismos de suporte profissional, promover o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e cultivar uma cultura institucional de apoio que valorize o bem-estar dos servidores públicos. O contexto informativo deste texto se caracteriza na carência de estudos abrangentes que amparam, mais firmemente, a compreensão da saúde e qualidade de vida dos servidores públicos municipais.


A importância deste trabalho consiste em revelar a ocorrência e o desenvolvimento de comportamentos estressantes relacionados ao desempenho da atividade profissional dos servidores públicos e seu reflexo no bem-estar e qualidade de vida. Diante este breve panorama traçado, este artigo visa mediar fontes literárias nacionais, para analisar a abrangência do estado de saúde de servidores públicos municipais, propondo no âmbito individual e institucional, recomendações para desenvolver estratégias promissoras de gerenciamento e programas de apoio à saúde do servidor.


Especialmente, para alcançar o objetivo proposto, consideraram-se peculiares do serviço público municipal, como: as pressões e à carga de trabalho (jornadas extensas, envolvimento em múltiplas funções); a interação diversa com a população (demandas profissionais e questões pessoais); a avaliação (necessidade de ampliar quantitativa e qualitativamente os estudos sobre o estado de saúde dos servidores em questão); os desafios tecnológicos (integração de tecnologias e adaptação às mudanças no ambiente digital de trabalho); o ambiente institucional (acatamento às políticas institucionais, mudanças nas lideranças, e pressões de alinhamento às metas da instituição) e; expectativas sociais (pressões sociais e expectativas da sociedade em relação ao papel do servidor público municipal.

 

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS       

 

Este artigo, de abordagem qualitativa, se estrutura em um desenho de pesquisa básica baseando-se sobre referenciais teóricos e referenciando um programa de apoio ao bem-estar desenvolvido com docentes (Sampaio, 2008) e se destina, a partir desses referenciais, a fomentar a apresentação de um programa de apoio à saúde de servidores públicos no âmbito municipal.


Ao final, apresentamos as conclusões baseadas na análise dos dados e, destacamos a necessidade de abordagens institucionais e individuais para mitigar os efeitos negativos do estresse na vida dos servidores públicos municipais, com propostas sugestivas de intervenções e pesquisas futuras. Este trabalho visa contribuir a compreensão holística dos desafios enfrentados pelos servidores públicos municipais e fornecer insights que possam informar políticas e práticas para melhorar o ambiente de trabalho e promover a saúde.


Sobre os aspectos éticos da pesquisa que originou este artigo, a pesquisa está dispensada de análise ética, conforme determina a Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), devido ao uso de dados secundários de acesso público, está conforme as diretrizes éticas comuns em pesquisas desse tipo. Isso significa que, ao utilizar dados já existentes e disponíveis publicamente, a pesquisa evita a coleta de novos dados de participantes.

 

3. A AÇÕES DE SAÚDE PARA O SERVIDOR PÚBLICO

 

O princípio da saúde integral do trabalhador invoca o direito à saúde no seu sentido irrestrito da cidadania plena. Inclui ações de promoção, prevenção e assistência, a serem executadas de forma integrada com o objetivo do alcance da saúde integral do trabalhador, através de uma abordagem interdisciplinar e intersetorial. Pressupõe uma ação de articulação com ampla e efetiva participação de trabalhadores, técnicos e pesquisadores, instituições de ensino, representantes sindicais, serviços, sociedade civil e outros atores institucionais e sociais (Andrade, 2016).


As ações de saúde do trabalhador é uma realidade ainda distante no serviço público. Consideram-se ações de saúde do trabalhador, as medidas de prevenção de doenças e promoção da saúde que visem melhoria da qualidade de vida e trabalho, incluindo questões relacionadas ao ambiente e organizacional do trabalho, informações sobre os riscos e participação dos trabalhadores nas áreas de vigilância aos ambientes; assistência à saúde do trabalhador; identificação e notificação dos acidentes e das doenças relacionadas com o trabalho; formação e capacitação em saúde do trabalhador e políticas de informação para a construção do perfil epidemiológico de morbimortalidade dos trabalhadores (Carneiro, 2006).


