THE BASIC CONCEPTS, THE HISTORICAL-SOCIAL CONTEXT BEFORE AND DURING THE PROCESS OF PSYCHOMOTRICITY IN THE WORLD AND IN BRAZIL, AND THE APPROACH OF PSYCHOMOTOR EDUCATION
Informações Básicas
Revista Qualyacademics v.2, n.5
ISSN: 2965-9760
Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).
Estudo realizado em 2023
Categoria: Estudo de Revisão
Como citar esse material:
NASCIMENTO, Maycon Morais do. Os conceitos básicos, o contexto histórico-social antes e durante o processo da psicomotricidade no mundo e no Brasil e a abordagem da educação psicomotora. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.5, 2024; p. 222-246. ISSN 2965-9760 | D.O.I.:
Autor:
Maycon Morais do Nascimento
Especialista em Psicomotricidade pela UNINTER Contato: mike44883060@gmail.com
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RESUMO
O artigo examina a psicomotricidade como um conceito essencial para a formação de educadores comprometidos com a inclusão e igualdade de oportunidades. O objetivo é investigar a história e os conceitos básicos da psicomotricidade, destacando sua importância para a educação inclusiva. Metodologicamente, a pesquisa foi fundamentada em revisão bibliográfica, utilizando referências de teóricos renomados e documentos históricos para explorar a evolução da psicomotricidade e suas aplicações pedagógicas. Justifica-se pela necessidade de profissionais melhor preparados para criar um ambiente educativo que promova a convivência harmoniosa e o desenvolvimento integral dos alunos, atendendo a suas necessidades físicas, emocionais e cognitivas. Os resultados mostram que a psicomotricidade vai além da motricidade simples, pois promove a interação entre corpo, mente e emoções, sendo fundamental para a criação de práticas pedagógicas que favoreçam o aprendizado inclusivo. As conclusões indicam que a incorporação da psicomotricidade nas escolas proporciona um ambiente adaptado e acolhedor, fortalecendo a construção de habilidades sociais e cognitivas desde a educação infantil.
Palavras-chave: Psicomotricidade; inclusão; desenvolvimento integral; educação infantil; habilidades sociais; práticas pedagógicas.
ABSTRACT
The article examines psychomotricity as an essential concept for the training of educators committed to inclusion and equal opportunities. The objective is to investigate the history and basic concepts of psychomotricity, highlighting its importance for inclusive education. Methodologically, the research is based on a bibliographic review, using references from renowned theorists and historical documents to explore the evolution of psychomotricity and its pedagogical applications. This study is justified by the need for better-prepared professionals to create an educational environment that promotes harmonious interaction and the integral development of students, addressing their physical, emotional, and cognitive needs. The results show that psychomotricity goes beyond simple motor skills, fostering the interaction between body, mind, and emotions, and is fundamental for creating pedagogical practices that encourage inclusive learning. The conclusions indicate that incorporating psychomotricity in schools provides an adapted and welcoming environment, strengthening the development of social and cognitive skills starting in early childhood education.
Keywords: Psychomotricity; inclusion; integral development; early childhood education; social skills; pedagogical practices.
1. INTRODUÇÃO
A psicomotricidade, tema central deste artigo, apresenta-se como um conceito inovador e multidimensional, que vai além da simples motricidade e atua na interação entre corpo, mente e emoções. Esse campo de estudo é crucial para a formação inicial e continuada de educadores que desejam lecionar com respeito, compreensão e aceitação das diferenças que cada aluno traz para a sala de aula. Wallon (1941) foi um dos pioneiros ao apontar a importância da integração entre as dimensões físicas e psicológicas na formação do indivíduo, destacando que o desenvolvimento humano é um processo integral que articula o físico, o psíquico e o social. Essa abordagem oferece subsídios para que educadores compreendam as múltiplas dimensões envolvidas no desenvolvimento das crianças e fortaleçam suas práticas pedagógicas, promovendo um ambiente de aprendizagem igualitário e inclusivo.
A psicomotricidade é também uma ferramenta essencial para fomentar a educação inclusiva, possibilitando que alunos com diferentes habilidades e necessidades sejam contemplados em um espaço democrático e adaptado. Segundo Le Boulch (1984), a psicomotricidade é uma abordagem pedagógica que permite à criança conhecer e desenvolver suas potencialidades físicas, sensoriais e cognitivas, facilitando a integração social e a participação ativa em seu ambiente. A educação psicomotora, nesse contexto, é vista como um meio de atender às necessidades individuais e coletivas dos alunos, garantindo que todos tenham iguais oportunidades de aprendizado e desenvolvimento. Essa abordagem é particularmente importante em escolas regulares, onde a diversidade é uma característica marcante.
A pesquisa sobre psicomotricidade e educação psicomotora inclui uma análise do contexto histórico-social, procurando entender como essa abordagem evoluiu e foi incorporada ao sistema educacional. Segundo Fonseca (1999), a psicomotricidade passou por diversas fases de conceituação e aplicação, desde sua origem em estudos de neurologia e psiquiatria até sua consolidação como uma área interdisciplinar voltada para a educação e o desenvolvimento humano. Estudar essa trajetória é fundamental para compreender como políticas públicas e documentos legais foram influenciados por essa prática e como ela se adapta para atender à inclusão escolar e social, garantindo um espaço educacional acolhedor para todos os estudantes.
A psicomotricidade, além de seu valor educacional, possui implicações na promoção da saúde mental e física dos alunos, permitindo que eles reconheçam seu corpo como um instrumento ativo de aprendizagem e interação com o meio. Ajuriaguerra (1980) enfatiza que a psicomotricidade é essencial para o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas de forma integrada, o que contribui para a formação de indivíduos autônomos e críticos. Dessa forma, a abordagem psicomotora não apenas favorece a inclusão, mas também proporciona uma educação transformadora, na qual o aluno é um sujeito ativo em seu processo de aprendizagem, capaz de explorar o ambiente ao seu redor e superar barreiras de forma lúdica e significativa.
