INTERTWELTING IDEAS: THE IMPORTANCE OF TEACHING TEXTUAL COHESION IN WRITING TEACHING
Informações Básicas
Revista Qualyacademics v.2, n.6
ISSN: 2965976-0
Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).
Recebido em: 07/12/2024
Aceito em: 11/12/2024
Revisado em: 15/12/2024
Processado em: 18/12/2024
Publicado em: 24/12/2024
Categoria: Estudo de Revisão
Como citar esse material:
TERRA, Israel Coutinho. Entrelaçando ideias: a importância do ensino da coesão textual na docência de redação. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.6, 2024; p. 257-271. ISSN 2965976-0 | D.O.I.:
Autor:
Israel Coutinho Terra
Licenciado em Letras pelo Centro Universitário Newton Paiva, Especialista em Docência no Ensino de Redação. Contato: terraisrael@gmail.com
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RESUMO
Uma parcela significativa dos estudantes concluintes do ensino básico tem dificuldades em construir textos coesos, por não terem desenvolvido a habilidade de usarem os recursos coesivos de forma satisfatória. Nesse sentido, fomos estimulados a evidenciar que a simples memorização de regras gramaticais é insuficiente para o desenvolvimento da competência coesiva. É preciso, portanto, que os professores adotem uma postura mais ativa, incentivando a leitura e a produção de textos relevantes para o estudante. Nossos objetivos foram apontar os principais mecanismos de coesão textual, identificar, na literatura, conceitos sobre elementos coesivos e discutir a importância deles na docência do ensino de redação. Ao explorar diferentes mecanismos de coesão, como pronomes, sinônimos, hiperônimos e conectores, os estudantes são capazes de construir textos mais claros, organizados e persuasivos. O estudo discute a importância da coesão referencial e sequencial, que garantem a conexão entre as ideias e a progressão textual. Ao dominar esses mecanismos linguísticos, os estudantes podem construir argumentos mais sólidos e coesos, o que é fundamental para o sucesso em diferentes contextos comunicativos. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica entre linguistas brasileiros, dentre os quais destacamos Koch (1994) e Antunes (2005). Ficou claro a necessidade de uma mudança de paradigma no ensino de redação, com foco em uma abordagem mais progressista e contextualizada.
Palavras-chave: Coesão textual; Elementos Coesivos; Redação.
ABSTRACT
A significant portion of students completing basic education have difficulties in constructing cohesive texts, as they have not developed the ability to use cohesive resources satisfactorily. In this sense, we were encouraged to demonstrate that the simple memorization of grammatical rules is insufficient for the development of cohesive competence. It is therefore necessary for teachers to adopt a more active stance, encouraging the reading and production of relevant texts for the student. Our objectives were to point out the main mechanisms of textual cohesion, identify, in the literature, concepts about cohesive elements and discuss their importance in teaching writing. By exploring different cohesion mechanisms, such as pronouns, synonyms, hypernyms and connectors, students are able to construct clearer, more organized and persuasive texts. The study discusses the importance of referential and sequential cohesion, which guarantee the connection between ideas and textual progression. By mastering these linguistic mechanisms, students can construct more solid and cohesive arguments, which is essential for success in different communicative contexts. Bibliographical research was carried out among Brazilian linguists, among which we highlight Koch (1994) and Antunes (2005). The need for a paradigm shift in writing teaching became clear, focusing on a more progressive and contextualized approach.
Keywords: Textual cohesion; Cohesive elements; Writing.
1. INTRODUÇÃO
Ao final do ensino médio, o estudante deverá ser capaz de usar, na produção de textos, elementos coesivos diversos que contribuam para a progressão e organização, além de construírem a relação lógico-discursiva da redação. Contudo, essa habilidade não é desenvolvida satisfatoriamente por grande parte dos estudantes concluintes da educação básica.
Nesse sentido, foi percebida a necessidade de investigação, através de uma abordagem bibliográfica, de conceitos e teorias sobre os elementos coesivos, articulados às práticas docentes no ensino de redação. A exploração de diversas fontes literárias foi crucial para a construção de um alicerce teórico sólido, composto por conceitos essenciais para a compreensão do tema. A leitura, ao longo de todo o processo investigativo, desempenhou um papel fundamental, orientando a formulação das hipóteses e a seleção das obras.
