STUDY OF CANTO V OF OS LUSIADAS BY LUIS DE CAMÕES: ANALYSIS OF THE MAIN MYTHOLOGICAL FRAMEWORKS
Como referenciar esse artigo Miranda, Lopes e Oliveira (2024):
MIRANDA, Alberto Sarges; LOPES, Alenilda Francisca de Lima; OLIVEIRA, Sandra Guimarães. Estudo do Canto V de Os Lusiadas de Luis de Camões: análise das principais matrizes mitológicas. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 3, 2024; p. 42-56. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n3.003
Autores:
Alberto Sarges Miranda
Professor da rede pública, graduado em licenciatura em letras habilitação em português e Inglês e respectivas literaturas, pelo Centro Universitário Fibra- PA. PÓS - graduado em ensino da língua portuguesa pela FAMART- MG, Pós-graduado em ensino da língua inglesa pela FAMART- MG. – Contato: jmirandasarges@gmail.com
Alenilda Francisca de Lima Lopes
Professora da rede pública, Graduada em licenciatura plena em História Universidade do estado Vale do Acaraú - Ceará com segunda licenciatura em Pedagogia pela FAVENI. Pós-graduada em História. Faculdade de Tecnologia equipe Darwin. – Contato: professoraalenilda@gmail.com
Sandra Guimarães Oliveira
Professora da rede pública, Graduação em Licenciatura Plena em Letras, FAG-TO, Gestão Ambiental, UNOPAR-PR, Pedagogia -UNINTER. Pós-graduada em Língua Espanhola e Secretariado Escolar. – Contato: golsandra@yahoo.com.br
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RESUMO
O presente trabalho refere-se à análise estilística das matrizes mitológicas Greco romano do canto V do poema épico de os Lusíadas, buscou-se analisar, o texto camoniano a partir da discussão da história de Portugal e da mitologia apresentada pelo autor, para explicar a idéia de camões, e o que ele conta dentro de sua visão para o processo de formação da nação Lusitana. A metodologia da pesquisa caracteriza-se como do tipo descritiva e aplicada com uma abordagem predominantemente qualitativa. Analisaram-se os aspectos históricos do classicismo, características, aspectos estilísticos e influências que sofreu a escola. Para a análise das matrizes mitológicas do canto quinto da epopéia clássico-renascentista, foi realizado um levantamento na obra épica Lusitânia e as demais literaturas que nos embasaram para tal estudo de análise do objeto de pesquisa. O Instrumento de pesquisa utilizado foi acerca dos mitos Greco- Latino desenvolvido com perfeição pelos clássicos gregos. A partir da análise e dos resultados obtidos, chegou-se a compreensão da historiografia e visão poética do autor. Os resultados da pesquisa evidenciaram a importância que o tema clássico possui para a sociedade acadêmica literária atual, para uma possível contribuição científica nos estudos de análise literária.
Palavras-chave: Matrizes Mitológicas; Epopéia; Classicismo; Os Lusíadas.
ABSTRACT
This paper pertains to the stylistic analysis of the Greco-Roman mythological frameworks in Canto V of the epic poem "Os Lusíadas". It sought to analyze the Camonian text through the discussion of Portuguese history and the mythology presented by the author, to explain Camões's idea and his perspective on the formation process of the Lusitanian nation. The research methodology is characterized as descriptive and applied with a predominantly qualitative approach. Historical aspects of classicism, characteristics, stylistic aspects, and influences that the school underwent were analyzed. For the analysis of the mythological frameworks of the fifth canto of the classical-Renaissance epic, a survey was conducted in the epic work "Lusitania" and other literatures that provided the basis for this study of the research object. The research tool used focused on the Greco-Latin myths, developed to perfection by the Greek classics. From the analysis and the results obtained, an understanding of the historiography and poetic vision of the author was reached. The research results highlighted the importance that the classical theme holds for the current academic literary society, for a possible scientific contribution in the studies of literary analysis.