Ao considerar a psicomotricidade como uma abordagem pedagógica inclusiva, o artigo explora os desafios e benefícios dessa prática no ambiente escolar. Le Boulch (1984) argumenta que a psicomotricidade permite criar espaços de aprendizagem onde o respeito às diferenças e a adaptação às necessidades individuais são valores fundamentais. Em um cenário onde as escolas buscam promover a equidade e combater a discriminação, a educação psicomotora surge como uma resposta eficaz para adaptar o ambiente escolar às demandas de uma sociedade plural e diversa, na qual todos os alunos têm o direito de aprender e se desenvolver sem preconceitos ou exclusões.
As políticas públicas têm papel essencial na efetivação da psicomotricidade nas escolas, proporcionando diretrizes e recursos para a formação de professores e a adequação das instituições às necessidades dos alunos. A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), por exemplo, destaca que as escolas inclusivas devem adaptar-se para responder às diferentes necessidades de aprendizagem, promovendo o acolhimento e a participação ativa de todos os estudantes. Essa política internacional inspirou o desenvolvimento de políticas nacionais no Brasil, como o Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê ações para a inclusão escolar e a valorização da diversidade.
Na busca pela construção de um ambiente inclusivo e democrático, a psicomotricidade contribui para a formação de práticas pedagógicas adaptadas, que respeitam o ritmo e as habilidades de cada aluno. Piaget (1976) destaca que a educação deve considerar o desenvolvimento cognitivo e motor de forma integrada, valorizando a autonomia e a capacidade de exploração do aluno. Nesse sentido, a psicomotricidade permite que o educador atue como um facilitador, promovendo atividades que desenvolvem tanto o físico quanto o intelectual, e assegurando que todos os estudantes tenham a oportunidade de expressar-se e aprender de acordo com suas potencialidades.
Outro aspecto importante abordado neste artigo é o impacto da psicomotricidade na formação da cidadania e na construção de um espaço educacional inclusivo, onde a cooperação e o respeito às diferenças são incentivados. Dupré (1964) argumenta que a psicomotricidade auxilia na criação de um ambiente onde o aluno se sente parte integrante do processo educativo, reforçando sua identidade e seu papel como cidadão ativo. Essa abordagem contribui para que os alunos desenvolvam uma compreensão mais profunda de si mesmos e do mundo ao seu redor, promovendo habilidades sociais e emocionais essenciais para a vida em comunidade.
A educação psicomotora, ao permitir que o aluno reconheça e explore seu corpo como um instrumento de aprendizado e expressão, proporciona experiências significativas que fortalecem a autoconfiança e a interação com o ambiente escolar. Segundo Guilmain (2000), o processo psicomotor envolve uma articulação entre o físico, o sensorial e o emocional, facilitando a adaptação do aluno ao espaço educacional e à convivência com seus colegas. Essas experiências são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais e para a construção de uma escola inclusiva, onde todos são estimulados a aprender e a superar barreiras.
Dessa forma, este artigo busca responder questões essenciais sobre a psicomotricidade e a educação psicomotora, explorando sua definição, seus fundamentos e seu papel na educação inclusiva. A análise de autores renomados como Wallon, Piaget, Fonseca e Le Boulch, bem como o exame de políticas públicas e documentos normativos, fornecem uma base sólida para entender a importância dessa abordagem no contexto escolar. A psicomotricidade se revela como uma prática educativa que integra corpo e mente, promovendo o desenvolvimento integral do aluno.
Ao compreender a evolução histórica e cultural da psicomotricidade, este trabalho destaca a necessidade de adaptação das práticas pedagógicas para a promoção de uma educação inclusiva e democrática. Esse processo de adaptação envolve não apenas a capacitação dos educadores, mas também a criação de espaços que respeitem e valorizem as diferenças individuais. A psicomotricidade, nesse contexto, assume um papel transformador, proporcionando uma educação que valoriza o ser humano em sua totalidade, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva e justa.
Por fim, este artigo ressalta que a psicomotricidade e a educação psicomotora são essenciais para a construção de um espaço educacional inclusivo, onde o aluno é incentivado a desenvolver suas capacidades e a interagir com o mundo ao seu redor.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS BÁSICOS DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA OU DA PSICOMOTRICIDADE
A princípio, antes de abordar os estudos sobre o contexto histórico-social da Psicomotricidade, é fundamental que o futuro docente compreenda a definição e distinção de alguns conceitos que envolvem essa abordagem inovadora. Entre eles, destacam-se a Psicomotricidade, a Educação Psicomotora, a inclusão e a Educação Especial, que, apesar de serem terminologias distintas, mantêm uma relação constante e se fortalecem mutuamente devido às práticas psicomotoras nos espaços educacionais. Essas práticas contribuem para o avanço da inclusão e da Educação Especial. Segundo Mantoan (2003), a inclusão é definida como a prática de acolher e ensinar a todos, sem deixar nenhuma criança fora do ensino comum.
Para Romeu Kazumi Sassaki, a Educação Inclusiva é
o processo que ocorre em escolas de qualquer nível preparadas para propiciar um ensino de qualidade a todos os alunos, independentemente de seus atributos pessoais, inteligências, estilos de aprendizagem e necessidades comuns ou especiais. A inclusão escolar é uma forma de inserção em que a escola comum tradicional é modificada para ser capaz de acolher qualquer aluno incondicionalmente e de propiciar-lhe uma educação de qualidade. Na inclusão, as pessoas com deficiência estudam na escola que frequentariam se não fossem deficientes (SASSAKI, 1998, p. 8).
Conforme Stainback (1999), a educação inclusiva consiste na prática de incorporar todos os alunos, independentemente de suas habilidades, deficiências, contexto socioeconômico ou cultural, em ambientes educacionais que estejam preparados para atender às suas diversas necessidades. Essa abordagem busca criar espaços de aprendizagem que respeitem e valorizem a diversidade, proporcionando condições para que cada estudante se desenvolva de forma plena. A inclusão, nesse sentido, vai além da mera presença física dos alunos nas salas de aula, pois exige um ambiente pedagógico adaptado, onde as particularidades de cada um são reconhecidas e atendidas, promovendo a equidade e o acesso a uma educação de qualidade para todos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial, a construção de uma escola inclusiva
implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político-pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogêneas. A escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade para todos, inclusive para os educandos com necessidades especiais (MEC/SEESP, 1998).
