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Tania Costa

ESSENCIAL OU NÃO ESSENCIAL?



Temos ouvido falar muito sobre este assunto nos últimos dias, devido a pandemia que assolou o mundo. Falam sobre a abertura dos comércios essenciais, mas o que não é essencial? Não que eu tenha uma opinião formada sobre o assunto, mas acredito que todo o comércio é essencial...talvez não seja sobre alguns pontos de vista, mas e sobre o ponto de vista do funcionário, que vai perder o emprego, ou do patrão que talvez venha à falência? O que falar, o que pensar?


O estudo é extremamente essencial, porém agora as escolas estão fechadas, as mães tornaram-se professoras de seus filhos, uma tarefa extra, diária, algumas vezes cansativa, não foram preparadas para desempenharem tal função que se tornou essencial.

A saúde é muito essencial, mas os postos e hospitais não atendem diariamente como antes, sem agendas lotadas, apenas casos que não podem esperar. Seria não essencial tratar um paciente com câncer, por exemplo, nos consultórios especializados, da forma que sempre foram tratados? Dizem que são pacientes de risco, por causa do vírus, é essencial protege-los; mas estarão seguros se não tiverem acesso direto aos cuidados médicos? É essencial ou não essencial um cuidado médico presencial, olho no olho, conversa, exames, carinho e atenção?

O amor está esfriando há vários anos, as pessoas estão se afastando. Antes mesmo da pandemia surgir não se valorizava mais a família, o trabalho vinha em primeiro lugar, a ambição tomando conta do mundo. E agora, este vírus fez com que ficássemos presos em casa, isolados, sem podermos sair para trabalhar, o que isto tem de bom? Acredito que em tudo há um lado positivo, mesmo nos momentos mais difíceis, sempre tem um ponto positivo.

Este é um assunto polêmico. O que pode ser essencial ou não essencial?

Hoje em dia não conseguimos viver sem internet, ela é essencial para o trabalho, para tudo, mas há poucos anos atrás ela era não essencial, vivíamos perfeitamente sem ela. Quando criança, não tínhamos televisão, nunca fazia falta, era totalmente indispensável, mas depois que tivemos a primeira tv, preto e branca, jamais viveríamos sem ela. Os vizinhos que ainda não possuíam a tão falada televisão enchiam a sala de nossa casa para assistir as novelas e a seção da tarde, essencialíssimo.

O alimento, com certeza é essencial. Que tipo de alimento, o da carne ou o espiritual, ou os dois?

Com fome nada vai à frente. Estava eu hoje pela manhã imprimindo trabalhinhos da escola para as crianças que fazem parte da oficina de teatro da ong Elohim, a qual faço parte, quando o celular começou a vibrar incessantemente, eram mensagens no watts , pedidos de socorro, pessoas sem o “essencial” para darem a seus filhos se alimentarem. Parei com as impressões para responder a uma menina que pedia um “rancho” para a família ( _ por favor tia Tania, estamos precisando muito, muito mesmo deste rancho... “carinha chorando”). O problema é que doamos um cesto básico para a família dela há vinte dias e a nossa cota de doação, quando temos no celeiro, é a cada trinta dias porque arrecadamos poucos alimentos e temos de dividir para várias famílias em situação de vulnerabilidade social. Por outro lado, sabemos que embora o cesto seja muito bem vindo e doado de bom coração pelos nossos colaboradores, não tem a quantidade necessária de alimentos para alimentar uma família por muitos dias, não dá para o mês todo.

Mas além dos cestos básicos, as vezes ganhamos alguns alimentos avulsos que guardo para as emergências, e como era um caso emergencial e essencial para a sobrevivência da família, consegui montar um saco bem sortido.

Mas também existem períodos que não entra nem um quilo de alimento, então apelo para o lado espiritual, essencial na minha opinião, oro e peço provisão de Deus. Então apelamos para o essencial ou não essencial dependendo do ponto de vista de cada um, a internet, peço ajuda aos meus “contatos”.