Keywords: Mythological Frameworks; Epic; Classicism; Os Lusíadas.
1. INTRODUÇÃO
Uma análise das matrizes mitológicas presentes no canto V de Os Lusíadas é o que foi estudado, para mostrar a ideia que o autor Luís Vaz de Camões apresenta na sua epopeia clássica “Os lusíadas”, que é a obra literária portuguesa de maior destaque dentro da literatura mundial, o processo de formação da nação portuguesa, a historiografia de um período de enorme prestígio da tradição cultural greco-latina.
Defrontamo-nos com a busca e análise das matrizes mitológicas presente no canto V do texto camoniano, precisando assim, depreender a discussão da historiografia Lusitana pelo seu herói Vasco da Gama e a sua visão poética. Discorrendo sobre nossa inquietação, se formula a seguinte pergunta: – Qual a idéia de Luís Vaz de Camões, quando ele relata na poesia os grandes feitos na sua empreitada na história de Portugal?
– Qual é a visão dele para O processo de formação da nação portuguesa? Como explicar esse processo usando a mitologia? Essas são as inquietações que despertou o interesse pelo assunto.
A principal motivação para sustentar o presente artigo, está na importância que o tema clássico possui para a sociedade acadêmica literária atual, para uma contribuição científica nos estudos de análise literária, sua leitura é imprescindível, além de ser prazerosa, contribui para o enriquecimento intelectual e cultural de cada pesquisador, desenvolvendo seu senso crítico e despertando-o para novas experiências, e ganha importância meteórica na sociedade por simplesmente ser a ferramenta que registra todo tipo de informação, acontecimentos, histórias da narrativa à ficção.
2. BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PESQUISA
O diálogo entre as obras durante a construção do artigo começou pela busca da história do classicismo, uma análise do que foi o classicismo, característica do classicismo, influências que sofreu a escola, os aspectos literários e estilísticos. Investigou-se o poema épico, partir da discussão da história de Portugal e da mitologia apresentada pelo autor no canto quinto de os lusíadas. Primeiramente, analisaram-se os aspectos históricos, aspectos estilísticos e aspectos literários, depois se analisou a mitologia do canto quinto de os lusíadas. Para o aprofundamento desses itens, foi necessário buscar fontes bibliográficas que tratam desse tema, tendo sido realizada a leitura e análise de algumas obras que abordam o assunto.
Para o alicerce teórico deste trabalho, escolheram-se as respectivas obras: Antônio José Saraiva (história da literatura portuguesa). Selecionamos esta obra, porque nos deu base para as análises sobre o contexto histórico do classicismo e a vida e obra de Luís Vaz de Camões. Portanto, esta obra foi imprescindível para este trabalho nas análises dos aspectos histórico, estilístico e literários do classicismo.
Saraiva apresenta no aspecto literário as regras estéticas do classicismo, dizendo que: “O humanismo adotou como modelo as regras, os gêneros, as formas métricas, os recursos estéticos e a disciplina gramatical dos antigos autores Greco- romano”. Saraiva também comenta a respeito do classicismo europeu do século XVI, que foi constituído por uma latinização dos italianos das diversas literaturas nacionais quase sempre feita com o desequilibro, o exagero de todas as inovações.
MASSAUD Moisés, (literatura portuguesa e literatura através dos textos). Estas obras foram essenciais para o nosso embasamento teórico relacionado com as características do classicismo, a estética clássica, a vida do autor e análise do canto V de Os Lusíadas. Na concepção de MASSAUD Moisés, o classicismo foi à doutrina artística que surgiu na renascença fundamentando-se na literatura e nas artes da antiguidade Greco e latina.
Na estética clássica, o classicismo consistia em uma característica marcante “O Belo”, foi desenvolvido pelos filósofos gregos e refletido em suas obras como esculturas, Arquiteturas e pinturas. O belo é o maior conceito da estética clássico grego romano.