A inexistência de sistema nacional que consolide informais sobre a saúde do trabalhador público inviabiliza conhecer o perfil epidemiológico dessa categoria, que congrega milhões de trabalhadores, fato que dificulta a elaboração de projetos de promoção humana de maior alcance. Uma das alternativas, que muitos municípios isoladamente desenvolvem, são ações pontuais e esporádicas, muitas vezes descontinuadas, o que impede de obter dados e avançar na melhoria da qualidade de vida e saúde dos servidores.


A dificuldade, entretanto, não se prende exclusivamente de falta de informações. O fato de haver um vácuo de responsabilização legal pelo não cumprimento da legislação de saúde e segurança do trabalho favorece um contínuo postergar no cumprimento de legislais trabalhistas. Na maioria dos serviços públicos, existem juntas médicas ou serviços exclusivos que funcionam em separado da esfera assistencial e de promoção à saúde.


Atuar em promoção da saúde do trabalhador requer sair do foco da doença para o da saúde. Significa construir ações que interfiram no ambiente e na organização de trabalho. Importante ressaltar que a promoção da saúde no serviço público não é um conjunto de receitas que devem ser observadas pelo trabalhador. Ela exige envolvimento e responsabilização de diversos atores: a administração, o gestor local, o corpo técnico, os trabalhadores e seus representantes.


Como estratégia integrada, o programa de apoio à saúde do servidor, primordialmente deve abordar as várias dimensões da vida dos servidores, em seus aspectos físicos, emocionais, cognitivos, e espirituais, conforme a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS). A sua abordagem também deve abarcar as diversas áreas profissionais que compõe um conjunto de profissionais das áreas da Medicina, Psicologia, Fonoaudiologia, Nutrição, Educação Física, bem como a utilização de outros recursos através de Terapias Integradas, que comumente ofereçam suporte para a gestão de saúde, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento frente às diversas necessidades de promoção da saúde e para a ampliação de gradientes de melhoria da qualidade de vida dos servidores.


As áreas de prevenção e promoção da saúde são importantes no diagnóstico da situação de trabalho de diversos locais e de algumas categorias, assim como na sensibiliza-o e no envolvimento de servidores. Privilegiar uma abordagem de intervenção participativa, pode estimular um olhar para a proteção coletiva em parcerias coletivas com as unidades de recursos humanos e órgãos gestores.

           

4. O PROGRAMA DE APOIO À SAÚDE DO SERVIDOR PÚBLICO

 

Com base na argumentação apresentada, recomenda-se a implementação de programas de preparação psicoprofilática para servidores públicos. Esses programas devem incluir técnicas de gerenciamento de estresse, habilidades de resiliência e estratégias para a promoção da saúde física e mental. Essa iniciativa contribui para criar um ambiente mais propício ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (Freire; Fernandes, 2022).


É essencial que as instituições municipais considerem o suporte institucional como parte integrante da estratégia para otimizar as atividades dos servidores. Isso pode envolver a revisão de políticas de carga horária, incentivos para a pesquisa equilibrados e a criação de canais eficazes para comunicação e apoio.

O modelo de programa de apoio à saúde do servidor, seguindo uma estrutura pedagógica organizada, conforme delineado a seguir:


  • Contextualização inicial, fase de estudos e análises iniciais realizadas previamente às sessões de intervenção multiprofissional, deve considerar os diversos elementos que as equipes diretivas apresentam e expõem sobre o ambiente e condições de trabalho, características de funções laborais.


Essa fase, é considerada fundamental para tomada de consciência do contexto específico e conhecimento das demandas pelos profissionais que realizarão os estudos e intervenções. Demanda a realização de reuniões com as equipes gestoras e profissionais encarregados com responsabilidades de gerência e gestão do ambiente laboral.


