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LEITURA E ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS: DESAFIOS E RELEVÂNCIAS

READING AND WRITING IN EARLY CHILDHOOD AND ELEMENTARY EDUCATION: CHALLENGES AND RELEVANCE





Como citar esse artigo:


MARTINS Flaviana Cardoso. Leitura e escrita na educação infantil e séries iniciais: desafios e relevâncias. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 392-399. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.022



Autora:



Flaviana Cardoso Martins

Graduação em Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa - Universidade Federal do Pará - UFPA. Contato: flaviavamartins@hotmail.com


RESUMO


A leitura é fundamental para o desenvolvimento intelectual, cultural, e emocional de crianças, especialmente durante a educação infantil e as séries iniciais. Este período é crucial, pois é quando as crianças adquirem conhecimentos e valores que fundamentam seu caráter e pensamento crítico. Este estudo tem como objetivo discutir a relevância da leitura e escrita nesse estágio educacional e identificar os desafios enfrentados no desenvolvimento dessas habilidades. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica detalhada, buscando aprofundar o entendimento sobre a temática e examinar as metodologias e estratégias empregadas na literatura existente. A pesquisa destacou que, embora a leitura e a escrita sejam essenciais para o despertar da imaginação e para o manejo das emoções e pensamentos das crianças, existem desafios significativos que precisam ser superados. Estes incluem a falta de recursos didáticos adaptados às necessidades individuais das crianças e a necessidade de capacitação contínua dos educadores. A conclusão aponta para a necessidade de políticas educacionais que priorizem a formação de leitores e escritores competentes desde a primeira infância, promovendo assim uma base sólida para o desenvolvimento contínuo dos alunos.

 

Palavras-chave: educação infantil, séries iniciais, leitura, alfabetização, formação docente.

 

ABSTRACT

 

Reading is fundamental for the intellectual, cultural, and emotional development of children, especially during early childhood education and the elementary years. This period is crucial, as it is when children acquire knowledge and values that lay the foundation for their character and critical thinking. This study aims to discuss the relevance of reading and writing at this educational stage and to identify the challenges faced in developing these skills. To this end, a detailed literature review was conducted to deepen understanding of the topic and to examine the methodologies and strategies used in existing literature. The research highlighted that, although reading and writing are essential for sparking imagination and managing children's emotions and thoughts, there are significant challenges that need to be overcome. These include the lack of educational resources adapted to the individual needs of children and the need for ongoing educator training. The conclusion points to the necessity for educational policies that prioritize the formation of competent readers and writers from an early age, thus promoting a solid foundation for students' continuous development.

 

Keywords: early childhood education, elementary education, reading, literacy, teacher training.

 

1. INTRODUÇÃO

         

A proposta de debate deste trabalho envolve os desafios e a relevância dos processos de leitura e de escrita na educação infantil e nas séries iniciais. Percebe-se nas escolas contemporâneas que muitas ainda estão presas aos métodos mais tradicionais de ensino, nos quais a criança é encarada apenas como um indivíduo a ser moldado de acordo com as políticas e as regras daquele ambiente. Entretanto, mais e mais pesquisas têm sido desenvolvidas com o intuito de transformar essa perspectiva e tornar a criança um agente construtor de conhecimento, assim como professor deixa de ter o papel de transmissor de conhecimento e passa a ser um mediador de conhecimento.

         

A educação deve passar por uma repaginação profunda na estrutura – em seus alicerces, em suas crenças – para que possa se adequar às novas gerações que possuem níveis de desenvolvimento distintos, interesses e aptidões diferentes e vivem uma realidade cada vez mais distante das gerações anteriores.

         

Piaget (2012) interpela que “o ideal da educação não é ensinar o máximo, maximizar os resultados, mas é acima de tudo aprender a aprender, aprender a se desenvolver, e aprender a continuar a se desenvolver, mesmo após deixar a escola”.

        

No ambiente escolar, o aluno entrará em contato com uma diversidade de objetos e de circunstâncias diferentes das quais está acostumado e o professor tem como missão proporcionar situações de comunicação que permitam conhecer esses novos objetos e entender essas novas circunstâncias. Afinal, “o objetivo da educação intelectual não é saber repetir verdades acabadas, é aprender por si próprio” (PIAGET, 1995).

         

Tanto a leitura quanto a escrita são práticas muito presentes no cotidiano e na cultura do homem. Ambos os hábitos promovem o aprimoramento da língua e fazem com que o sujeito se torne crítico e seja capaz de produzir e recriar textos, além de melhorar a compreensão e expressão oral.

         

Com a dificuldade docente em promover a leitura e visualizar essas falhas na parte escrita, invenções metodológicas foram desenvolvidas, a fim de transformar o espaço escolar em um ambiente de aprendizagem mais envolvente e dinâmico, estimulando uma nova formação com estabelecimento mais eficaz e coerente do conhecimento em geral.

         

Fica evidente que a leitura, portanto, é uma ferramenta de adaptação do ser humano ao meio e que auxilia no processo de se comunicar, que é básico pelo papel que desempenha nas relações sociais construídas.

