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INCENTIVO À LEITURA POR MEIO DA LITERATURA DE CORDEL

ENCOURAGING READING THROUGH CORDEL LITERATURE





Como citar esse artigo:


MARTINS, Flaviana Cardoso. Incentivo à leitura por meio da literatura de cordel. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 383-391. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.021



Autora:



Flaviana Cardoso Martins

Graduação em Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa - Universidade Federal do Pará - UFPA. Contato: flaviavamartins@hotmail.com


RESUMO


Este estudo aborda o uso da literatura de cordel como ferramenta incentivadora da leitura dentro do contexto educacional brasileiro. O objetivo principal é investigar como o cordel pode facilitar o desenvolvimento do hábito de leitura entre os estudantes. Para alcançar esse fim, foram definidos objetivos específicos: traçar o percurso histórico do cordel na sociedade brasileira; entender o processo de produção dessas obras; e identificar estratégias eficazes que utilizem o cordel para promover a leitura. A metodologia adotada foi uma revisão bibliográfica crítica, que permitiu examinar diversas fontes para compreender melhor o papel do cordel na educação. A justificativa para escolher este tema surge da necessidade de encontrar alternativas que conectem os estudantes à leitura, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades ou falta de interesse pelos formatos tradicionais de literatura. Os principais resultados apontam que o cordel, com sua linguagem simples e próxima do coloquial, e a presença de xilografias que ilustram as narrativas, é bem recebido pelos alunos e tem potencial para ser uma ferramenta eficaz na motivação para a leitura. Além disso, destaca-se como uma expressão cultural relevante que ressoa com a identidade cultural dos estudantes, especialmente no Nordeste do Brasil. É importante, no entanto, que os educadores sejam capacitados para introduzir o cordel de maneira que respeite sua forma e essência, e selecionem histórias que cativem o interesse dos alunos.

 

Palavras-chave: Cordel; história do Brasil; Nordeste.

 

ABSTRACT

 

This study addresses the use of "cordel" literature as a tool to encourage reading within the Brazilian educational context. The main objective is to investigate how cordel can facilitate the development of reading habits among students. To achieve this, specific objectives were defined: to trace the historical trajectory of cordel in Brazilian society; to understand the production process of these works; and to identify effective strategies that use cordel to promote reading. The methodology adopted was a critical literature review, which allowed the examination of various sources to better understand the role of cordel in education. The rationale for choosing this topic stems from the need to find alternatives that connect students to reading, especially those who face difficulties or lack interest in traditional literary formats. The main findings suggest that cordel, with its simple and colloquial language and the presence of woodcuts illustrating the narratives, is well-received by students and has the potential to be an effective tool in motivating reading. Moreover, it stands out as a relevant cultural expression that resonates with the cultural identity of the students, especially in the Northeast of Brazil. However, it is important that educators are trained to introduce cordel in a way that respects its form and essence and to select stories that captivate the students' interest.

 

Keywords: Cordel; Brazilian history; Northeast.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O desenvolvimento da leitura é um trabalho que ultrapassa muitos momentos e necessita de incentivos constantes até que possa ser considerado como um hábito. Especialmente, a escola tem um papel fundamental para o desenvolvimento, desde o momento do letramento e da alfabetização do aluno. No entanto, é preciso fomentar a forma de desenvolvimento dessa leitura.


No momento em que a criança passa a ter contato com as primeiras letras e palavras, é importante começar a desenvolver estratégias que consigam efetivamente aproximar a criança desse hábito. O que acontece é que, muitas vezes, certas dificuldades nesse momento, e nos demais, faz com que a leitura seja uma tarefa difícil e até mesmo crie certos problemas para que a criança consiga se identificar com esse processo.


Além disso, é inevitável que haja comparações com colegas e parentes, que fazem com que o aluno se afaste ainda mais desse processo. Ainda nesse aspecto, os programas educacionais muitas vezes não consideram que os alunos estão inseridos em contextos sociais diferentes e que podem, não necessariamente, estarem em contato com livros e outras formas de literatura considerados mais acadêmicos.


Por isso, é importante encontrar formas de incentivar a leitura. Por mais que existam muitos formatos e até mesmo recomendações, há anos que os estudiosos têm se voltado para a possibilidade de aplicar com os alunos formas de literatura mais populares, conhecidos pelo fácil acesso e pela linguagem que se aproxima com a realidade dos alunos.