Para a análise das matrizes mitológicas contidas em Os Lusíadas no canto V, escolhemos a respectiva bibliografia de Thomas Bulfinch, O livro de ouro da mitologia, A idade da fábula, A história de deuses e heróis. Esta obra nos deu o suporte teórico na análise mitológica, e tendo assim o embasamento no nosso objeto de pesquisa que muito nos ajudou na realização de nossa análise. Bulfinch explica nesta obra detalhadamente, a história de cada mito onde estudamos cada matriz mitológica existente no canto V e relacionando com o canto da Epopeia. Essa análise é o trabalho propriamente dito, usamos a mitologia para explicar a ideia de Camões, a visão dele para o processo de formação da nação portuguesa.
Foram utilizadas todas as obras anteriormente citadas para estas análises tendo sido realizada a leitura das mesmas que abordou o assunto.
Nesse segundo momento da Construção do artigo, buscaram-se analisar o poema camoniano "os lusíadas", o canto V e investigou-se o mesmo texto a partir da discussão da história de Portugal e da mitologia apresentada pelo autor. Usou-se a mitologia para explicar a idéia de camões e o que ele conta na história de Portugal, trazendo uma resolução para o nosso objeto de estudo.
As obras mencionadas anteriormente foram utilizadas para as nossas análises de pesquisa, pela razão daquelas nos concederem os subsídios necessários teóricos para organização dos pressupostos da análise.
Na criação da epopeia camoniana, assim comenta SARAIVA (1950, p. 345), o tema geral escolhido por camões para o seu poema foi, toda história de Portugal, como se ver pelo próprio título: “Os Lusíadas”, esta palavra (neologismo inventado por André de Resende), significa os portugueses, que a erudição humanística nobilitava como descendentes de luso, companheiro de Baco.
A origem do nome da obra “os lusíadas”, nasce na lenda do surgimento da Matriz portuguesa, segundo a qual Luso o filho de Baco, fundou no ocidente da Península Ibérica, um reino chamado Lusitânia. Com o estabelecimento do Império Romano na península, em busca de expandir seu território e dominar as regiões, eles dividiram em províncias, porém o nome se fixou ainda que no domínio dos romanos. Foi desse contexto histórico que Luís de Camões criou uma nova palavra oriunda dessa retrospectiva para dar o nome a sua epopeia chamada Os Lusíadas, que faz referência ao povo de Luso, gente das terras Lusitanas.
3. ANÁLISE HISTÓRICA E ESTILÍSTICA
3.1 DESENVOLVIMENTO DO CLASSICISMO
O retorno as formas clássicas, foi à proposta estética do renascimento e nesse contexto surgiu o movimento cultural estético e ideológico denominado classicismo nos séculos XV e XVI. Seu horizonte cultural era voltar às formas da antiguidade clássica e por isso está intimamente ligada à Renascença onde se terá rompimento com o medievalismo e o teocentrismo e a incorporação do antropocentrismo com o desenvolvimento da ciência, onde o homem passa a ser o centro do universo não mais se ligando as questões religiosas como na idade média.
Foi no Ímpeto revolucionário da renascença, e com o desenvolvimento natural do humanismo, que o classicismo se difundiu amplamente, por corresponder, no plano literário, ao geral, e efêmero complexo de supremacia histórica. MOISÉS, Massaud (2010, p. 66).
Retoma-se então, as ideias greco-romanas; o artista não quer mais apenas contemplar a natureza, mas interessa-se em estudá-la e imitá-la, a individualidade do artista é valorizada em contraposição a coletividade das obras clássicas.
A burguesia começa a ascender, percebe-se o súbito crescimento do homem pelas atividades mercantilistas e o desenvolvimento científico com o aperfeiçoamento da empresa cooperando para manifestar idéias inovadoras e contribuir para a cultura, A descoberta do caminho marítimo para as índias, empreendida em 1498 por Vasco da Gama, e logo o achamento do Brasil, a visão do mundo concedido pelas grandes navegações. Todo esse contexto fez desenvolver as ciências e as artes na Europa fazendo a cultura grego-latina renascer na idade média.