De acordo com o Ministério da Educação (MEC, 2004), a inclusão escolar
acolhe todas as pessoas, sem exceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. Portanto, a inclusão depende de mudança de valores da sociedade e da vivência de um novo paradigma que não se faz com simples recomendações técnicas, como se fossem receitas de bolo, mas com reflexões dos professores, direções, pais, alunos e comunidade (MEC, 2004).
A Declaração de Salamanca (1994) estabelece que o princípio central das escolas inclusivas é proporcionar uma educação em que todas as crianças possam aprender juntas, independentemente das dificuldades ou diferenças individuais que possam apresentar. Essa abordagem requer que as escolas reconheçam e respondam às necessidades diversas dos alunos, promovendo uma adaptação não só dos métodos de ensino, mas também dos currículos e das estruturas organizacionais. Para assegurar uma educação de qualidade para todos, as escolas devem adotar estratégias pedagógicas que respeitem diferentes estilos e ritmos de aprendizagem, integrando recursos específicos e fomentando parcerias com a comunidade. Além disso, a declaração enfatiza que crianças com necessidades educacionais especiais devem receber o suporte adicional necessário para que sua experiência educacional seja completa e eficaz, permitindo que participem plenamente do ambiente escolar em igualdade de condições com os demais alunos.
O termo "Educação Especial", segundo o Ministério da Educação e Cultura (MEC, 1990),
é uma modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, sendo parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagógico da unidade escolar, e tendo como público-alvo aqueles que possuem deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (MEC, 1990).
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (PNE, 2008) demonstra que a Educação Especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, desde a educação infantil até o ensino superior, oferecendo recursos, serviços e equipamentos específicos para atender às necessidades de indivíduos com deficiência, altas habilidades e transtornos globais de desenvolvimento.
Fonseca (1988) aponta que a psicomotricidade vai além da simples motricidade, sendo o resultado de uma relação entre a criança e o ambiente. Ele define a psicomotricidade como uma ciência transdisciplinar que estuda as interações entre o psiquismo e a motricidade. Fonseca (1988) explica que, etimologicamente, a palavra psicomotricidade origina-se do grego "psyqué" (alma/mente) e do verbo latino "moto" (mover frequentemente, agitar fortemente), referindo-se ao movimento corporal e sua intencionalidade.
Segundo o Instituto Neuro Saber (2023), a etimologia de "Psicomotricidade" provém do prefixo grego "psico" (psyché = alma, espírito), que se refere ao estudo da alma ou da mente humana, e da palavra "motriz", que está associada ao movimento realizado pelo ser humano. Para Le Boulch (1992), a psicomotricidade "se dá através de ações educativas de movimentos espontâneos e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo que contribui para a formação de sua personalidade. É uma prática pedagógica que visa contribuir para o desenvolvimento integral da criança no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo os aspectos físicos, mental, afetivo-emocional e sociocultural, buscando estar sempre condizente com a realidade dos educandos" (LE BOULCH, 1992).
2.2. CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL DA PSICOMOTRICIDADE NO MUNDO E NO BRASIL
Sobre os eventos, fatos e contextos histórico-sociais relacionados à Psicomotricidade, verifica-se que a implementação da educação psicomotora resultou de um longo processo histórico-cultural que deve ser estudado pelos futuros discentes. Para Fernandes (2001, p. 35), é essencial recorrer à história para compreender todas as práticas humanas desde a Antiguidade até os dias atuais.
Historicamente, é importante reconhecer que a motricidade humana tem suas origens na Pré-História, quando nossos ancestrais, ou hominídeos, estavam em processo evolutivo, desenvolvendo ações motoras e psíquicas para superar barreiras naturais e garantir a sobrevivência. Nesse contexto, o ser humano foi gradualmente superando os obstáculos impostos pela natureza, aprendendo e desenvolvendo ações e recursos culturais que utilizavam a motricidade e o psiquismo como instrumentos de subsistência e evolução.
Na Idade Antiga (aproximadamente 4000 a.C. a 476 d.C.), marcada pelo surgimento das primeiras formas de escrita e sociedades complexas, a educação em cidades-estado autônomas como Esparta valorizava a construção de um corpo forte e ágil. No entanto, na Atenas Clássica, a ênfase era maior na mente humana, o que resultava em uma dissociação entre físico e mente (BRASIL ESCOLA, 2024). Platão, filósofo do período Clássico, defendia que corpo e alma não possuíam relações diretas, considerando o corpo como um elemento transitório e a alma como imortal e perfeita, conforme discutido por Fonseca (2003).
Levin (2003, p. 22) explica que
o corpo humano sempre foi valorizado, desde a Antiguidade, através do culto excessivo ao esplendor físico, com músculos bem desenvolvidos considerados sinal de masculinidade. O percurso histórico deste corpo simbólico está marcado pelas concepções que o homem construiu ao longo do tempo, com a palavra corpo originando-se do sânscrito garbhas (embrião), do grego karpós (fruto, semente, envoltura), e do latim corpus (estrutura física e envoltura da alma).
Para Aristóteles, discípulo de Platão, o exercício físico contribuía não apenas para o desenvolvimento do corpo, mas também para a mente, apontando uma relação estreita entre corpo e alma, onde o físico era moldado pelo espírito. Essa concepção introduz uma das primeiras visões de integração mente-corpo, que mais tarde influenciariam o desenvolvimento da Psicomotricidade.
Com o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média (476 d.C. – 1453), surgem novas visões impulsionadas pelo Cristianismo e pela ascensão da Igreja Católica, que valorizava o aspecto espiritual e minimizava a importância do corpo físico. A psicomotricidade nesse período foi amplamente influenciada pelos dogmas religiosos, que moldavam as práticas educacionais e sociais da época.
A Idade Moderna, que se inicia com a queda de Constantinopla em 1453, trouxe transformações políticas, econômicas e sociais que deram origem ao Renascimento, marcando o declínio do feudalismo e da hegemonia religiosa. Segundo Silva (1987), “entre os séculos XV e XVII, no mundo europeu cristão, ocorreu uma gradual e inquestionável mudança sócio-cultural, com o reconhecimento do valor humano, o avanço da ciência e a libertação de dogmas e crenças medievais”.
