MUSIC EDUCATION IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION
Como citar esse artigo:
LEÃO, Maria Dalva Barbosa da Silva; SOUSA, Gleiciane Andrade de; CUNHA, Eucilene Gonzalez Pantoja da. Musicalização na educação infantil. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 547-562. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.033
Autores:
Maria Dalva Barbosa da Silva Leão
Graduada em normal superior pela Faculdade FAEL e Pós-graduada em psicopedagogia pela Universidade UNASP. – Contato: mariadalvaleao65@gmail.com
Gleiciane Andrade de Sousa
Licenciado em pedagogia pela UFPA-Universidade Federal UNAMA, pós-graduado em Educação Infantil pela UNOPAR
Eucilene Gonzalez Pantoja da Cunha
Licenciatura Plena em Pedagogia - UEPA - Universidade do Estado do Pará, Pós-graduada em Educação Infantil - Universidade Pitágoras Unopar.
Baixe o artigo completo em PDF
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo abordar sobre a musicalização na educação infantil, considerando-se a importância da música como parte da cultura e, portanto, como conhecimento a ser trabalhado no contexto da educação infantil. Para tanto, será realizado uma pesquisa bibliográfica. do papel da música na educação, não apenas como experiência estética, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, e também ampliando o conhecimento musical do aluno, afinal a música é um bem cultural e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos. Sugere que a escola de educação infantil deve oportunizar a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico através da musicalização.
Palavras-chave: Musicalização; Educação infantil; Música.
ABSTRACT
This paper aims to address music education in early childhood education, considering the importance of music as part of culture and, therefore, as knowledge to be incorporated into the early childhood education context. To achieve this, a literature review will be conducted on the role of music in education, not only as an aesthetic experience but also as a facilitator of the learning process. Music serves as a tool to make the school environment more joyful and welcoming, and it also expands the student's musical knowledge, since music is a cultural asset, and its understanding should not be the privilege of a few. It suggests that early childhood education schools should provide opportunities for exposure to different genres, introducing new styles, and enabling reflective analysis of what is presented, allowing students to become more critical through music education.
Keywords: Music Education; Early Childhood Education; Music.
1. INTRODUÇÃO
A arte da musicalidade se faz presente em todas as manifestações sociais e pessoais do ser humano desde os primórdios. Antes mesmo da descoberta do fogo, o homem já se comunicava através de gestos e sons rítmicos. Da China ao Egito, passando pela Índia e a Mesopotâmia, os povos atribuem poderes mágicos à música, sendo que essa linguagem musical antecede até mesmo a fala. A música é uma linguagem universal, estando presente em todos os povos, independentemente do tempo e do espaço em que se localizam.
A música sempre esteve presente em todas as culturas, sendo fundamental na formação da criança para que ela, ao se tornar adulta, atinja sua maioridade intelectual e exerça sua criatividade de maneira crítica e livre. O filósofo grego Platão, na República, corrobora com essa afirmação ao colocar a música (e também a dança) como disciplina fundamental na formação do corpo e da alma, isto é, do caráter das crianças e dos adolescentes (BANOL, 1993, p. 57).
No contexto contemporâneo com o surgimento e o desenvolvimento da psicologia e as suas consequentes descobertas, a pedagogia pôde contar com novas técnicas e instrumentos para trabalhar o processo de ensino-aprendizagem. Diversas atividades lúdicas vieram então contribuir para a educação infantil. A música ganha ainda mais importância por ser universal e por arrebatar não só as crianças, mas também os adolescentes e os adultos.
É importante o estudo da música na educação infantil se concretiza interagindo com as outras disciplinas do currículo, como, por exemplo, a matemática (a própria escala musical é matematizada).
Aliar a música à educação também obriga o professor a assumir uma postura mais dinâmica e interativa junto ao aluno. Assim, o processo de aprendizagem se torna mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste último para a exploração e descoberta, quando o tédio e a monotonia se tornarem ausentes das escolas, quando o professor, além das aulas expositivas e centralizadoras, possa propiciar experiências diversas com seus alunos, facilitando assim a aprendizagem., nas sereis iniciais se o Professor não procurar referenciais metodológicos condizente coma faixa etária, terão mais dificuldades de trabalhar com seus alunos.