3.1 O CLASSICISMO EM PORTUGAL
Inicia-se o classicismo em Portugal com a incorporação das formas Líricas na poesia, difundidas na Itália por Sá de Miranda: Elegias, éclogas, epístolas, a Ode, a comédia clássica. A mitologia e lendas, o uso de deuses e musas passa a ser temas na literatura e na arte.
Em 1527, depois de ausente seis anos, Sá de Miranda regressa da Itália, onde convivera com estudiosos peninsulares impregnados das novas ideias levando-as para Portugal. MOISÉS, Massaud (2010, p. 67).
O soneto mais difundido foi o de Petrarca e os clássicos portugueses propagaram os sonetos, mas foi com Camões que se chegou à perfeição. Sá de Miranda colaborou para que os versos decassílabos fossem difundidos e tornou-se Pioneiro na divulgação da estética clássica em Portugal, assim as formas clássicas são introduzidas em Portugal até 1580 com a morte de Camões e o domínio da Espanha.
No início do classicismo, percebe-se que foi mais marcante em Portugal após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o poder político e econômico sob a chefia do rei, a exploração do ouro no norte da África, a exploração econômica ultramarina com o monopólio da coroa.
O marco inicial do classicismo compreende-se por tanto com a chegada do poeta Francisco Sá de Miranda a Portugal. Inspirando por novas ideias do humanismo italianizante, Sá de Miranda trouxa nova forma de poesia e tais ideais clássicos vigoraram de algum modo até o século XVIII sob formas diversas, paralelas, quando não opostas, as tendências em moda ou incongruentes.
3.2 CARACTERISTICA E ESTÉTICA CLÁSSICA
As obras clássicas eram criadas segundo as fórmulas, as medidas empregadas pelos artigos, obedecendo às regras estabelecidas como leis da obra literária. Os escritores passaram a introduzir em suas obras temas pagãos, além do ideal do amor platônico, a exaltação do antropocentrismo, a imitação de autores clássicos, a predominância da ciência e da razão, o uso de linguagem simples e precisa, oculto da beleza e da perfeição.
O classicismo consistia antes de tudo, numa concepção de arte baseada na imitação ou mimese dos clássicos gregos e latinos, considerados modelos de sua perfeição estética. MOISÉS, Massaud (2010, p. 67).
Essas características estavam ligadas às formas clássicas da Grécia antiga e da Roma antiga. As formas mais usadas no classicismo eram a busca pelo equilíbrio, pureza, rigor da forma, com a perfeição e o senso de proporção.
O racionalismo conceito que atribuiu importância a arte clássica racionalista à “razão”, usada nas construções das ideias. Na estética clássica uma característica marcante era o “belo” um pressuposto dado pelo sistema da filosofia, o pensamento filosófico voltado sempre para a valorização do homem e seu lugar no universo, esta era a concepção de arte refletida nas obras como; escultura, arquitetura e pintura, procurando a beleza, o bem e a verdade. É importante ressaltar, que o classicismo em Portugal, não se sobrepôs totalmente à mentalidade medieval cultivando-se ainda aspectos da cultura medieval dentro de poesia de medida velha.
O classicismo literário tinha o uso nas formas voltado para o seu rigor, com uma estrutura fixa de dez sílabas métricas, modelo decassílabo, substituindo a redondilha maior que tinha sete sílabas métricas e as estrofes com limites apresentando rimas, o uso de figuras de linguagem como paradoxo a antítese e a personificação. Luís de Camões usa a personificação nos elementos da natureza em deuses gregos, tomando por base o modelo da epopeia clássica e apresentando também características originais. O núcleo da obra é uma viagem, tendo Camões tomado por base o modelo das epopeias clássicas, mostrando todas as aventuras da primeira expedição marítima ao oriente trazendo para o mito as histórias e os feitos de um herói nesta mesclagem maravilhosa exaltando Os Lusíadas e comparando com os heróis clássicos, baseando-se nos acontecimentos originais e verídicos que foi toda a trajetória marítima do expansionismo português.