Nos séculos XVII e XVIII, o filósofo René Descartes contribuiu para o debate sobre corpo e mente, promovendo o dualismo cartesiano. Para Descartes, o corpo era uma substância extensa e material, enquanto a alma era pensante e independente, sustentando uma visão onde o corpo não influenciava o intelecto e vice-versa, o que contrastava com as ideias de integração defendidas posteriormente pela Psicomotricidade (LEVIN, 2003).
A Idade Contemporânea surge com a Revolução Francesa em 1789, trazendo mudanças profundas baseadas nos ideais iluministas. A palavra “Psicomotricidade” aparece pela primeira vez no discurso médico, no campo da neurologia, atribuída ao neurologista francês Ernest Dupré (1862–1921), que observou distúrbios neurológicos e psicomotores sem causa física evidente, dando origem ao termo “Psicomotricidade” em 1870. Dupré estudou as relações entre o corpo e a inteligência, iniciando pesquisas sobre transtornos psicomotores e estabelecendo uma abordagem neurológica para esses fenômenos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP, 2003),
o termo 'psicomotricidade' surge a partir do discurso médico, especialmente neurológico, no início do século XIX, quando foi necessário identificar áreas do córtex cerebral além das regiões motoras. Com os avanços em neurofisiologia, surgem disfunções graves sem lesão cerebral evidente, revelando distúrbios da atividade gestual e práxica. A necessidade de explicar fenômenos clínicos não atribuíveis a lesões motivou o uso do termo 'Psicomotricidade' em 1870, iniciando as primeiras pesquisas neurológicas na área (SBP, 2003).
De acordo com a SBP (2003), a Psicomotricidade teve sua introdução no Brasil por meio de influências de escolas francesas no século XX, particularmente no contexto da Primeira Guerra Mundial. Profissionais brasileiros que buscavam especialização em clínica infantil na França também passaram a estudar psicomotricidade com figuras de destaque, como o psiquiatra e professor Julian de Ajuriaguerra e, posteriormente, com seu seguidor, Bergès, no Hospital Henri-Rousselle, sob a orientação da terapeuta psicomotora Giselle B. Soubiran. Além disso, a psicomotricidade se expandiu no Brasil com a chegada de profissionais como François e Desobeau, que introduziram a prática para fins de terapia e reeducação. A fundação da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) em 1980, com o apoio de François e Désobeau, então presidente da Sociedade Internacional de Terapia Psicomotora, possibilitou a disseminação do conceito no Brasil, resultando em cursos de graduação e pós-graduação na área e promovendo encontros e congressos que reforçaram o campo da psicomotricidade no país.
Negrine (2002) destaca-se como uma das primeiras referências brasileiras na Psicomotricidade aplicada à Educação, tendo migrado de uma abordagem funcionalista para uma perspectiva relacional. Segundo ele, a atuação do professor deve sempre buscar estratégias que favoreçam a aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança, promovendo um ambiente educativo inclusivo e adaptado. Negrine relata que os primeiros trabalhos de psicomotricidade educacional no Brasil foram realizados nos anos 1970, influenciados por escolas francesas e professores de Educação Física que defendiam a inclusão da psicomotricidade como disciplina nos currículos de educação física e pedagogia, visando atender ao desenvolvimento motor e cognitivo das crianças.
Para Le Boulch (1982), cada fase de desenvolvimento infantil exige um tipo de aprendizagem específico, que deve ser estimulado para promover o desenvolvimento psicomotor e cognitivo da criança. Ele observa que a educação psicomotora é crucial para a alfabetização e a prevenção de dificuldades de aprendizagem, como problemas de concentração, confusão com letras e sílabas, e outras dificuldades relacionadas ao processo de aquisição da linguagem. Le Boulch afirma que atividades lúdicas como jogos de bingo, quebra-cabeças e atividades de alinhavo são recursos valiosos para o desenvolvimento psicomotor, ajudando a criança a consolidar habilidades motoras e intelectuais essenciais para o sucesso escolar.
Outro pioneiro na área, Henry Wallon, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da Psicomotricidade como prática terapêutica e educacional. Suas experiências com crianças com deficiência e sua atuação durante a Primeira Guerra Mundial em instituições psiquiátricas fundamentaram seus estudos sobre a relação entre o emocional, o físico e o psíquico no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Wallon defendia a ideia de que a aprendizagem é uma interação constante entre o organismo e o meio, envolvendo elementos como afetividade, movimento, pensamento e subjetividade, sendo essenciais para o desenvolvimento global da criança (Wallon, 1995).
Em 1935, Edouard Guilmain desenvolveu exames psicomotores com fins diagnósticos, terapêuticos e de prognóstico, abrindo novas perspectivas para o uso da psicomotricidade na saúde e na educação. Em 1947, Julian de Ajuriaguerra redefiniu o conceito de debilidade motora, distinguindo-a como uma síndrome com características próprias e delimitando claramente os transtornos psicomotores entre os campos neurológico e psiquiátrico. Ele também aproveitou os estudos de Wallon sobre tônus para explorar o "diálogo tônico" e, junto com Giselle Soubiran, abordou a relaxação psicotônica, enriquecendo o campo da psicomotricidade terapêutica.
A SBP (2003) enfatiza que foi apenas no século XX que a psicomotricidade passou a ser reconhecida como ciência. Eduard Guilmain, em 1935, contribuiu significativamente ao criar protocolos de exames para medir e diagnosticar transtornos psicomotores. A prática psicomotora visa o desenvolvimento integral do indivíduo, respeitando suas limitações e necessidades e trabalhando o físico, o cognitivo e o afetivo de forma integrada. A psicomotricidade é sustentada por três pilares fundamentais: o querer fazer (emocional), associado ao sistema límbico; o poder fazer (motor), ligado ao sistema reticular; e o saber fazer (cognitivo), relacionado ao córtex cerebral. A SBP ressalta que o equilíbrio entre esses três aspectos é essencial para um desenvolvimento saudável e, quando desestabilizado, pode resultar em dificuldades de aprendizagem (SBP, 2003).
Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, a psicomotricidade é definida como uma ciência dedicada ao estudo do ser humano por meio da interação entre o corpo em movimento e as relações que estabelece com seu mundo interno e externo. Essa abordagem analisa as múltiplas possibilidades que o indivíduo possui para perceber, agir e interagir com outras pessoas, objetos e consigo mesmo. A psicomotricidade envolve processos de maturação, em que o corpo é considerado a base para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais e fisiológicas. Nesse sentido, o corpo não é apenas um mecanismo físico, mas também um centro de aquisição de experiências afetivas e de construção de identidade, servindo como meio para a formação integral e harmoniosa das capacidades do indivíduo em suas diversas esferas de atuação.
Para Wallon (1995):
O movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, mas uma expressão de relação afetiva com o mundo. Para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas. O movimento está relacionado ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças (WALLON, 1995, p. 01).
Para Dupré, a motricidade está relacionada à inteligência. Wallon, Piaget e Ajuriaguerra aprofundaram seus estudos voltados para o campo do desenvolvimento. Ajuriaguerra consolidou as bases da evolução psicomotora, de forma mais específica para o corpo e sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na conscientização do seu corpo.
Essas contribuições avançaram significativamente para o conceito da psicomotricidade e as ações metodológicas para o desenvolvimento da aprendizagem, especialmente na aquisição da leitura e da escrita, resultando em uma abordagem pedagógica conhecida como Educação Psicomotora. Os intelectuais André Lapierre e Bernard Aucouturier são considerados os pais da abordagem da psicomotricidade relacional. Negrine (1995) comenta que a psicomotricidade passou por três períodos: continuador, inovador e de ruptura.
Segundo Negrine (1995),
o período continuador é caracterizado pela primeira vertente adotada pelos autores Lapierre e Aucouturier, onde as publicações da época expressavam a linha teórico-metodológica funcionalista, marcando a origem da psicomotricidade como campo de estudo e como prática pedagógica, onde as crianças eram submetidas a testes que avaliavam seu perfil psicomotor. Já no período inovador, ao contrário do que se acreditava no estágio anterior, o trabalho era desenvolvido com fundamento nas potencialidades dos alunos, unindo teoria e prática com bases relacionais, pois a psicomotricidade funcional não seria adequada quando se tratasse de educação ou reeducação (NEGRINE, 1995).
De acordo com Alves (2004):
A psicomotricidade tem como principal propósito melhorar ou normalizar o comportamento geral do indivíduo, promovendo um trabalho constante sobre as condutas motoras, através das quais o indivíduo toma consciência do seu corpo, desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global e fina e a respiração, bem como a organização das noções espaciais e temporais (ALVES, 2004).
2.3. ABORDAGEM E PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
A Educação Psicomotora, segundo Carvalho (1996), é uma abordagem inovadora e dinâmica que se estende além do conhecimento escolar tradicional e do desenvolvimento específico da motricidade. Ela visa à formação integral do indivíduo, envolvendo o desenvolvimento da personalidade, da expressão, da identidade e da organização, por meio de atividades humanas que envolvem relação, realização e criação. Essa educação busca compreender e promover o desenvolvimento do ser humano em aspectos corporais, motores, emocionais, intelectuais e sociais, oferecendo uma base sólida para o aprendizado e a convivência.
Oliveira (2002) descreve a Educação Psicomotora como uma prática pedagógica que contribui significativamente para o desenvolvimento da criança no processo de ensino-aprendizagem. Ela facilita o progresso nos aspectos físicos, mentais, emocionais e socioculturais, ajudando a criança a superar dificuldades e prevenir possíveis inadaptabilidades. Para Oliveira, a psicomotricidade na educação centra-se no estímulo às percepções corporais da criança e no esquema corporal, enfatizando que o movimento e o trabalho psíquico estão inter-relacionados.
Essa abordagem permite à criança aprender e se desenvolver por meio da exploração do próprio corpo e das relações com o "eu" e o "outro". Ao realizar ações motoras e psíquicas, a criança aprende a ouvir, interpretar, imaginar, organizar e representar, transformando suas tentativas e erros em experiências significativas. O desenvolvimento psicomotor é, assim, uma ferramenta essencial para a educação inclusiva e para o crescimento integral do aluno.
Na visão de Le Boulch (1983), a Educação Psicomotora é uma prática pedagógica que enfatiza a prevenção de dificuldades educacionais e a promoção de uma educação do corpo que visa ao desenvolvimento completo da pessoa. Ele acredita que a escola deve preparar seus alunos para a vida, utilizando métodos pedagógicos atualizados que ajudem a criança a desenvolver-se plenamente, contribuindo para sua integração social e formação pessoal. A psicomotricidade, assim, se coloca como uma base importante para uma vida saudável e equilibrada.
Alves (2008; 2012) complementa que o ser humano se constrói gradualmente, por meio de sua interação com o meio e suas próprias realizações. Nesse processo, a psicomotricidade desempenha um papel fundamental, pois o desenvolvimento intelectual e físico da criança evolui do geral para o específico. Ela enfatiza que a psicomotricidade trabalha os movimentos da criança, motivando sua capacidade sensitiva e perceptiva, promovendo uma organização das habilidades motoras, que permitem um aprendizado lúdico e efetivo, onde a própria identidade e o respeito aos espaços dos outros são valorizados.
Para Carvalho (2008), a Educação Psicomotora representa um projeto educativo abrangente que conecta o conhecimento à vida e oferece tanto a descoberta do mundo exterior quanto o autoconhecimento. A abordagem considera a personalidade, a expressão e a organização do indivíduo por meio de atividades de relacionamento, realização e criação, englobando os aspectos motores, emocionais e intelectuais em uma dialética que se baseia nos níveis orgânicos, sociais e psicológicos do ser humano. Isso permite um entendimento mais profundo da complexidade da formação humana.