A linguística textual, com autores de referência como Koch (1994) e Antunes (2005), forneceu o referencial teórico para esta pesquisa. Esses autores, ao explorarem os mecanismos de coesão textual, proporcionam um embasamento sólido para a análise das teorias apresentadas.
Nossos objetivos foram apontar os principais mecanismos de coesão textual a serem trabalhados nas aulas, identificar, na literatura, conceitos sobre elementos coesivos e discutir a importância deles na docência do ensino de redação. O foco do estudo é a produção de textos – principalmente os dissertativos –, contudo, não podemos ignorar o fato de ser necessário o conhecimento sobre o emprego dos recursos coesivos para falar, ouvir e ler todos os tipos de textos com competência.
A capacidade de usar os mecanismos de coesão não deve ser vista como uma habilidade isolada, mas como parte integrante de um conjunto de técnicas linguísticas que permitem ao estudante interpretar e realizar diferentes produções. Nesse contexto, discutimos sobre quais e como os elementos coesivos devem ser tratados no dia a dia do professor e alunos nas aulas de redação. Pois um bom texto pode proporcionar aos estudantes o acesso aos cursos oferecidos nas melhores universidades do país, além de assegurar o exercício da cidadania.
Ademais, consideramos, utilizando a classificação da propriedade da coesão do texto feita por Antunes (2005), a tríplice divisão das relações textuais, principalmente as de reiteração, ou referencial, e as de conexão, ou sequencial. A propriedade de associação, ou recorrencial não foi examinada neste estudo, devido à natureza concisa do artigo científico.
Sobre a coesão referencial, na qual é feita a referência a outro(s) elementos(s) do texto, refletimos sobre a relevância da capacidade do aluno de utilizar as repetições como uma estratégia coesiva, ao invés de uma ação que desvaloriza o texto e o torna ambíguo. No mesmo sentido, é necessário pensar sobre o quesito do exagero no uso dos pronomes, principalmente os possessivos, no texto escrito, pois essa ocorrência é comum, devido a frequência do uso na fala.
Estratégias devem ser utilizadas pelos professores para ampliar o conjunto de ferramentas para a produção de um texto coeso, por exemplo a substituição lexical por hiperônimos e sinônimos, além de construções de paráfrases. Essas práticas ajudam a enriquecer o vocabulário do aluno e a evitar repetições excessivas, o que contribui para a qualidade do texto.
Discutimos ainda sobre a segunda realização da coesão nas produções, que é a sequencial, e a importância dela para a tessitura textual. Além de sugerirmos mais dedicação do tempo em sala de aula exclusivamente à leitura, mesmo que seja necessário vencer pressões dos próprios profissionais de educação, pais e comunidade escolar para alcançar todo o conteúdo que foi programado para o ano letivo.
A prática contínua e orientada da leitura e escrita, é essencial para que os alunos desenvolvam confiança em suas habilidades textuais. A leitura, nesse contexto, deve ser um meio de ampliar o repertório linguístico dos alunos e também uma ferramenta para que eles compreendam as formas de realização da coesão de maneira mais natural.
Por fim, é de suma importância destacar a indispensabilidade do treinamento dos estudantes, em todo o ensino básico, para o uso rico e variado dos mecanismos de coesão na produção de redações, que apesar de se encontrarem no nível superficial, são fundamentais para a compreensão do texto em um nível mais profundo. Porque, apesar de não ser o único requisito para uma boa produção, é, sem dúvida, condição essencial.
2. OS ELEMENTOS COESIVOS NA PRÁTICA DOCENTE DA REDAÇÃO
Grande parte da qualidade de um texto se deve à coesão. Dessa forma, o professor deve, no decorrer das aulas de produção textual – chamadas genericamente de aulas de redação –, demonstrar a importância desse tema, pois a coesão por si só não é suficiente para uma boa redação, mas é, certamente, requisito necessário. A ausência de coesão compromete a clareza e a fluidez do texto, dificultando a compreensão por parte do leitor. Por isso, esse ensino deve ser uma prática contínua, não limitada apenas às aulas voltadas para a preparação para provas e avaliações, mas integrada ao cotidiano escolar, desde os primeiros anos do ensino básico até o fim do ensino médio.