4. ANÁLISE MITOLÓGICA
Igualmente como nos clássicos, Camões tem apropriação da mitologia; na sua genialidade e erudição, as recria para que haja a fusão do real e do mito dando um caráter épico e projetando o herói português e seus argonautas na galeria de heróis clássicos.
Camões então incorpora elementos míticos extraordinários associados ao imaginário desbravador nauta português à história portuguesa, a influência dos deuses e mitos clássicos se confunde com a história Lusitana, mas o grande herói não é um personagem, mas sim o povo, e pudemos perceber esta diferença entre os heróis "Vasco da Gama e "Ulisses" uma relevante diferença entre eles; Vasco da Gama que é o herói de Os Lusíadas, desrespeito a historia do povo português o herói é coletivo, fazendo parte desse heroísmo sua tripulação e as personagens mitológicas. Na epopeia de Homero, o herói Ulisses é individual, a história centra-se nele, e nesse engenho, Camões funde o tempo mítico com o tempo histórico.
Os versos camonianos exaltam os feitos dos ousados lusitanos na representação das peripécias de um herói tornando pretexto para que toda a história de Portugal seja contada.
Na criação da epopeia camoniana, assim comenta SARAIVA (1950, p. 345), o tema geral escolhido por camões para o seu poema foi, toda história de Portugal, como se vê pelo próprio título: “Os Lusíadas”, esta palavra (neologismo inventado por André de Resende), significa os portugueses, que a erudição humanística nobilitava como descendentes de luso, companheiro de Baco.
A origem do nome Da obra “Os Lusíadas”, nasce na lenda do Surgimento da matriz portuguesa, segundo o qual luso filho de Baco, fundou no ocidente da península ibérica, um reino chamado Lusitânia.
Os Lusíadas como visto anteriormente, segundo SARAIVA (1950, p. 345), significa os português por conta da matriz Luso filho de Baco fundou no ocidente da península ibérica a cidade de Lusitânia.
N’Os Lusíadas o objetivo é cantar a pátria à história de Portugal, nos versos invejáveis, celebra os feitos e a fama de um povo que se denominava lusitano.
Quando Camões relata na poesia os grandes feitos de Vasco da Gama, é para exaltar toda a história passada de Portugal e com isso torna pretexto para que esta história seja cantada, enaltecendo o peito ilustre Lusitano, uma homenagem grandiosa de canto da nacionalidade portuguesa. Sua visão é uma tentativa de construção de um futuro mais importante que o passado, o mito do domínio lusitano, a influência dos deuses e mitos clássicos, usando o seu herói coletivo, simbolizado pela nação portuguesa, para mostrar a formação da história de Lusitânia. Por meio dessa poesia enriquecida da mitologia, temos o acesso à formação da nação portuguesa que é uma grande ideia de superação do povo português, e suas conquistas que nenhum povo jamais teve.
No canto V, Vasco da gama exaltará os acontecimentos experimentados por sua amada. Na composição do enredo histórico do canto V, descansando por alguns dias em Melinde, a pedido do rei local, Vasco da Gama narra toda a história portuguesa, desde as suas origens até a viagem que empreenderam, dando especial relevo as perigosas coisas do mar, prende a atenção do rei ao falar dos espantosos fenômenos da natureza, como o fogo de Santelmo ou a tromba marítima, bem como para vários perigos e impedimentos que os portugueses tiveram que enfrentar como; a hostilidade dos nativos na costa da África (episódio Fernão Veloso), a passagem do cabo das tormentas (episódio do Adamastor), a terrível doença do escorbuto e as considerações de Camões sobre o desprezo dos seus contemporâneos face às letras e as artes, àqueles que desprezavam a poesia. Adamastor integra um maravilhoso plano na poesia a genialidade e erudição de Camões na criatividade para dar o caráter mitológico ao canto V nas estrofes de 37 a 60, que serão enfatizadas neste artigo.