Esqueci de falar, esta menina que pediu hoje é de uma família que o pai e a mãe trabalhavam e ambos perderam o emprego devido à pandemia, trabalhavam em serviços não essenciais que tiveram de fechar as portas. A menina sentia vergonha, expliquei a ela que é só uma fase, que logo vai passar. Costumo dizer que embora não sendo nada fácil passar por dificuldades, é sempre mais complicado mudar o padrão de vida, perder aquilo que se está acostumado a ter, mudar o ritmo de vida. Ainda mais quando envolve crianças, bem triste!

E o alimento espiritual? Cada um com suas crenças, mas todos buscando a paz, a felicidade, o amor, todos com sua fé que motiva e encoraja a ir em frente, que nos fortalece na árdua caminhada, neste desconhecido que se apresentou agora nos limitando, podando nossos sonhos, nos causando incertezas.

Igrejas fecham, abrem com limitações, pessoas amedrontadas, cultos online, tantos anseios. Mas e o abraço no irmão? Essencial nos momentos de tristeza, ou até mesmo nos momentos de alegria, o tal do abraço passou a ser não essencial, pode ser o causador da transmissão de um vírus letal. O que antes era o gerador de felicidade, de demonstração de afeto como o abraço e o beijo, hoje passou a ser artigo proibido.

Essencial hoje é andar de máscara, o que antes só se usava em festas à fantasia ou quem era bandido. Usar álcool era perigoso, não essencial a não ser em casos extremos. Hoje se tornou extremamente essencial.

E assim o mundo está girando, aflito, confuso, sem saber o que é certo ou errado, o que é essencial ou não essencial.

Mas mudando do mundo real para a ficção, falando de livros... uma boa leitura acredito que seja essencial. Um bom livro sempre fez bem para quem escreve e também para quem o lê. O livro tem o poder de nos transmitir para outro mundo, ele nos faz esquecer as angústias desta vida, nos faz viajar por lugares onde jamais sonhamos que poderíamos ir. Além das maravilhosas aventuras que podemos viver através de um bom livro, ele ainda nos faz mais sábios, mais cultos. Através da leitura aprendemos a escrever melhor, a falar melhor, a sabermos nos comportar e ainda, dependendo do livro, nos ajuda ater mais fé. A sermos mais fortes.

Porém até mesmo na ficção há o essencial e o não essencial.

No livro “A Fazenda das Borboletas”, a protagonista Ana Carmela é uma jovem que sonha em ir para a cidade grande. Ela nasceu e se criou em uma fazenda na pequena, pacata e histórica cidade de São José do Norte, nunca saíra de lá, o máximo que tinha viajado era na cidade vizinha Rio Grande, filha de agricultores, numa época em que não havia nem escola, em que as moças eram educadas para serem donas de casa, casarem e cuidar do marido, dos filhos e muitas vezes trabalharem na roça, ela era a frente de seu tempo, queria ir para São Paulo, estudar, trabalhar, ser independente.

Mas surgiu um dilema em sua vida, apareceu na fazenda um rapaz, fino, bonito, sedutor, pelo o qual Ana Carmela ficou apaixonada. Ele confundiu sua mente, estava envolvida por seu sotaque, sua maneira de ser, seu charme.

E aí entra a questão do essencial ou não essencial, viver um grande amor ou ir atrás dos sonhos que tivera desde criança? O que seria essencial?

Ana Carmela pensou ser essencial realizar seus projetos de vida, não deixaria que o amor atrapalhasse seus planos de uma vida inteira. Será que estava certa, teria feito o correto, não viria a se arrepender de sua decisão?

Na vida real também é assim, muito difícil tomarmos uma decisão, sabermos o que realmente é importante. Sabemos que deus, família, amigos, saúde, paz, felicidade são coisas importantíssimas. Mas realmente damos o valor merecido, o que priorizamos, onde está o nosso tesouro? Na bíblia diz que onde estão nosso tesouro, ali também está nosso coração.

O que é essencial ou não essencial para você?

Que isto que está acontecendo mundialmente, esta pandemia terrível, que certamente não tem nada de essencial, sirva para revermos nossos conceitos do que realmente é importante, do que é essencial ou não essencial.


Tania Costa

18//09/2020

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