Não temos pretensão de abordar todos os modos de realização da coesão textual, o que nos importou foi trazer elementos que instigassem a reflexão sobre como é importante praticar, desde cedo, a produção de textos coesos. O exercício frequente da escrita, aliado à leitura de qualidade, contribui para o desenvolvimento dessa habilidade. Quando o aluno se depara com diferentes textos relevantes, ele passa a reconhecer as variações no uso dos elementos coesivos. A reflexão contínua sobre a coesão também desperta neles uma maior consciência linguística, fazendo com que compreendam que um texto bem construído é aquele que estabelece uma relação clara entre suas partes e apresenta uma boa fluidez.
Dentre os diversos autores que tratam do assunto, foi usada, como referência, a classificação feita por Antunes (2005, p.51), conforme quadro o quadro abaixo, no qual, podemos fazer um paralelo entre as relações textuais reiteração e conexão, com coesão referencial e coesão sequencial - termos mais comumente utilizados -, respectivamente. Neste estudo, a coesão por associação, ou recorrencial não foi explorada.
Tabela 1 - A propriedade da coesão do texto. Relações, procedimentos e recursos.
Fonte: Adaptado de Antunes (2005)
Nesse sentido, devemos considerar que a produção textual é um processo complexo que envolve a organização das ideias, a seleção de vocabulário e a utilização de recursos coesivos para garantir a fluidez e a clareza do texto. Ao dominar os mecanismos de coesão, o aluno é capaz de construir textos maduros capazes de alcançar a função desejada pelo autor.
Isto posto, reforçamos que um dos desvios de falta de coesão é o descrito por Garcia (2010). Ele deve ser atacado quando o aluno elabora textos simplórios demais, carentes de recursos coesivos e que se aproximam muito da língua falada:
Esse processo de estruturação de frase, que exige pouco esforço mental no que diz respeito à inter-relação das ideias, satisfaz plenamente quando se trata de situações muito simples. Por isso, é mais comum na língua falada, em que a situação concreta, isto é, o ambiente físico e social, supre ou compensa a superficialidade dos enlaces linguísticos. Atente-se para a linguagem infantil, para a linguagem dos adolescentes, dos imaturos ou incultos, mesmo escrita: o que se ouve, ou se lê, é uma enfiada de orações independentes muito curtas que se vão arrastando umas às outras, tenuamente atadas entre si por um número pouco variado de conectivos coordenativos: e, mas, aí, mas aí, então, mas então. Como são poucas para traduzir variadas relações, essas partículas se tornam polissêmicas, quer dizer, passam a ter vários sentidos, conforme a situação e as relações, como acontece principalmente com e, aí e então. Sobretudo no estilo narrativo, elas não se limitam a concatenar, a aproximar; marcam também uma coesão mais íntima, relações mais complexas, como as de tempo, causa, consequência e oposição (Garcia, 2010, p. 64).
É desse modo, portanto, que estudantes imaturos linguisticamente apresentam, muitas vezes, suas produções. Daí a importância da dedicação de uma parcela significativa das aulas de redação à prática de criações textuais ricas em mecanismos de coesão.
2.1. O ENSINO DA COESÃO REFERENCIAL
É necessário tratar, sistematicamente, sobre os recursos que permitem a referência a outros termos do texto, para que sejam evitadas as repetições empobrecedoras e as ambiguidades. Nesse sentido, podemos conceituar coesão referencial como “[...] aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual” (Koch, 1994, p. 30). Esse tipo de coesão garante que o texto mantenha uma unidade semântica, conectando as informações contribuindo para a progressão compreensível da produção. Sem esses mecanismos, o texto pode se tornar fragmentado e difícil de entender, prejudicando o significado de forma geral.