Segundo Galvão (1993), a Educação Psicomotora está alinhada com a teoria psicogenética de Wallon, pois respeita a complexidade do ser humano e o compreende em sua multidimensionalidade psíquica, corporal e social. Essa abordagem busca superar dicotomias como corpo e mente, indivíduo e sociedade, razão e emoção, que ainda permeiam muitos pensamentos ocidentais, propondo uma perspectiva holística que valoriza a integração desses elementos.
Nossas pesquisas mais recentes (2024) sugerem que a Educação Psicomotora é uma prática pedagógica e social que, por meio do corpo e do movimento, promove o desenvolvimento das relações socioafetivas e da interação com o ambiente. Esse modelo educacional vê o corpo humano como um instrumento de aprendizado e desenvolvimento em interações físicas, emocionais e cognitivas, integrando o aprendizado lúdico e educativo para promover um desenvolvimento integral.
A Educação Psicomotora também se direciona à compreensão e desenvolvimento das interações físicas, mentais e emocionais que o ser humano realiza ao interagir com o ambiente e com outros indivíduos. Ela oferece uma visão inovadora e dinâmica que visa proporcionar um desenvolvimento integral da criança como sujeito ativo, utilizando atividades lúdicas e pedagógicas para estimular o autoconhecimento corporal e a percepção dos aspectos físicos, mentais e emocionais de forma articulada.
Além disso, essa abordagem inclui o universo cultural e as relações com o meio ambiente, onde a cognição surge como parte fundamental para a criança descobrir o mundo e produzir conhecimento. A Educação Psicomotora incentiva a manipulação, o contato, a exploração e até a desconstrução de objetos, permitindo que o aluno compreenda conceitos e habilidades de maneira prática e significativa.
Na perspectiva de Le Boulch (1982), a Educação Psicomotora envolve o desenvolvimento do esquema corporal, percepção espacial, coordenação motora e lateralidade. Ele argumenta que o movimento não é apenas físico, mas também um ato psíquico e afetivo, que contribui para a formação global da criança. Os movimentos realizados de forma lúdica permitem que as crianças desenvolvam habilidades motoras e intelectuais, essenciais para seu aprendizado e integração social.
Dessa maneira, a Educação Psicomotora se destaca como uma metodologia que não apenas trabalha o desenvolvimento físico e mental das crianças, mas também as ajuda a construir relações afetivas e sociais saudáveis. Com o apoio dessa abordagem, a criança pode desenvolver uma consciência corporal e emocional que favorece sua autonomia e autoexpressão em contextos sociais e escolares.
Assim, essa abordagem se revela uma ferramenta valiosa para a educação contemporânea, oferecendo recursos que ajudam os educadores a integrar as dimensões física, emocional e intelectual dos alunos, proporcionando um ambiente inclusivo e acolhedor.
De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade (SBP, 2003), a educação psicomotora é uma abordagem inovadora, caracterizada por seu caráter reeducacional, inclusivo, colaborativo, reflexivo e dinâmico. Ela oferece ao docente suporte pedagógico por meio de propostas lúdicas, direcionadas ao desenvolvimento integral das crianças, especialmente na educação infantil, mas aplicável também em outros níveis e modalidades de ensino. A educação psicomotora promove o estudo e a compreensão do corpo humano e suas relações com o ambiente, visando ao desenvolvimento das capacidades e habilidades em dimensões físicas, cognitivas e emocionais. Além disso, contribui para reduzir defasagens causadas por distúrbios, disfunções ou deficiências, facilitando o aprendizado e o desenvolvimento integral, especialmente para crianças com necessidades especiais, ao favorecer o acesso a experiências que facilitam a aquisição de competências essenciais.
Le Boulch (1983) destaca que a educação psicomotora estabelece uma base indispensável para todas as crianças, pois seu principal objetivo é assegurar o desenvolvimento funcional. Esse desenvolvimento possibilita à criança construir um entendimento do próprio corpo e explorar o mundo à sua volta, o que é essencial para uma aprendizagem sólida. Negrine (2002) acrescenta que a educação psicomotora proporciona um ambiente lúdico-educativo, no qual a criança pode se expressar por meio do jogo, do exercício físico e da comunicação motora com outras crianças. Esses elementos criam um espaço favorável para o desenvolvimento das habilidades motoras e sociais, tão importantes no processo educativo.
Conforme a SBP (2003), os docentes podem utilizar a educação psicomotora para estimular a construção de habilidades sensoriais, perceptivas e motoras, além de capacidades cognitivas. Jogos simbólicos e brincadeiras são recursos fundamentais nesse contexto, pois promovem vivências corporais, consciência do corpo e aprendizagem motora, cognitiva e socioafetiva. Através dessas atividades lúdicas, é possível amenizar dificuldades ou transtornos de aprendizagem que surgem por fatores internos e externos, proporcionando uma base para o desenvolvimento integral da criança.
Na perspectiva psicomotora, a criança passa por diferentes fases de desenvolvimento nas quais são organizadas e aprendidas diversas habilidades psicomotoras, conforme os estímulos recebidos do ambiente. Durante essas fases, ocorrem o desenvolvimento de esquemas sensório-motores, percepções e funções cognitivas, fundamentais para um crescimento equilibrado. A estimulação psicomotora, com foco em atividades lúdicas e no enfrentamento de desafios, ajuda a criança a aprender de forma integrada, estimulando a superação de dificuldades e contribuindo para um processo inclusivo, ampliando as oportunidades educacionais e atendendo às necessidades individuais.
A educação psicomotora enfatiza a importância da estimulação precoce como base para o desenvolvimento pleno da criança. Essa prática defende que, desde cedo, a criança deve ser inserida em um ambiente rico em estímulos, interações e experiências sociais e afetivas, que promovam o fortalecimento de sua personalidade e a construção de relações interpessoais saudáveis. A estimulação precoce visa potencializar as funções cerebrais da criança, beneficiando todos os aspectos de seu desenvolvimento: cognitivo, motor e socioafetivo.
Segundo a SBP (2003), o uso de jogos simbólicos e brincadeiras na educação psicomotora possibilita o desenvolvimento de habilidades fundamentais como postura, lateralidade, equilíbrio, esquema corporal, temporalidade e estruturação espaço-temporal. Essas atividades também promovem a interação social, a autonomia, a capacidade de resolver problemas e o entendimento do ambiente, tornando-se essenciais para o desenvolvimento integral da criança.