Entre as possibilidades, há a literatura de cordel. Milenar, essa é uma expressão popular que tem como características principais a presença de xilografias e de levar para o formato escrito as histórias orais. Muito utilizado já como um instrumento educacional no Nordeste, o cordel tem se espalhado cada vez mais pelas demais regiões, se consagrando como uma alternativa educacional.


O presente trabalho levanta a hipótese de que o cordel pode ser um dos elementos que pode conseguir romper a barreira da leitura e incentivar os diferentes públicos para o desenvolvimento de um hábito, consagrando seu espaço como um instrumento educacional importantes.


O objetivo principal do trabalho é investigar como o cordel pode ser utilizado para o incentivo da leitura. Como objetivos específicos, propõem-se:

a) estabelecer qual o percurso histórico do cordel dentro da história e da sociedade brasileira;

b) compreender como é realizado o processo para a produção de um cordel;

c) observar de que forma o cordel pode ser utilizado como incentivo à leitura e quais são as estratégias associadas a essa medida.


Para realizar o trabalho, foi utilizada como metodologia principal uma revisão bibliográfica crítica. O objetivo é estabelecer o que já foi falado sobre o assunto, sem desconsiderar os posicionamentos do autor. Para isso, foram pesquisados livros, teses, dissertações e artigos científicos sobre o tema. Foram utilizados os principais bancos de dados acadêmicos do Brasil e do mundo. Em um primeiro momento, foi feita uma seleção baseada em palavras-chaves. Na sequência, foram selecionados apenas os trabalhos que poderiam contribuir para os objetivos.

 

2. DESENVOLVIMENTO

 

O Cordel é uma forma de literatura que está muito presente dentro da sociedade brasileira. Especialmente, o Cordel tem um grande público no norte e nordeste do Brasil. No entanto, essa é uma forma que tem presença em todo o país. Segundo Nogueira (2009, p. 05), esse formato “aguçam no leitor a vontade de ler mais, por serem pequenos textos, alguns até agraciados com ilustrações chamadas xilogravuras”. Essa é uma das principais características do Cordel, a presença de textos em conjunto com as figuras, nesse caso, a xilografia.


O formato de ilustração é, exatamente, a gravura que é realizada por meio de uma matriz de madeira (NOGUEIRA, 2009, p. 05). O Cordel possui características próprias além do seu design. Esse gênero conta com um custo baixo de produção, além de ser uma manifestação cotidiana e humorística. A linguagem utilizada também é outra marca, uma vez que é cercada de rimas e voltadas para a expressão poética.


Nogueira (2009, p. 05) ainda destaca que a linguagem que o Cordel utiliza pode ser tanto lida quanto cantada, acompanhada com instrumentos. Essa uma das marcas que o Cordel carrega: a sua herança falada. Essa literatura nasceu, e ainda representa, uma expressão daquilo que é falado, perpetuando as histórias que são oralmente difundidas entre as gerações.


Na sua temática, a literatura de cordel aborda a realidade, sempre buscando a conexão com os espectadores. Destaca-se que o Cordel não possui limitações, sendo produzido a partir das considerações do autor. Ou seja, há a possibilidade de se falar dos mais diversos temas, desde questões históricas e atuais, sem excluir a presença de temas polêmicos, como religião e política, nem mesmo se conectar com a realidade ou se prender com lendas e demais expressões.

 

Por mais que no Brasil essa seja uma expressão regionalizada, considera-se que o Cordel não tem origem nesse país. A origem dessa literatura não é completamente clara e pode ser, até mesmo, considerada controversa. Segundo Santos (2011, p. 01), mesmo que a sua posição geográfica inicial não possa ser recuperada, todos os estudiosos consideram que a é possível determinar que essa é uma tradição européia, que chegou ao Brasil por meio da colonização portuguesa.


A “Literatura de Cordel”, vem de Portugal, começou aí por volta do início do século XVII (século 17), mesmo porque, a poesia é eterna, vem da alma dos poetas, dos declamadores, dos cancioneiros e temos notícias já do século XII (século 12), quando ainda falavam o português arcaico, de poesias que ficaram gravadas para a posterioridade, como do poeta dessa data: João Rodrigues de Castelo Branco (COSTA FILHO, 2007, on line).