  • Pré-avaliação das variáveis de saúde, abrangendo dimensões pessoais, profissionais e organizacionais.


Uma das tarefas que urge é conhecer de modo abrangente o surgimento e a especificidade das manifestações de estresse e a sua dependência com os fatores da atividade laboral. Algumas das manifestações mais marcantes de transtorno comportamental de servidores incluem a ansiedade, burnout, estados depressivos, instabilidade emocional, baixa autoestima, indicadores reduzidos de satisfação no trabalho e baixo índice de qualidade de vida.


Diversos instrumentos de avaliação podem ser enquadrados podem ser físicos, questionários, ou ferramentas de gestão da qualidade. Para essa finalidade, a depender das especificações das funções e localidades laborais, devem considerar a diversidade do ambiente do serviço público. Dentre alguns instrumentos, destacamos:


- Perfil de Ambiente e Condições de Trabalho (Nahas, 2009), pode servir como um instrumento educacional e motivacional a ser utilizado com adultos trabalhadores. O constructo “ambiente e condições de trabalho”, que se pretende avaliar com a escala, serve, também, como uma das dimensões no modelo de qualidade de vida do trabalhador.


- Maslach Burnout Inventory (MBI), MBI é um instrumento mais amplo, composto de cinco áreas referentes a dados demográficos, profissionais, características de cargo e satisfação laboral e Síndrome de burnout (MBI) de Maslach e Jackson (1986). De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), o que tem emergido de quase todos os estudos é a conceituação de burnout como uma síndrome psicossocial surgida como uma resposta crônica aos estressores interpessoais ocorridos na situação de trabalho.


- Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse’, a DASS-21 é uma escala de autorrelato, com três subescalas (depressão, ansiedade e estresse). A Depressão e Ansiedade são distúrbios emocionais muito frequentes atualmente, sendo o estresse cada vez mais apontado na literatura como fator de risco para esses estados. Acometem indivíduos de todas as classes sociais com grande prejuízo na esfera social (Vignola, 2013).


- Índice de capacidade para o trabalho (ICT) é um instrumento que avalia a percepção do trabalhador em relação ao quão bem está, ou estará, neste momento ou num futuro próximo, e quão bem ele pode executar seu trabalho, em função das exigências, de seu estado de saúde e capacidades físicas e mentais (Martinez, 2009).


Observa-se que em um programa de apoio à saúde do servidor público, os agentes possuem uma gama muito diversa de atuação e características de funções laborais, como a de médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, motoristas, operadores de maquinas pesadas, agentes de serviços operacionais, dentre outros. Desse modo, o programa em seus aspectos avaliativos, necessita prever instrumentos específicos para cada grupo profissional.


Para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados, é imprescindível que se forneça aos servidores, um documento detalhando destacando os objetivos do estudo, a confidencialidade dos dados, a natureza voluntária da participação, assim como os potenciais riscos e benefícios envolvidos.


  • Sessões integradas de intervenção, tem como objetivo potencializar habilidades e estratégias de atuação nas dimensões física, emocional, cognitiva/mental e espiritual, enfocando os objetivos pessoais e profissionais, com abordagem multiprofissional e integrada das áreas da Psicologia, Fisioterapia, Nutrição, Fonoaudiologia, Médica, Educação Física, bem como a integração de outras Terapias que possam contribuir na promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida dos servidores.


Sugere-se que desenvolvimento das sessões de intervenção sia um plano interventivo estruturado, iniciando com a explanação de bases conceituais e a implementação de recursos e estratégias de enfrentamento para promover o bem-estar e prevenir mal-estar/burnout, tanto no âmbito individual quanto coletivo.


  • Acompanhamento processual avaliativo, necessário com a finalidade de mitigar os eventuais desajustes e prevenir possíveis desvios objetivados no plano de formação e intervenção.