A saga que funde mitos e fatos históricos inicia-se depois de uma introdução, uma inovação e uma dedicatória ao rei D. Sebastião. O herói coletivo exaltado pelo povo lusitano e simbolizado pelo mesmo, começa a manifestar suas peripécias nos mitos extraordinários depreendendo o processo de formação da nação Lusitana por intermédio dos fatos históricos.
Vasco da Gama narra toda a história Lusitana desde a sua origem até a viagem as índias. Ele é o herói que navegando pela costa da África com sua expedição, passa a ser observado pela assembléia dos deuses, que logo discutem a situação dos portugueses. Este é o recurso mitológico que Camões se apropria cruzando os planos da viagem à Índia e da história de Portugal com o plano da mitologia.
4.1 OS PRINCIPAIS DEUSES DO PANTEÃO
Os deuses do Olimpo originam-se da mitologia grega, séculos depois, os romanos apropriam-se dos deuses gregos, dando-lhes nomes latinos. Júpiter: Rei dos deuses, Deus das condições meteorológicas, casado com Juno;
Juno: rainha dos deuses, deusa do casamento, casada com Júpiter.
Netuno: Deus dos mares, não gosta que homens tenham a ousadia de atravessar o seu domínio, por vezes convoca o Deus Éolo e juntos provocavam terríveis tempestades no mar. Marte: deus da terra, da violência e da carnificina.
No concílio dos deuses, Marte toma partido dos portugueses, tendo a aprovação da deusa Vênus, deusa do amor, casada com Vulcano. Manifesta-se a favor dos portugueses, intercedendo em sua defesa no concílio dos deuses e ajudando os nautas na viagem que empreenderam. Venus resolve auxiliar o herói, enquanto Baco deus do vinho, da folia e da alegria no concílio dos deuses revela-se inimigo dos portugueses, tentando impedir que os marinheiros lusos cheguem à Índia, arma- lhes ciladas para ver o infortúnio dos nautas lusitanos e convoca os deuses marítimos para destruir a frota portuguesa causando uma terrível tempestade.
“As divindes aquaticas, Tétis e Oceano eram os Titãs que governavam os elementos líquidos, até serem sucedidos por Netuno e Afrodite”. BULFINCH (2009, p. 222).
Cupido: Deus do amor filho de Vênus, representado como um jovem ou como uma criança que se diverte a perturbar e inflamar os corações dos seres humanos e das divindades com suas flechas, como no episódio da ilha dos amores, onde, por ação de Vênus e cupido Vasco da gama e seus argonautas receberam o prêmio do seu esforço; a ilha paradisíaca com as ninfas.
Apólo: Deus da música da poesia e da luz, um deus formoso e muito belo cujo era desejado por homens e mulheres. Ele é visto também como a divindade da juventude e da luz. Como deus da justiça, Apolo utilizava um arqueiro o qual tinha um bom domínio. Mercúrio: Ele era o deus dos comerciantes e dos ladrões, é o mensageiro dos deuses, sendo também, a personificação da inteligência.
Vênus: a deusa do amor e da beleza é equivalente a Afrodite na mitologia grega. Filha de Júpiter e Dione, mais existem duas teorias sobre a origem da deusa. A primeira diz que ela foi gerada pelas espumas do mar dentro de uma espécie de concha, outra afirma que a deusa é filha de Júpiter e Dione.