O presente trabalho tem por objetivo abordar a importância da música para a formação da criança. Isso vale tanto para as atividades escolares quanto para todas as outras atividades desenvolvidas para e com a criança.
Neste trabalho será utilizado o método hipotético-dedutivo (Pesquisa Bibliográfica), onde as conclusões sendo verdadeiras, as hipóteses serão comprovadas. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica, de método monográfico, com total auxílio de livros, textos e trabalhos que tratam do tema, onde as informações colhidas poderão dar subsídios no sentido de se orientar os trabalhos que serão desenvolvidos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. A MÚSICA NA ESCOLA
2.1.1. O Ensino De Musicalização Na Educação Infantil
Ao longo da história humana, inúmeros os filósofos, psicólogos, pedagogos, enfim, pensadores de todas as vertentes do conhecimento e até pessoas comuns teorizaram, escreveram ou falaram da importância da música para a humanidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, praticamente todos os filósofos postularam sobre o papel da música no Universo e na formação do homem. Pitágoras de Samos, um dos filósofos dessa época, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. Segundo Bréscia, "Pitágoras demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar os padrões de comportamento e acelerar o processo de cura" (BRÉSCIA, 2003, p. 31).
Os filósofos pré-socráticos davam tanta importância à música que muitos a viam como o elemento que dava ordem ao Universo, que harmonizava o caos inicial do qual o mundo foi originado. É a nessa época histórica que a música é relacionada com a matemática pela primeira vez (BRÉSCIA, 2003, p. 31).
A música, no entanto, antecede à Antiguidade Clássica. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música passou a ser utilizada também em louvor a líderes, como as executadas nas procissões reais no Egito antigo e na Suméria (BRÉSCIA, 2003, p. 32).
Atualmente, a música pertence ao universo das belas-artes, pois se manifesta pela escolha dos arranjos e combinações de sons. É considerada ainda ciência na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas.
No que tange à sua definição, (HOUAISS apud BRÉSCIA, 2003, p. 25) diz que a música é uma "combinação harmoniosa de e expressiva de sons e a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc." Através dessa combinação harmoniosa de sons, a música funciona como elemento de comunicação e identificação dos povos. Decorre daí a sua função de transmissão cultural entre as diversas gerações desses povos. Nesse sentido, a música tem um papel fundamental na educação, pois serve como um elo na transmissão de conhecimentos acumulados pelas gerações passadas.
Por sua vez, a importância da música no processo educacional infantil está no fato de que esta consegue, de certa forma, trabalhar a personalidade da criança, uma vez que consegue promover na criança o desenvolvimento de hábitos, atitudes e comportamentos que expressam sentimentos e emoções (GAINZA, 1988, p. 95):
Em todo processo educativo confunde-se dois aspectos necessários e complementares:
por um lado à noção de desenvolvimento e crescimento (o conceito atual de educação está intimamente ligado às ideias de desenvolvimento); por outro, a noção de alegria, de prazer, num sentido amplo. [...] Educar-se na música é crescer plenamente e com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver, tampouco é educar (GAINZA, 1988, p. 96).
Da constatação acima, pode-se afirmar que o acesso à música é necessário ao processo de educação da criança. Quando esse processo é conduzido por pessoas conscientes e competentes, deixa de ser apenas recreação, favorecendo uma rica vivência e estimulando o desenvolvimento dos meios mais espontâneos de expressão. Isso recupera a música a sua condição de linguagem natural, viva, de pensamentos e emoções.