Essa dinâmica exige o monitoramento constante das ações das intervenções, sendo necessária o desenvolvimento e a disponibilidade de canais de comunicação e manutenção das ações num plano continuado e de acordo com a projeto de intervenção. Do mesmo modo, essas medidas de acompanhamento, podem servir para realizar ajustes precisos e reorientar as ações, rumo ao pleno desenvolvimento dos objetivos propostos.


  • Pós avaliação da saúde, deve focar nas variáveis de saúde avaliadas na pré-avaliação, a fim de comparar dados, analisar ganhos e avanços e propor ações complementares, ajustadas às demandas. Do mesmo modo, deve abarcar a proposição de estratégias institucionais para o desenvolvimento contínuo de futuras intervenções.


A implementação bem-sucedida de programas de saúde aos servidores públicos requer estratégias que assegurem a continuidade ao longo de toda a carreira do servidor público. Experiências passadas demonstraram que a interrupção ou desistência dos programas pode comprometer os resultados positivos alcançados (Sampaio, 2008;2009).


Parece razoável supor, que um programa efetivo de desenvolvimento da saúde do servidor público, deveria ser sustentado pelo princípio da voluntariedade e alicerçado na integração de pelo menos dois sistemas influenciadores, o social e o pedagógico; incluindo blocos informativos e cognitivos (crescimento de indicadores de atitude em relação aos componentes de um estilo de vida saudável), de diagnóstico precoce de transtornos mentais e/ou psicológicos, terapia psicoprofilática (conhecimento e autocontrole atitudinal), recreação e lazer.


O envolvimento criativo dos servidores nas atividades voltadas para a saúde psicofísica não apenas promove atitudes valiosas em relação a um estilo de vida saudável, mas também revela e potencializa aspectos pessoais muitas vezes não explorados. Ao integrar criatividade na busca pelo bem-estar, podem experimentar benefícios duradouros em sua saúde e qualidade de vida.


As considerações apresentadas sugerem que a implementação de programas de saúde aos servidores públicos proporciona uma prática eficaz das principais disposições atitudinais e de valores em relação a um estilo de vida saudável. Ao enfocar atividades criativas, integração de aspectos físicos e mentais, conscientização, desenvolvimento de habilidades de gestão de estresse e promoção da resiliência, esses programas não apenas abordam as necessidades de saúde, mas também influenciam positivamente as atitudes dos servidores em relação ao autocuidado e ao bem-estar (Sampaio 2008; 2009).

 

5. RECOMENDAÇÕES DE APOIO E ASSISTÊNCIA PSICOFÍSICA PARA SERVIDORES PÚBLICOS

 

Baseando-me nas orientações identificadas em estudos pregressos e nas melhores práticas em saúde mental e bem-estar, aqui estão recomendações gerais para a composição e o conteúdo de programas de apoio e assistência psicofísica destinados a servidores públicos, lembrando que a flexibilidade e a adaptação contínua são essenciais para garantir que os programas atendam às necessidades específicas dos servidores e sejam eficazes ao longo do tempo:


1)         Organização de unidades de saúde para servidores, visando a assistência que inclua o gerenciamento da realização de exames preventivos de saúde física e mental, com a implementação de medidas corretivas para superar os efeitos negativos de estresse agudo e crônico, conjuntamente com a oferta de programas para promover um estilo de vida ativo e saudável, bem como para reduzir o grau de desenvolvimento de fadiga crônica e exaustão emocional. Essas unidades de saúde poderiam ser projetadas para atender às necessidades específicas dos servidores, reconhecendo os desafios únicos que enfrentam em seu ambiente de trabalho. Ao adotar uma abordagem holística, que inclui aspectos físicos e mentais da saúde, essa iniciativa busca promover o bem-estar integral dos servidores.


2)         A celebração de acordos entre instituições de ensino superior e instituições médicas, sejam públicas ou privadas, é uma alternativa prática e eficiente na impossibilidade de criar unidades de saúde próprias. Essa colaboração pode proporcionar acesso a serviços médicos abrangentes e especializados para os servidores.