Na assembléia dos deuses todos ficaram encantados com a beleza de Vênus, muito desejada por todos, Júpiter a entregou para Vulcano, em gratidão pelo serviço que ele prestara, forjando os raios. A mais bela das deusas, tornou-se então esposa do menos favorecido dos deuses. Vênus tinha um cinto bordado que havia poder para inspirar o amor, suas aves preferidas eram os pombos e os cisnes, e a rosa e o mirto eram plantas que dedicavam a essa divindade.
Vulcano: Deus da forja e dos metais fabrica os raios que Júpiter a tira a terra em dias de tempestade; Diana: Deusa dos bosques e da caça. Minerva: Deusa da sabedoria, das artes e da literatura. Éolo: Deus dos ventos, dele depende os quatros ventos; Bóreas/Aquilão vento norte; Euro/Vuturno vento leste; Noto/Austro vento sul; Zéfiro/Favónio vento Oeste.
As Musas são nove divindades, filhas de Zeus e de Mnemósine, além de entoarem hinos para deleite dos deuses, presidem a todos as formas de sabedoria: dança poesia, música, história, matemática, astronomia, tragédia e comédia.
N'Os Lusíadas, Luís de Camões pede inspiração a Calíope (Musa da poesia épica). As Ninfas são divindades femininas que personificam o espírito da natureza, habitam nos bosques, o campo ou as águas. N'Os Lusíadas, Camões pede inspiração as Tágides (Ninfas do rio Tejo). No episódio do Adamastor, Tétis, uma ninfa marinha, já no episódio da ilha dos amores surgem às ninfas dos bosques e a ninfa Tétis que faz companhia para Vasco da Gama.
A esquadra portuguesa viajava rápida e próspera até uma nuvem escura que surgira no céu sobre as cabeças dos argonautas aparecer. Poderosa, e carregada era aquela nuvem que encheu de medo o coração dos marinheiros. A apresentação do terror naquele cenário onde havia elementos associada ao medo, a escuridão, o rugido constante, o tamanho da ameaça personificada no cabo tormentório nunca conhecido por geógrafos da antiguidade, esta criatura de aparência cadavérica e o tom de voz horrendo muito grave saindo das profundezas do mar, poder-se-ia jurar que esta figura era o segundo colosso de Rodes. Por este ser tão terrível eram ditas exaltação para Vasco da gama sobre sua ousadia em desvendar o desconhecido, o que nenhum ser se atrevera a tentar descobrir. Isto era uma forma de exaltar o extraordinário feito do expansionista português na sua conquista do conhecimento, o gigante representava o maior de todos os obstáculos. Para o objetivo da viagem dos argonautas, exageradamente ofendido com a ousadia portuguesa, Adamastor insere uma perspectiva de pessimismo, profetiza ameaças, já que estas gentes ousadas descobriram os segredos do mar, e afirmara que nunca fora conhecido por outros e diz que se vingará do seu descobridor Bartolomeu Dias e cita desgraças da família de Manoel de Sousa Sepúlveda, dizendo que o destino será tenebroso. Mas Vasco da Gama interpela o gigante sobre a identidade do monstro ("Quem és tú?”). Este momento afirma a grandeza do homem português. Adamastor então conta as suas penúrias e diz que era um dos Titãs gigantes que lutara contra Júpiter. Adamastor sobre punha montes para alcançar o olimpo e buscava a armada de Netuno nos mares, decido lutar contra Netuno por amor de Tétis, filha de Nereu e Dóris, Tétis era tão bela que o próprio Júpiter desejou desposá-la e foi por essa beleza que Adamastor se arriscara sem sucesso.
Vasco da Gama ao ouvir a história do amor de Adamastor por Tétis e a punição da deusa, que o transformou no cabo das tormentas, vê o triste destino daquela criatura em que fora transformado. Tudo isto simboliza a vitória sobre o medo que os perigos ignorados da vida e da natureza estimularam nos seres humanos; o medo do mar tenebroso, das superstições medievais que povoavam o atlântico e índico de monstros e abismos, este é o plano histórico que mostra a superação do povo português contra o desconhecido. Camões no lirismo mostra o amor impossível e o sofrimento do amante que foi rejeitado, não correspondido e ao tentar apropriar-se desse amor provoca cólera de Júpiter, que o transforma no Cabo das tormentas o monstro lançado nos confins do Oceano Atlântico.