 

Segundo Fernandes (2016, p.18), foi, por muito tempo, afirmado que a literatura de Cordel era uma expressão nascida no Renascimento, por volta do século XVI. Nesse momento, iniciou-se uma transformação, que levou os relatos orais a começarem a ser impressos, perpetuando a presença e o alcance destes. Vale ressaltar que a tradição oral era uma das características do movimento trovadoresco, que levava de uma parte a outra da Europa as histórias dos reinos e das demais sociedade que compunham esse momento histórico.


A partir do momento em que passam a ser impressos, esses modelos segue o caminho da tradição oral. Com isso, seguem a se espalhar pela Europa, sendo encontrados em diferentes partes. Em Portugal, os nomes que esse formato recebeu foi: folheto, folha, colantes, literatura de cego até o momento em que passa a ser denominado por cordel (FERNANDES, 2016, p. 18).


Cada um desses nomes expressava o que eram esse formato ainda em seus momentos primitivos. Logo no início, por exemplo, sua impressão se dava em pequenas folhas, com poucas páginas, feito em folhas soltas (FERNANDES, 2016, p. 19). Dos nomes, literatura de cego foi a mais diferenciada e deriva de uma legislação que determinava que apenas pessoas cegas poderiam vender esse tipo de literatura. Segundo Fernandes (2016, p. 19), essa lei foi resultado de um pedido realizado por uma instituição da Lisboa.


O nome cordel nasceu da forma como a venda era realizada. Segundo relatado, todos os livros eram expostos em um barbante ou cordão. Em provençal, essa palavra é traduzida como cordel, originando o nome que essa literatura carrega até hoje (FERNANDES, 2016, p. 19). Esse nome perdurou, atravessando o oceano e chegando à colônia. Vale destacar que essa forma de exibir os trabalhos não era apenas uma maneira de deixá-los à mostra, mas também uma forma de permitir que eles secassem adequadamente, uma vez que a impressão era de baixa qualidade.


Por mais que tenha chegado aqui por meio da colonização portuguesa, esse tipo de literatura se espalhava para outros países, principalmente a Espanha. Por isso, como destaca Fernandes (2016, p. 20), quando se aborda o percurso de qualquer expressão artística desses dois países, é importante considerar a presença da influência dos árabes, uma vez que tanto Portugal como Espanha passaram por colonização.


Um exemplo apresentado por Fernandes (2016, p. 20) é exatamente em relação à tradição oral de contação de história que esse povo levou para a península ibérica. Normalmente, as histórias eram contadas em praças públicas, acompanhadas de instrumentos musicais. Os medajs, como eram chamados, sempre buscavam resgatar atos de heroísmo enquanto celebravam a memória do seu povo.


Com sua história e tradição, o cordel se manteve como uma literatura muito importante dentro do Brasil. Nogueira (2009, p. 5) aborda um fato importante da história e constituição do Brasil. No início do século XX, como argumenta a autora, o analfabetismo chegava a 70% da população acima dos 15 anos. A escolarização, de forma geral, era precária e voltada para uma elite, que consuma escrita, leitura e cultura. Enquanto isso, ao resto da população, eram reservadas as manifestações populares, como a tradição oral, o cordel e outras formas de expressão.


Por conta disso, o cordel foi uma forma muito explorada tanto por sua função cultural, mas por ser um produto fácil de ser encontrado e utilizado para a educação da população. Especialmente, esse era um produto que tinha uma história conhecida pela população ao mesmo tempo em que era fácil de ser encontrado. Por isso, sua presença nos espaços escolares, e sua função na educação, começou a aumentar com grande influência e, até mesmo, se transformando em um ponto importante na aprendizagem das mais diversas matérias.


Barja (2010, p. 683) destaca que foi no Nordeste que a utilização do cordel com fins pedagógicos iniciou. Uma vez que essa região tinha como característica a produção cultural e, ao mesmo tempo, era o território em que mais se desenvolvia as técnicas e perpetuava a histórias populares. Especialmente o Ceará e Paraíba se destacam na produção dessa literatura.


Com a migração que ocorreu no Brasil, especialmente com o incentivo do governo para o desenvolvimento de outras regiões, o país passou a desenvolver um grande fluxo de pessoas de um espaço para outro. Assim, as culturas passaram a ser difundidas em diferentes locais. Com o cordel não foi diferente.


A chegada dessa literatura permitiu que ela passasse a ser utilizada no contexto educacional em diferentes estados, além de colaborar para a aprendizagem de diferentes culturas e expressões, o cordel também passou a ser utilizado como uma estratégia dentro das propostas educacionais. Como destaca Barja (2010, p. 683), o sucesso desse método permitiu que autores passassem a estudar essa manifestação, e concluíram que essa é uma literatura que ultrapassa fronteiras, oferecendo uma experiência que une uma arte e comunicação, sendo enriquecedora, especialmente importante para crianças e jovens.