3)         A implementação de um sistema de autoavaliação periódica dos servidores em relação à sua própria saúde é uma estratégia positiva para promover o bem-estar e identificar precocemente possíveis desafios. A inclusão de programas assistenciais para abordar os aspectos negativos salientados pode ser uma abordagem proativa e preventiva. A combinação de autoavaliação, programas de assistência personalizados e a oferta de recursos específicos pode contribuir significativamente para a promoção de uma cultura de autocuidado e bem-estar no ambiente de trabalho.


4)          Os estágios identificados de desenvolvimento e manifestação de estresse na atividade laboral podem ser usados como base para o sistema de recomendações sobre prevenção e correção de manifestações de estresse. Esse sistema de recomendações deve ser implementado dentro da estrutura que destaca diferentes aspectos da orientação em diferentes estágios do desenvolvimento profissional.


5)         Investir no treinamento de técnicas superativas do estresse no treinamento continuado de servidores, possibilitando estabelecer uma imagem da profissão realista, alcançável e sustentável. A intensificação da atividade laboral e o acúmulo com outras demandas de atividades extensivas, constitui algumas das razões para o desenvolvimento do estresse pronunciados, fadiga aguda e sinais de exaustão mental, podendo ser previamente identificado e neutralizado.


6)          A incorporação de ferramentas psicoterápicas pode ser uma abordagem valiosa para apoiar servidores na gestão de tensões, conflitos, ansiedade, medos e depressão, promovendo, assim, a satisfação no trabalho. É importante adaptar as ferramentas escolhidas de acordo com as necessidades individuais dos servidores.


7)         Propiciar espaços de formação no sentido de promover processos de proteção da pessoa, como a resiliência, através de vínculos significativos, aptidões pessoais, assertividade, espiritualidade e sentido de vida.


8)         Formação com equipe multiprofissional em áreas afetas à saúde com direcionamento de ações formativas e interventivas, a partir do levantamento de dados integrados do quadro geral de saúde dos servidores.


9)         Avaliação de variáveis de saúde dos servidores em diversos domínios se constitui em um grande desafio para o conhecimento e identificação de fatores de risco para a correta, gestão, monitoramento e reavaliação da saúde.

 

6. CONCLUSÕES

 

Este artigo destaca a importância da preservação do interesse pelo que está acontecendo como a força motriz que garante o envolvimento pessoal dos servidores em suas atividades profissionais. O que descrevemos parece ser um retrato das pressões e desafios enfrentados no exercício de seu ofício. Examina como a capacidade de adaptação às intercorrências cotidianas laborais pode afetar a saúde e o bem-estar de diferentes grupos de servidores com diferentes magnitudes.


Ao abordar as lacunas identificadas no conhecimento e na prática atual, este estudo busca oferecer perspectivas práticas e contribuir para o debate sobre o bem-estar e a saúde de servidores públicos na esfera municipal. Ao fomentar um ambiente de trabalho favorável e sustentável para os servidores, programas de apoio à sua saúde podem não apenas melhorar os resultados individuais em termos de saúde, mas também promover o sucesso institucional e a excelência nos serviços prestados.


Em última análise, investir no bem-estar dos servidores públicos é crucial para cultivar um impacto positivo na comunidade em geral e assegurar um sistema laboral resiliente e eficaz.

 

7. REFERÊNCIAS

 

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Como citar esse artigo:


EPAMINONDAS, Ana Karoline Rodrigues; SANTOS, Antonia Adriana Delamarque dos; BRILHANTE, Cássia; DUARTE, Inês Gabrielly Sousa; MOREIRA, Maíra de Castro; CONCEIÇÃO, Natalia da; ALENCAR, Pedro Henrique Rodrigues. A humanização no atendimento de pacientes em Unidade de Terapia Intensiva (UTI): perspectivas e desafios da enfermagem. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.3, n.1, 2025; p. 225-240-. ISSN 2965976-0 | D.O.I.:



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