O trabalho de musicalização deve ser caracterizado sob dois aspectos: os aspectos intrínsecos à atividade musical, isto é, inerentes à vivência musical: alfabetização musical e estética e domínio cognitivo das estruturas musicais; e os aspectos extrínsecos à atividade musical, isto é, decorrentes de uma vivencia musical orientada por profissionais conscientes, de maneira a favorecer a sensibilidade, a criatividade, o senso rítmico, o ouvido musical, o prazer de ouvir música, a imaginação, a memória, a concentração, a atenção, a autodisciplina, o respeito ao próximo, o desenvolvimento psicológico, a socialização e a afetividade, além de originar a uma efetiva consciência corporal e de movimentação (BRÉSCIA, 2003, p. 15).
De fato, a associação da música, enquanto atividade lúdica, com os outros recursos dos quais dispõem o educador, facilita o processo de ensino-aprendizagem, pois incentiva a criatividade do educando através do amplo leque de possibilidades que a música disponibiliza.
A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social, conferem um caráter significativo à linguagem musical. Além disso, a música uma das mais importantes formas de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação de um modo geral e, principalmente, na educação infantil particularmente.
Hoje na sociedade moderna, os sons se multiplicaram em escala de milhões. A cada dia surgem novas fontes sonoras. Essas fontes sonoras são as que produzem os sons culturais, ou seja, sons produzidos pelo homem, ou os sons naturais produzidos pela natureza.
Trabalhar a musicalização com a criança de 5 a 6 anos será uma experiência incrível e satisfatória para ambas as partes desde que seja realizado um trabalho eficiente e sobretudo, que o professor esteja apto para realizar esse trabalho. Cabe ao professor de musicalização ou o professor que irá trabalhar a musicalização com seus alunos propiciar aos mesmos o contato, a exploração do som, bem como o manuseio do som, e de seus componentes destacando-se a importância de cada um para o desenvolvimento de uma linguagem sonora e da capacidade de expressão e expansão pelo som.
2.2. COMO DEVE SER O ENSINO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros.
As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo "personalidade" e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical (BELLOCHIO, 2002, p. 210).
No ensino da musicalização, os conteúdos podem ser tratados em contextos que incluem a reflexão sobre aspectos referentes aos elementos da linguagem musical.
Nessa metodologia de aprendizagem, a presença do silêncio como elemento complementar ao som é essencial à organização musical. Ouvir e classificar os sons quanto à altura, valendo-se das vozes dos animais, dos objetos e máquinas, dos instrumentos musicais, comparando, estabelecendo relações e, principalmente, lidando com essas informações em contextos de realizações musicais pode acrescentar, enriquecer e transformar a experiência musical das crianças. A simples discriminação auditiva de sons graves ou agudos, curtos ou longos, fracos ou fortes, em situações descontextualizadas do ponto de vista musical, pouco acrescenta à experiência das crianças. Em princípio, todos os instrumentos musicais podem ser utilizados no trabalho com a criança pequena, procurando valorizar aqueles presentes nas diferentes regiões, assim como aqueles construídos pelas crianças. Deve-se promover o crescimento e a transformação do trabalho a partir do que as crianças podem realizar com os instrumentos. Os jogos de improvisação podem, também, ser realizados com materiais variados, como os instrumentos confeccionados pelas crianças, os materiais disponíveis que produzem sons, os sons do corpo, a voz etc.
O professor poderá aproveitar situações de interesse do grupo, transformando-as em improvisações musicais. Poderá, por exemplo, explorar os timbres de elementos ligados a um projeto sobre o fundo do mar (a água do mar em seus diferentes momentos, os diversos peixes, as baleias, os tubarões, as tartarugas etc.), lidando com a questão da organização do material sonoro no tempo e no espaço e permitindo que as crianças se aproximem do conceito da forma (a estrutura que resulta do modo de organizar os materiais sonoros) (BEAUMONT, 1999, p. 37).
Nessa metodologia educacional deverão ser propostos, também, jogos de improvisação que estimulem a memória auditiva e musical, assim como a percepção da direção do som no espaço.