Este episódio sustenta o perfil do povo Lusitano, representado por seus navegantes e a coragem de um ousado herói coletivo que é a nação do reino chamado Lusitânia.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, buscou-se trabalhar com o nosso objeto de pesquisa para se depreender os questionamentos levantados na hipótese de resolver as possíveis questões que nos inquietaram. A priori foi analisada brevemente a história do classicismo o desenvolvimento deste no contexto do Renascimento surgido na Itália, voltando às formas da antiguidade.
O classicismo em Portugal teve o início marcado em 1527 pela chegada de Sá de Miranda em Portugal, trazendo as novas formas de poesia e novas idéias, onde passou a ser mais marcante após a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Enfatizamos também os aspectos estilísticos e características do período, onde foi visto a concepção de arte greco-latina da Grécia antiga e Roma antiga. Levantou-se as bases epistemológicas, para o nosso embasamento teórico os subsídios necessários nas bibliografias utilizadas para recursos na produção textual da pesquisa.
Analisaram-se as matrizes mitológicas do canto V das estrofes 37 a 60 de Os Lusíadas para depreender a ideia que o poeta apresenta na sua epopeia clássica, sobre o questionamento de sua ideia quando relata na poesia os grandes feitos na história de Portugal. E também visão dele para o processo de formação da nação portuguesa e como explicar esse processo, essas foram às inquietações levantadas.
Em nossa hipótese, chegou-se com a compreensão da historiografia e visão poética do autor, quando o mesmo relata na poesia os grandes feitos do herói centrado na representação da coletividade, este herói entrelaça ao lúdico do enredo demonstrando o heroísmo á nação portuguesa. Sua visão é uma tentativa de construção de um futuro mais importante que o passado, um mito do domínio Lusitano a influência dos deuses e dos mitos clássicos para mostrar a formação do povo de Lusitânia através da mitologia, a ideia de superação do povo português conquistas que nenhum povo jamais teve. A metodologia usada foi suficiente com uma abordagem qualitativa, a característica foi descritiva e aplicada, tiveram-se acesso às bibliografias que nós foram subsídios teóricos e nos ajudaram na resolução da pesquisa, todas de conformidades com o nosso objetivo de pesquisa. Por tanto, foi prazeroso ter acesso as leituras e produção de textos para construção desta análise nos motivando para importância que a temática possui para uma possível contribuição científica nos estudos de análise literária, sua leitura é imprescindível e prazerosa contribuindo para o enriquecimento intelectual e cultural de cada pesquisador, desenvolvendo seu senso crítico e despertando-o para novas experiências na construção do conhecimento. Recomendamos a leitura deste trabalho por ter uma temática que enfatiza a necessidade de pesquisa para a importância meteórica e é uma ferramenta no processo de conhecimento que registrará todo o tipo de informação, acontecimento, história da narrativa à ficção.
6. REFERÊNCIAS
SARAIVA, António José. História da literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, 1950, 1950.
MOISÉS, Massaud. A literatura Portuguesa. São Paulo: EditoraCultrix Ltda,2010.
BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da Mitologia: A idade da Fábula: História de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Editora Ediouro publicação S.A, 2002.
CAMOĒS, Luís de, 1525- 1580. Os Lusíadas. Ed. Comentada. Rio de janeiro: Biblioteca do Exército, 1980.
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Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
MIRANDA, Alberto Sarges; LOPES, Alenilda Francisca de Lima; OLIVEIRA, Sandra Guimarães. Estudo do Canto V de Os Lusiadas de Luis de Camões: análise das principais matrizes mitológicas. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 3, 2024; p. 42-56. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n3.003
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