        

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998),


“A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo do que sabe sobre a linguagem”.

         

Solé (1998) interpreta o ato de ler como “um processo de interação entre leitor e o texto”, pois durante este processo aquele lê desenvolve a compreensão, a interpretação e a produção de um texto, vinculando estes entendimentos com sua capacidade crítica, perceptiva e analítica.

         

A formação de leitores deve ser uma preocupação constante da escola, visto que mais importante que a decodificação de um texto é a compreensão, a apreciação e a relação do texto com o leitor e tudo isso deve ser ensinado e avaliado dentro de sala de aula. A leitura e a escrita são práticas complementares, profundamente relacionadas  (DELMANTO, 2009).

         

Koch (2003) coloca a leitura “como simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, portanto, o conhecimento do código”, mas muito já foi desenvolvido de forma a compreender que o profissional da educação deve encarar a leitura e propagar o conceito de que ela é um resultado sociointeracionista, ou seja, “fruto de trabalhos coletivos” que estrutura as atividades comunicativas (MARCUSCHI, 2003)

         

O processo de ensino de leitura e de escrita vem passando por restruturação, considerando que o método rígido de decoração não é suficiente para desenvolver o perfil crítico e cidadão desejado para o aluno.

 

2. DESENVOLVIMENTO

         

Mesmo no século XXI, com tantas ferramentas tecnológicas propícias, no Brasil, ler e escrever são práticas de poucos. O analfabetismo ainda se faz muito presente e não só nas gerações com mais idade, como também as mais jovens. Ao mencionar a questão do analfabetismo, são inclusos neste grupo não só aqueles que não dominam o sistema alfabético, como também aqueles que possuem escolarização limitada.

         

Além da questão social envolvida neste caso, tendo em vista que a maior parte dos analfabetos se concentra na população de baixa renda do país, conclui-se que a situação é agravada pelo posicionamento tradicionalista do professor em sala de aula.

         

O sistema tradicional de ensino não ensina seus alunos a serem autônomos e não incentivam a descoberta como processo de aprendizagem. Ele é mecanicista e toma o professor como transmissor, não como mediador do conhecimento. Silva apud Leal (2004) reflete que “a criança precisa não só se apropriar do sistema de escrita, mas, também, desenvolver as habilidades de leitura e produção de textos orais e escritos” e, para tanto, a autonomia é imprescindível. Isto não quer dizer, contudo, que o processo deva ser feito sem mediação, pois o professor é e sempre será responsável por criar oportunidades para que o aluno construa conhecimento, mas é fazê-lo incentivando o aluno a descobrir outras possibilidades e valorizar suas diferenças e aptidões.


Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal; se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizado, mas não é letrado (SOARES, 2011).

         

A leitura constituída de significado e absorvida pelo leitor é capaz de trabalhar o imaginário e as emoções, criando novas sensações e transformando experiências. Ao proporcionar uma leitura qualitativa, o professor promove o desenvolvimento pleno do aluno, pois


No ato da leitura, através do literário, dá-se o conhecimento da consciência de mundo ali presente. Assimilada pelo leitor, ela começa a atuar em seu espírito (e conforme o caso dinamizá-lo no sentido de cada transformação). Mas, para que essa importante assimilação se cumpra, é necessário que a leitura consiga estabelecer entre o sujeito que lê e o objeto que é o livro lido. Só assim o conhecimento da obra se fará e sua leitura se transformará naquela aventura espiritual (...). (COELHO, 2000).

         

Alcançar o ensino adequado e qualitativo é garantir atividades que construam um conhecimento abrangente e permitam que o aluno faça sua própria trilha do conhecimento. A leitura é, sem dúvida, um dos aspectos inerentes desse modelo de educação. Dessa forma, é imprescindível “investir em material humano, com a formação de mediadores de ler, professores e bibliotecários, capazes de semear o prazer de leitura por todo o país” (LINARDI, 2009).


Ausubel (1963) propõe que aprender alguma coisa significa atribuir significado a um objeto de aprendizagem de uma forma própria, pois o indivíduo tem a sua construção pessoal sobre as coisas e sua bagagem interfere qualitativamente na aprendizagem. O conhecimento, portanto, pode passar por caminhos distintos dependendo do aluno e, por isso, seu ensino deve ser flexível, altamente didático e adaptável.

Ler é adentrar nos textos, compreendendo-os na sua relação dialética com os seus contextos e o nosso contexto. O contexto do escritor e o contexto do leitor. Ao ler, eu preciso estar informando-me do contexto social, político, ideológico e histórico do autor. Eu tenho de situar o autor num determinado tempo (...). Quando eu leio um autor, eu preciso ir me inteirando do contexto dele, em que aquele texto se constituiu. Mas agora eu preciso também de um outro esforço: como relacionar o texto com o meu contexto. O meu contexto histórico, social e político não é o do autor. O que preciso é ter clara esta relação entre o contexto do autor e do leitor (FREIRE, 1982).