A reeducação psicomotora é uma das abordagens terapêuticas utilizadas na educação psicomotora para crianças que apresentam defasagens, transtornos ou atrasos no desenvolvimento. Nesse caso, um acompanhamento interventivo específico é necessário para trabalhar as habilidades que causam dificuldades. A estimulação adequada deve ser abrangente, envolvendo aspectos sensoriais, motores, cognitivos e afetivos, e buscando atender às necessidades individuais de cada criança.
A educação psicomotora valoriza a relação que a criança estabelece com o próprio corpo, integrando aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e culturais que constituem o sujeito. Essa abordagem propõe que o desenvolvimento de habilidades psicomotoras seja estimulado desde cedo, promovendo um desenvolvimento saudável e possibilitando avanços na aquisição de habilidades sociais e linguísticas, além de apoiar o processo de aprendizagem e reduzir defasagens.
Além disso, a educação psicomotora desempenha um papel crucial no processo inclusivo, atendendo às necessidades especiais dos alunos e proporcionando um ambiente adaptado para que todos possam aprender e se desenvolver de maneira equitativa. A SBP (2003) defende que o ato de brincar é essencial para o aprendizado e desenvolvimento da criança, pois o brincar oferece uma oportunidade para a expressão, o crescimento e o fortalecimento das habilidades motoras, cognitivas e emocionais.
Por meio do brincar, a criança se envolve ativamente nas atividades psicomotoras, enriquecendo suas habilidades sensoriais, expressivas, gestuais, físicas, emocionais e cognitivas. Essa prática não apenas promove o desenvolvimento de habilidades específicas, mas também facilita a integração de várias áreas do desenvolvimento, possibilitando uma formação mais completa e integrada.
A SBP (2003) também destaca que os jogos e brincadeiras são essenciais para que a criança se expresse, aprenda e se desenvolva em todas as áreas. Ao participar dessas atividades, ela constrói e organiza suas habilidades, capacidades e estruturas sensoriais, afetivas, emocionais e cognitivas, preparando-se para interações mais complexas e significativas com o ambiente e com outras pessoas.
Dessa forma, a educação psicomotora torna-se uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento integral da criança, oferecendo recursos pedagógicos que promovem o aprendizado, a expressão e a integração de múltiplas dimensões do desenvolvimento humano. A abordagem enfatiza que, ao explorar e manipular o ambiente, a criança fortalece não só suas capacidades motoras e cognitivas, mas também suas habilidades sociais, afetivas e culturais, fundamentais para uma educação inclusiva e transformadora.
Segundo a SBP (2003), o desenvolvimento psicomotor evolui de forma progressiva, do global para o específico. No decorrer do processo de aprendizagem, algumas habilidades psicomotoras (sistema postural, esquema corporal, estruturação espaço-temporal e lateralidade) são frequentemente utilizadas, sendo essenciais para que a criança associe noções de tempo e espaço, conceitos e ideias, adquirindo conhecimentos. Quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, isso pode estar relacionado a uma defasagem no desenvolvimento psicomotor, o que compromete sua aprendizagem e gera desconforto tanto para ela quanto para a família. No entanto, ao adquirir um bom desenvolvimento dessas habilidades, a criança pode avançar de maneira significativa no seu processo de aprendizagem.
De acordo com Fonseca (1987):
Antes de uma criança iniciar as aprendizagens formais (escrita, leitura, cálculo…), é fundamental que o seu corpo esteja bem organizado e estruturado em termos psicomotores, pois uma criança que não consegue organizar seu corpo no espaço e no tempo dificilmente conseguirá se sentar adequadamente numa cadeira por um longo tempo, concentrar-se, pegar corretamente no lápis e reproduzir no papel o que tenha elaborado em seu pensamento. Assim, com um bom desenvolvimento psicomotor, as crianças podem adquirir as capacidades básicas para a aprendizagem escolar (FONSECA, 1987).
A Educação Psicomotora se divide atualmente em dois eixos: a Psicomotricidade Funcional e a Psicomotricidade Relacional. Segundo nossas pesquisas (2024), com base em artigos e livros científicos, a Psicomotricidade Funcional na educação implica que a criança depende das escolhas feitas pelo profissional e possui pouco contato corporal. As atividades são dirigidas pelo psicomotricista, em um enfoque dualista, com foco em exercícios e atividades centradas no indivíduo. Essa visão trabalha mais individualmente as habilidades e limitações de cada criança.
Segundo Negrine (2002):
O enfoque da psicomotricidade funcional prioriza o gesto técnico e o exercício analítico como ferramenta pedagógica para fazer com que a criança adquira certas competências motrizes. Baseia-se na organização e aplicação de exercícios que trabalham mecanicamente o aprimoramento dos movimentos, lapidando-os de acordo com padrões de desenvolvimento para cada faixa etária. Utilizam-se baterias de atividades para mensurar o nível de desenvolvimento dos indivíduos (NEGRINE, 2002).
Conforme Almeida (2004), na perspectiva funcional, o psicomotricista é um profissional que atua na interseção entre saúde e educação, desempenhando um papel essencial não apenas no tratamento, mas também na prevenção e apoio ao desenvolvimento humano. Ele se dedica à investigação e intervenção em processos de aquisição e desenvolvimento psicomotor, além de tratar distúrbios que afetam a integração entre o corpo e a mente, conhecidos como distúrbios somato-psíquicos. Essa abordagem considera o indivíduo de forma integral, trabalhando com a relação corpo-mente para promover o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e emocionais, fundamentais para o bem-estar e a funcionalidade do sujeito.