Por conta disso, novas estratégias passaram a ser consideradas. Vale ressaltar que o cordel, devido a sua familiaridade com os as histórias. Além disso, a união da imagem com o texto é um formato consagrado para a facilitação da leitura. Assim, além de permitir que facilite as estratégias de alfabetização nas mais diversas matérias, o cordel também pode ser utilizado como um incentivador da leitura.


Vale considerar que o cordel possui um formato que:


Olhando por esse aspecto, podemos afirmar que a Literatura de cordel traz marcas que, de certa forma, corroboram com as ideias do filósofo Walter Benjamim (1993), quando este destaca a importância da experiência enquanto fonte de sabedoria. Pois se observarmos, o que move tal literatura é exatamente a experiência que seus poetas adquirem ao longo de sua vida/profissão, a fim de representar seu povo com seus versos e poemas.

 

Essa conexão tanto com a história de uma sociedade como com a própria história do autor aumentam a conexão que os leitores podem desenvolver com o livro e com o autor. Há uma verossimilhança que permite ao leitor conceber o texto como real, especialmente devido aos pontos de desenvolvimento.


Além disso, quando se trata de incentivar a leitura, contar com histórias e materiais que possam ser reconhecidos pelos alunos é um ponto importante, pois faz com que o processo seja mais simples de ser completado, além de que as possíveis interpretações erradas são diminuídas.


Outro ponto que o cordel possui e que facilita as estratégias de incentivo a leitura é a forma simples de realização. Há uma ideia de valorização do que parece mais produzido, porém, com o cordel, o que se destaca é a técnica, que permanece praticamente a mesma a séculos. Assim, o leitor pode se concentrar nas principais características da história, sem se preocupar com os desenvolvimentos.


A facilidade da leitura, no entanto, não significa um texto menos complexo ou um produto cultural mais simples. Na verdade, o cordel é uma expressão que consegue, ao mesmo tempo, agregar diferentes categorias que podem, de maneira simples e sem grandes traumas, inserir o hábito de leitura até mesmo nas pessoas mais distantes dessa prática.


Assim, o cordel pode ser utilizado dentro das práticas escolares de incentivo a leitura, sozinhos ou em conjunto com outras estratégias. Vale destacar que para a leitura ser mais proveitosa, é importante que o percurso histórico desse produto cultural seja explicado, especialmente a sua forma de confecção, que até hoje é conhecida por ser o mais manual possível.

 

3. CONCLUSÃO

 

A literatura de cordel é uma expressão cultural importante, que guarda em seu formato e história milênios de tradição, uma vez que ela é uma forma de manter a oralidade viva, mesmo que modificada. Por isso, a utilização dessa literatura em sala de aula pode ser eficiente, mas depende de uma estratégia educacional completa.


Destaca-se que o sucesso, ou não, do cordel como incentivador da leitura é resultado direto da forma como ele será utilizado. Por isso, é difícil estabelecer sua eficiência real. Para trabalhos futuros, recomenda-se observar em um trabalho de campo como a utilização do cordel pode ser realizada em sala de aula e quais os resultados alcançados durante o período de observação.

 

4. REFERÊNCIAS

 

BARJA, Paulo Roxo. O Cordel como mídia alternativa em programas de saúde e educação ambiental. Revista Extraprensa, 2010, 3.3: 680-689.


FERNANDES, Luzia Kalene. O uso da literatura de cordel no ensino fundamental (anos finais): proposta de material didático / Luzia Kalene Fernandes. – Pau dos Ferros, RN, 2016. Disponível em: http://www.uern.br/controledepaginas/defendidasem2016/arquivos/3862luzia_kalene_fernandes.pdf


NOGUEIRA, Ângela Maciel. Origem e Características da Literatura de Cordel. 2009. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/ea00709a.pdf


SANTOS, Éverton Diego R. A reinvenção da tradição: a literatura de cordel no século XXI. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300632359_ARQUIVO_ArtigoAnpuh2011semresumo.pdf

 


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publicação de artigo científico

Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).



Como citar esse artigo:


MARTINS, Flaviana Cardoso. Incentivo à leitura por meio da literatura de cordel. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 383-391. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.021


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