 

Afinal, como dito anteriormente, a leitura é um ato realizado por meio do reconhecimento e da atribuição de significados implícitos e explícitos, que se baseiam não só no que foi descrito pelo autor, mas pela própria bagagem do leitor. Portanto, a leitura não deve ser mecanizada ou constituída de repetição fonográfica ou acadêmica.

         

O gosto pela leitura se desenvolve a partir de uma aproximação afetiva e de uma significação positiva, já que “ninguém se torna leitor por um ato de obediência, ninguém nasce gostando de leitura” (KRIEGL, 2002). É um trabalho que se inicia pela influência de adultos leitores – tanto na escola quanto em casa – e que deve ser feito principalmente desde a infância. Afinal, “todo hábito entra na vida como um jogo que, por mobilizar emoções, inspirar prazer, exige repetição contínua e renovada” (AGUIAR; BORDINI, 1988).

         

Isso quer dizer, portanto, que o docente que não pratica o ato de ler dificilmente conseguirá fazer com que seus alunos fiquem motivados a ler, já que são seus modelos dentro da escola. Contudo, não são os únicos. Os pais também devem assumir o papel de incentivadores da leitura – lendo para e com o aluno, permitindo o envolvimento completo com o livro lido.

         

Quanto mais gratificante for a experiência para o aluno que está lendo, mais ele procurará manter o hábito, pois somente aquilo que desperta a criança positivamente pode atrai-la. Neste sentido, o professor deve atentar-se ao ambiente, às propostas de leitura e até mesmo as interações. A leitura pode ser acompanhada de música ou de interpretação, por exemplo. Muito há nas ferramentas tradicionais e na tecnologia atual que agrega valor ao hábito de ler.

 

3. CONCLUSÃO

         

A leitura é um dos meios para formar uma sociedade consciente. Sendo assim, é imprescindível que a atividade ganhe um espaço notória na educação formal e tenha apoio dentro do ambiente familiar.

         

A alfabetização nunca deve ser um processo único e solitário, pois ser alfabetizado não significa ser letrado e, para alcançar uma leitura significativa, o leitor deve ser alfabetizado e letrado juntamente. Ele deve ser capaz de criar contato com a leitura de forma total, a fim de que esta prática o auxilie em seu processo de aprendizagem.

         

Além disso, o professor deve estar apto a relacionar tal atividade com as práticas orais e de escrita, já que são interdependentes. Não deve ser apenas o ensino da leitura em si, mas o desenvolvimento da capacidade de relacionar conhecimentos e a formação crítica necessária para enfrentar os desafios da vida em sociedade, além de transformá-lo em sujeito ativo da construção do conhecimento, fazendo com que ele mesmo tenha autonomia para atingir um bom desempenho no processo de aprendizado.

         

A escola e o professor têm um papel essencial no desenvolvimento do hábito de leitura e o trabalho é muito mais abrangente do que simplesmente a construção de uma biblioteca ou proporcionar atividades literárias em horário escolar. A proposta deve ir além – deve alcançar um projeto de conscientização dos pais, que serão modelos leitores no ambiente familiar, deve se estender ao incentivo da leitura a todos os docentes e a construção de um projeto pedagógico que envolva o desenvolvimento de todas as capacidades necessárias para o discente formar-se um cidadão pleno.

         

Tanto o docente quanto a instituição de ensino devem estabelecer os propósitos a serem atingidos com o sistema de incentivo à leitura criado, valorizando a diversidade e sempre buscando adaptar e atualizar o modelo de acordo com as experiências notadas. É importante entender que, neste contexto, é a nova geração que está sendo preparada, é a sociedade que está sendo moldada. A prática de leitura exerce a criatividade, o senso crítico e a cidadania

 

4. REFERÊNCIAS

 

AGUIAR, V. T. de; BORDINI, M. da G. Literatura, a formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.

 

AUSUBEL, D. P. The psycology of meaningful verbal learning. New York: Grune, Stratton, 1963.

 

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1998.

 

COELHO, N. N. Literatura Infantil. São Paulo: Moderna, 2000.

 

DELMANTO, D. A leitura em sala de aula. Recife: Revista Construir Notícias, ano 8, nº 45, 2009.

 

FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se complementam. São Paulo: Cortez, 1982.

 

KOCH, I. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2003.

 

KRIEGL, M. de L. de S. Leitura: um desafio sempre atual. Curitiba: Revista PEC, v. 2, nº. 1, 2002.

 

LEAL, T. F. Organização do trabalho e letramento. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

 

LINARDI, F. O ‘x’ da questão da leitura. São Paulo: Revista Nova Escola, nº 18, 2009.

 

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2003.

 

PIAGET, J. A psicologia. Lisboa: Bertrand, 1995.

 

PIAGET, J. Seis estudos da psicologia. 25ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

 

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 5ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

 

SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6ª edição. Porto Alegre: Artmed, 1998.

 


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publicação de artigo científico

Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).



Como citar esse artigo:


MARTINS Flaviana Cardoso. Leitura e escrita na educação infantil e séries iniciais: desafios e relevâncias. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 392-399. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.022


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