Rosa Neto (2002) complementa essa visão ao destacar que a abordagem funcional na psicomotricidade tem se concentrado amplamente na detecção, análise e reeducação de diversas dimensões da experiência humana. Pesquisadores utilizam uma série de testes como ferramentas para diagnosticar e compreender o nível de desenvolvimento psicomotor dos indivíduos. As sessões de reeducação psicomotora são organizadas em ciclos de atividades cuidadosamente planejadas, com o objetivo de aprimorar habilidades motoras específicas. Essas atividades seguem uma sequência estruturada, visando desenvolver competências psicomotoras por meio de um treinamento gradual e orientado, que permite ao sujeito alcançar maior controle e coordenação em suas habilidades motoras, ajustando-se progressivamente às demandas do ambiente.
Ainda conforme nossas pesquisas (2023), na Educação Psicomotora Funcional, o brincar é livre, buscando prazer no movimento e promovendo o contato corporal e a interação com outros profissionais envolvidos com a criança. Essa perspectiva cria novas oportunidades para o desenvolvimento de habilidades e oferece convivência em grupo, desenvolvendo o respeito, a cooperação e a interação social.
Negrine (2002), ao abordar a Psicomotricidade Relacional, explica que:
utilizar uma prática pedagógica pela via corporal não significa apenas treinar a criança para adquirir novas habilidades motrizes que vão permitir a ampliação do vocabulário psicomotor, mas, antes de tudo, significa estabelecer uma série de estratégias de ação que permitam à criança se expressar por meio de diferentes vocabulários (linguístico, gestual, motriz, etc.). O profissional deve ter sensibilidade para saber quando intervir ou observar, identificando os momentos propícios para interagir e quando apenas acompanhar as situações (NEGRINE, 2002).
Conforme a SBP (2003), na visão psicomotora relacional, o corpo é o principal recurso para o conhecimento e a integração do aluno com o ambiente e com os demais. Essa abordagem permite a exploração de diferentes espaços, materiais e personagens. O papel do psicomotricista é criar um ambiente seguro para que a criança possa experimentar, produzir e vivenciar múltiplas situações, superando desafios e atendendo às suas necessidades específicas.
Durante a prática relacional, a sessão se divide em três etapas: o rito de entrada, a sessão propriamente dita e o rito de saída. No rito de entrada, todos os participantes se reúnem em círculo, onde são verbalizadas as regras e explicado o que podem fazer e utilizar, promovendo apresentações iniciais para facilitar a interação. No final, é informado pelo facilitador como a sessão será encerrada.
Na sessão propriamente dita, as crianças têm liberdade para explorar e interagir dentro dos limites de espaço e comportamento já definidos. As interferências do psicomotricista são mínimas e ocorrem apenas quando necessário, como para incentivar uma nova brincadeira ou dar um estímulo extra.
O rito de saída oferece uma oportunidade para as crianças verbalizarem sobre as atividades realizadas, incluindo o que mais gostaram e com quem interagiram, fornecendo um feedback valioso para o psicomotricista.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicomotricidade evoluiu ao longo de um processo histórico significativo, onde pessoas com dificuldades ou transtornos de aprendizagem e deficiências, seus familiares, psicomotricistas e profissionais especializados desempenharam um papel fundamental. Esse desenvolvimento histórico inclui estudos, investigações, vivências e debates que moldaram essa prática, abordando as demandas e movimentos sociais e culturais que colaboraram para estabelecer a Educação Psicomotora como uma abordagem inovadora. Esta prática visa garantir que as necessidades de pessoas com dificuldades ou deficiências sejam atendidas, promovendo a inclusão, mitigando dificuldades e desenvolvendo habilidades psicomotoras essenciais.
Além disso, observa-se que, embora persistam desafios e barreiras para a implementação plena da Educação Psicomotora e para atender às necessidades das pessoas com deficiência, importantes avanços ocorreram nas décadas de 1970 e 1980. Esses períodos foram cruciais para introduzir o tema na educação, reforçando o compromisso com a formação cidadã e a humanização. A Psicomotricidade, ao apoiar a inclusão, fomenta o respeito à diversidade e promove a formação de cidadãos ativos, críticos e transformadores de suas realidades sociais.
A abordagem psicomotora contribui diretamente para a formação continuada de professores e para a identidade pedagógica de docentes, sendo essencial para a construção de políticas públicas voltadas à aprendizagem inclusiva. Com uma perspectiva psicomotora, é possível criar e adaptar ações, metas e estratégias que favoreçam a acessibilidade e proporcionem uma aprendizagem significativa a todos os alunos. Nessa visão, o professor assume um papel reflexivo, dinâmico e inovador, adaptando suas metodologias para que todos os alunos possam acessar e conviver em um espaço inclusivo e respeitoso.
Além disso, os estudos sobre Psicomotricidade reforçam a importância de práticas pedagógicas diversificadas e lúdicas, que ofereçam acolhimento e inovação, proporcionando a todos os alunos uma aprendizagem significativa e o desenvolvimento integral. O professor, em vez de ser apenas um transmissor de conteúdo, torna-se um facilitador e mediador do conhecimento, ajustando constantemente suas estratégias para atender a todos os estudantes, abordando o corpo em suas múltiplas dimensões e combatendo as barreiras que possam impedir o aprendizado.
Assim, conclui-se que a Psicomotricidade não é apenas uma ferramenta de ensino, mas uma abordagem transformadora para a educação inclusiva, que permite ao professor criar um ambiente de aprendizado onde todos os alunos possam desenvolver-se de forma plena, respeitando suas individualidades e superando as deficiências e dificuldades de aprendizado.
3.1. SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
Para aprofundar e expandir o conhecimento sobre Psicomotricidade e Educação Psicomotora, estudos futuros poderiam explorar o impacto dessa abordagem em diferentes contextos educacionais, incluindo a educação básica e o ensino médio. Além disso, investigações sobre a integração de tecnologias assistivas em práticas psicomotoras e a adaptação de metodologias psicomotoras em ambientes virtuais ou híbridos podem revelar novas formas de inclusão.
Outros temas relevantes incluem a análise de programas de formação docente focados em Psicomotricidade, investigando o impacto dessas capacitações na prática educativa e na eficácia da educação inclusiva. Pesquisas sobre o papel das famílias e a colaboração interdisciplinar entre profissionais da saúde e educação também podem oferecer insights valiosos, promovendo uma visão mais abrangente sobre o desenvolvimento psicomotor e o processo de inclusão escolar.
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