O professor deve observar o que e como cantam as crianças, tentando aproximar-se, ao máximo, de sua intenção musical. Neste caso, após a fase de definição dos materiais, a interpretação do trabalho poderá guiar-se pelas imagens do livro, que funcionará como uma partitura musical. Os contos de fadas, a produção literária infantil, assim como as criações do grupo são ótimos materiais para o desenvolvimento dessa atividade que poderá utilizar-se de sons vocais, corporais, produzidos por objetos do ambiente, brinquedos sonoros e instrumentos musicais.
2.3. OS RCNS E A MUSICALIDADE
2.3.1. Legislação Curricular
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil do MEC recomenda a Iniciação Musical na pré-escola e dá ênfase à escolha do repertório, uma das chances que o professor tem de ampliar a visão (e a audição) de mundo do aluno. A música deve ser de boa qualidade, variando desde MPB, músicas folclóricas, cantigas de roda, regionais, até eruditas.
Trabalhar com música na educação infantil melhora a sensibilidade, o raciocínio lógico e a expressão corporal.
“A música é a linguagem que organiza som e silêncio” (BELLOCHIO, 2002, p. 117). A criança vai tomar consciência da linguagem musical se conseguir ouvir e diferenciar sons, ritmos e alturas, saber que um som pode ser grave ou agudo, curto ou longo, forte ou suave.
2.4. COMO O PROFESSOR DEVE TRABALHAR COM A MUSICALIZAÇÃO
Para as crianças na faixa etária (4-6 anos), os conteúdos relacionados ao fazer musical deverão ser trabalhados em situações lúdicas, fazendo parte do contexto global das atividades.
A escuta é uma das ações fundamentais para a construção do conhecimento referente à música. O professor deve procurar ouvir o que dizem e cantam cada criança. A "paisagem sonora" de seu meio ambiente e a diversidade musical existente: o que é transmitido por rádio e TV, as músicas de propaganda, as trilhas sonoras dos filmes, a música do folclore, a música erudita, a música popular, a música de outros povos e culturas contribuem para aguçar a musicalidade na criança, e consequentemente, assimilar a aprendizagem.
As marcas e lembranças da infância, os jogos, brinquedos e canções significativas da vida do professor, assim como o repertório musical das famílias, vizinhos e amigos das crianças, podem integrar o trabalho com música.
É importante desenvolver nas crianças atitudes de respeito e cuidado com os materiais musicais, de valorização da voz humana e do corpo como materiais expressivos.
Cantar e ouvir músicas podem ocorrer com frequência e de forma permanente nas instituições. Podem ser, também, realizados projetos que integrem vários conhecimentos ligados à produção musical. A construção de instrumentos, por exemplo, pode se constituir em um projeto por meio do qual as crianças poderão:
· explorar materiais adequados à confecção;
· desenvolver recursos técnicos para a confecção do instrumento;
· informar-se sobre a origem e história do instrumento musical em questão;
· vivenciar e entender questões relativas a acústica e produção do som;
· fazer música, por meio da improvisação ou composição, quando os instrumentos criados estiverem prontos (BELLOCHIO, 2002, p. 85).
A música, na educação infantil mantém forte ligação com o brincar. Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc.
Os acalantos e os chamados brincos são as formas de brincar musical característicos da primeira fase da vida da criança. Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivência de questões relacionadas ao som (e suas características), ao silêncio e à música (BEAUMONT, 1999, p. 67).
Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação nos quais é necessário reconhecer um trecho de canção, de música conhecida, de timbres de instrumentos etc.; jogos de direção sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos de memória, de improvisação etc. são algumas sugestões que garantem às crianças os benefícios e alegrias que a atividade lúdica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem musical.
O espaço no qual ocorrerão as atividades de música deve ser dotado de mobiliário que possa ser disposto e reorganizado em função das atividades a serem desenvolvidas.
O trabalho com a música deve reunir toda e qualquer fonte sonora: brinquedos, objetos do cotidiano e instrumentos musicais de boa qualidade. Pode-se confeccionar diversos materiais sonoros com as crianças, bem como introduzir brinquedos sonoros populares, instrumentos étnicos etc. O trabalho musical a ser desenvolvido nas instituições de educação infantil pode ampliar meios e recursos pela inclusão de materiais simples aproveitados do dia a dia ou presentes na cultura da criança.
Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito sonoro são materiais bastante adequados ao trabalho com bebês e crianças pequenas. Os vários tipos, como bongôs, surdos, caixas, pandeiros, tamborins etc., estão muito presentes na música brasileira. Ao experimentar tocar instrumentos como violão, cavaquinho, violino etc., as crianças poderão explorar o aspecto motor, experimentando diferentes gestos e observando os sons resultantes e assimilar conteúdos de aprendizagem.
No contexto educacional, é aconselhável que se possa contar com um aparelho de som para ouvir música e, também, para gravar e reproduzir a produção musical das crianças.
Na produção musical, os diferentes tipos de sons (curtos, longos, em movimento, repetidos, muito fortes, muito suaves, graves, agudos etc.) podem ser traduzidos corporalmente.
Como explanado a musicalização é fundamental no desenvolvimento da criança em vários aspectos. O professor em sala de aula pode utilizar da música como atividade lúdica para contribuir na explanação de sua aula, obtendo com isso, um melhor aproveitamento do ensino-aprendizagem.
2.5. A CONTRIBUIÇÃO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A criança sempre é tida como esperança de inovação; através dela e por meio dela poderão surgir novas perspectivas para o futuro. A criança é, portanto, herdeira natural da cultura universal. Recebe informações de modo multifacetado; a ela cabe adaptar-se. E, é nesse adaptar-se que ela constrói e reconstrói seus códigos de comunicação, de comportamento, baseados em seus desejos, necessidades, fantasias e sensações.
A criança é um ser sociável, quer se comunicar, quer ser livre, no entanto, quando entra em contato com o mundo escolar, há profissionais que causam bloqueios irreparáveis na expressão infantil, levando os pequeninos à insegurança criativa e prejudicando a naturalidade imaginativa da mesma. Assim, segundo (CARDOSO 1988, p. 37) “os adultos (em geral) são os representantes da limitação das liberdades da criança e não podem esperar que estas ponham a claro seus íntimos problemas e desejos”, após sofrerem essa influência da limitação de sua liberdade.
A natureza da criança é lidar com o mundo de modo lúdico, fazer o que lhe dá prazer e satisfação. Por isso é que ela gosta tanto de brincar e desenhar, que são as formas mais lúdicas que ela encontra para se comunicar e intervir no e com o mundo. Com o passar do tempo e a “vigilância” dos adultos, a criança gradativamente vai perdendo o lúdico, o que atrofia a espontaneidade. Por isso vê-se, hoje em dia tantos adultos sem criatividade e inibidos.
A infância é uma das etapas mais importantes na vida de todo ser humano. O ser adulto reflete claramente como foi ou deixou de ser a sua própria infância, através das atitudes por ele tomadas agora, na vida adulta.
A criança pensa com sentimento, segue seus instintos e desejos, enquanto o adulto, já afetado pela “doutrina” de um outro adulto, é mais prudente, procurando conciliar a lógica do pensamento com a lógica do comportamento (READ, 1981, p. 111).
Os pequeninos devem ser orientados pelos adultos com ética e respeito. O diálogo é essencial para o relacionamento. A criança precisa compreender o porquê de obedecer ao adulto, às regras da sociedade, e a aquele cabe, através do diálogo, esclarecer a esta o porquê das coisas (CARDOSO, 1988, p. 38).
O canal de comunicação da criança com o mundo exterior é o lúdico, o brincar, o desenhar. Assim, por volta dos dois anos de idade ela inicia seus primeiros riscos e, ano após ano aprimora seus desenhos, seus registros, deixando “clara” sua vontade, sua intenção, sua necessidade, seu entendimento, seus anseios ou seu(s) problema(s), num processo gradativo de evolução e aprimoramento. Geralmente por volta dos seis anos de idade, a criança começa a representar graficamente uma escala afetiva de valores em relação aos seus desenhos. Desenha, principalmente, o que sente. O que importa para ela é o significado que atribui ao desenho.
Ao trabalhar com a musicalização, a criança faz tudo com muito sentimento e afeto. (DALMO DALLARI 1986, p.89) nos diz sobre o sentido afetivo infantil:
Deixemos que a criança sorva, confiante e animada, a alegria da manhã. É o que ela quer. Ouvir uma estória que alguém lhe conta, conversar com o cachorro, jogar uma pelada, examinar de perto uma figurinha, copiar demoradamente uma letra, cantar uma música– nada disso lhe parece perda de tempo; ela faz tudo com afeto. E tem razão
Ela usa com intensidade sua inteligência ao trabalhar com a musicalização, pois mescla sonho e realidade, sem perder as noções do real. Ela usa de sua imaginação com propriedade, pois reúne nas situações imaginárias suas fantasias e sua exploração racional. O desenho da criança é uma interpretação, uma recriação na linguagem gráfica daquilo que lhe é mais representativo, ou seja, leva-a a evocar a forma, a estrutura, a essência dos objetos e dá forma à lembranças, sonhos, emoções. Em seus desenhos, visam representar, reconstruir visualmente suas vivências socializando experiências próprias, particulares e individuais. Essa facilidade em “fantasiar” coloca-a numa situação privilegiada, sobre a qual (DALLARI 1986, p.61) comenta:
A criança sem sonhos está limitada ao mundo da razão, a executar rotinas com maior ou menor dificuldade, a resolver problemas do dia a dia de olhos no chão. Essa criança poderá conseguir usar a razão com toda a falta de graça de que são capazes os extremamente racionais, ou poderá ser limitada também como os racionais, mas, nunca terá o encanto, o mistério, a emoção e a ousadia dos sonhadores. A criança sem sonhos é uma águia sem asas.
Enfim, a expressão lúdica através da música une o conhecimento e o sonho, mas sua manifestação somente é possível se, acompanhada de liberdade e de sinceridade. Se faltarem um desses elementos, a expressão não ocorrerá. Por isso que tantos adultos tem tanta dificuldade de expressar-se naturalmente e de forma lúdica, e, às crianças isso é algo tão banal. Que possamos nós, adultos, aprender isso com elas.
Para que se possa compreender o que se passa com a criança na sua forma de expressar-se é necessário que procuremos saber por que e como ela o faz, pois toda e qualquer expressão dessa é resultante de elaborações de seus sentimentos, sensações e percepções do mundo que a cerca.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O termo musicalizar significa desenvolver o senso musical das crianças, respeitando sua sensibilidade, expressão, ritmo, “ouvido musical”, isso é, inseri-la no mundo musical, sonoro. A finalidade de musicalização tem como objetivo fazer com que a criança se torne um ouvinte sensível de música, com um amplo universo sonoro.
O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. A expressão musical das crianças nessa fase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo "personalidade" e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical.
É importante enfocar que o principal aspecto da musicalização é desenvolver a musicalidade que há na criança, pois a música faz parte da cultura humana e, por isso, todas as pessoas têm direito de acesso a ela. Não podemos, então, considerar a musicalização como “educação pela música”, que significa utilizar a música para desenvolver e aperfeiçoar outras áreas de conhecimento como alfabetização, o raciocínio lógico matemático, a socialização. A música pode ser usada como relaxamento e terapia e tem como característica a estimulação dos sentidos, treinamento auditivo, percepção de ritmos, velocidades, memorização, desembaraço social, disciplina, capacidade de atenção entre outros.
A música, na educação infantil mantém forte ligação com o brincar. Em todas as culturas as crianças brincam com a música. Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc.
Os acalantos e os chamados brincos são as formas de brincar musical característicos da primeira fase da vida da criança. Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivência de questões relacionadas ao som (e suas características), ao silêncio e à música.
Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação nos quais é necessário reconhecer um trecho de canção, de música conhecida, de timbres de instrumentos etc.; jogos de direção sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos de memória, de improvisação etc. são algumas sugestões que garantem às crianças os benefícios e alegrias que a atividade lúdica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem musical.
Portanto, não podemos afirmar que a musicalização serve para transformar as crianças em seres musicais, apenas precisamos incentivá-las a continuar usando e criando sons. A musicalização deve ser trabalhada de forma lúdica. A criança deve sentir prazer em frequentar as aulas de Educação Infantil que trabalhe com musicalização, usar a criatividade. Porém, precisamos tomar cuidado para que as crianças não considerem as aulas de música somente como divertimento, descontração, o que fará com que elas deixem de aceitar o direcionamento do professor(a). A participação dos alunos é fundamental para o bom andamento do(a) processo ensino-aprendizagem.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANOL, Fernando: Biomusica, tradução Ali Mohamad Onissi.- São Paulo: Ïcone,1993
BARBOSA, A. M. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
______________. História da Arte Educação. São Paulo: Max Limonad LTDA, 1986.
BEAUMONT, Maria Teresa de e FONSECA, Selva Guimarães. O ENSINO DE MÚSICA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: saberes e práticas escolares. GT: Ensino Fundamental/nº13- 26a Anped., 1999.
BELLOCHIO, Claúdia Ribeiro. A Educação Musical no Ensino Fundamental: Refletindo e discutindo práticas nas séries iniciais. UFSM, 23ª Anped, GT Currículo. 2002
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
BRITO, Teca Alencar. A música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
BRUHNS, E.T. (org.) Conversando sobre o corpo. Campinas: Papirus, 1986.
CARDOSO, C. e VALSASSINA, M. M. Arte Infantil: linguagem plástica. 2º edição, Lisboa:Editorial Presença
DEHEINZELIN, Monique. Professor da Pré-Escola. Rio de Janeiro: FAE, 1991. V.I.
DOHME, Vânia. Atividades lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Petrópolis: Vozes, 2004.
DUARTE JÚNIOR, João F. Por que Arte Educação. 6ª Edição. Campinas: Papirus, 1991.
FERRAZ, Maria H. C. T. e SIQUEIRA, Idméia S. P. Arte-Educação – Vivência, Experimentação ou Livro Didático? São Paulo: Loyola, 1987.
FUSARI, M. F. de R. FERRAZ, M. H. Arte na educação escolar. São Paulo:Cortez, 1993
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.
MARTINS, Miriam C. F. D. Temas e técnicas em Artes Plásticas. 2ª edição. São Paulo: ECE, 1986.
NICOLAU, Marieta Lúcia Machado e MAURO, Maria Adélia F. Alfabetização com sucesso. São Paulo: EPU, 1986.
OLIVEIRA, Paulo de Salles. O que é brinquedo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
OSTROWER, FAYGA. Criatividade e Processo de Criação: Petrópolis. Vozes. 1978.
PAPAIA, Diane E. e OLDS, Sally Wendkos. O mundo da criança. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1981.
PASSERINO, Liliana Maria. Repensando a prática educativa. Ed. Opet, 3º edição, 1996.
PIAGET, Jean. A formação do Símbolo na Criança. São Paulo: EDUSP, 1977
PINTO, Mônica D. e FELDMAN, Marcia, Arte – Uma Multifala Através do Tempo. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1982.
READ, Herbert ª A Educação pela Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
VYGOTSKI, Lev S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
________________________________
Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
LEÃO, Maria Dalva Barbosa da Silva; SOUSA, Gleiciane Andrade de; CUNHA, Eucilene Gonzalez Pantoja da. Musicalização na educação infantil. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 547-562. ISSN: 2965-9760 | DOI:doi.org/10.59283/unisv.v2n2.033
Baixe o artigo científico completo em PDF "Metodologia e prática do ensino da arte educação":
Acesse o v. 2 n.2 da Revista Qualyacademics, edição completa:
Publicação de artigos em revista científica com altíssima qualidade e agilidade: Conheça a Revista QUALYACADEMICS e submeta o seu artigo para avaliação por pares.
Se preferir transformamos o seu trabalho de conclusão de curso em um livro. Fale com nossa equipe na Editora UNISV | Publicar Livro
Comentarios