De maneira análoga, conceitua a professora Fávero (2009, p.18): “[...] há certos itens na língua que têm a função de estabelecer referência, isto é, não são interpretados semanticamente por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação”. A referência correta, feita por meio desses elementos, é o que torna o discurso coerente e compreensível.
Reforço que não constitui como nosso objetivo a classificação e aprofundamento nas questões normativas que envolvem os usos dos recursos coesivos. Mais do que isso, propomos uma abordagem prática, contextualizada, que faça sentido para o estudante, pois se insistirmos nas práticas retrógradas de memorização da gramática tradicional, não avançaremos em direção a uma educação libertadora.
Como proposta teríamos o ensino de questões frequentes no uso da língua. Dessa forma, pontualmente, traríamos a prática escolar para próximo da realidade. Um exemplo é o uso dos pronomes – principalmente os possessivos –, pois:
[...] a realização textual da pronominalização é problemática. Muitas vezes cria ambiguidades, principalmente quando há várias probabilidades de referenciação. O exagero no uso da pronominalização num texto leva a uma progressiva diminuição da informação e a uma dificuldade crescente de processamento cognitivo (Marcuschi, 2020, p. 53).
Trata-se de um problema muito comum em produções de texto dos estudantes do ensino básico. Na tentativa de realizar a coesão referencial, o aluno usa indiscriminadamente os pronomes, já que na fala fazemos isso sem nenhuma complicação e erroneamente a ação é reproduzida nos textos escritos. Quando o pronome em questão é possessivo, a questão se agrava, pois a ocorrência de ambiguidade não é incomum. Além disso, o uso excessivo de pronomes pode tornar a redação vaga e confusa, dificultando a identificação precisa dos elementos a que se referem.
Nesse momento, o professor deve inserir outros procedimentos para ampliar a capacidade de escrever do discente. Como estratégia podemos citar a substituição lexical. O uso de hiperônimos é bastante frequente e eficaz. Exercícios que usem textos relevantes podem ser explorados. A análise de excertos literários, por exemplo, permite que o aluno observe como escritores experientes fazem uso desses recursos de substituição para garantir a fluidez e a clareza do texto.
Dessa forma, precisamos considerar que:
[...] a repetição não é aquele ponto negativo, aquela mancha evitável acima de tudo, capaz de deixar os textos em condições de baixa qualidade. Evidentemente, como qualquer outro recurso, a repetição merece o cuidado da utilização equilibrada, uma vez que o conteúdo de um texto não pode reduzir-se a um mesmo sem fim, que não avança e, circularmente, não sai do lugar (Antunes, 2005, p. 81).
Portanto, o exercício frequente desses usos forneceria condições para o aluno produzir um texto maduro, em que a ocorrência da repetição não seria um problema, mas uma estratégia bem elaborada de conquistar a coesão. A repetição, quando utilizada de forma intencional e equilibrada, pode servir como um recurso retórico para enfatizar ideias, reforçar argumentos e orientar a atenção do leitor para determinados pontos do texto.
As realizações dos elementos coesivos referenciais são diversas, e poderão ser identificadas tanto nos textos que compõem o cânone da literatura em língua portuguesa, quanto nos mais próximos da realidade do aluno, logo deverão ser oferecidas as seguintes ferramentas, para que ele entenda que:
[...] um texto se faz coeso por meio de recursos como:
paráfrases
paralelismos
repetições
substituições pronominais
substituições adverbiais
elipses
substituições por um sinônimo
substituições por um hiperônimo
substituições por um caracterizador
[...] (Antunes, 2005, p. 172).
O treinamento da paráfrase, por exemplo, é uma excelente proposta para a prática nas aulas de redação. A habilidade de reforçar uma ideia, sem incorrer no vício do texto circular, que não avança nem oferece novas informações, é essencial para defender um ponto de vista, que é competência necessária para uma produção dissertativa.
Diante desse raciocínio, as elipses também devem ser ensinadas, para que façam parte do rol de conhecimentos para a produção textual. Porque de qualquer forma, pode-se prever uma certa alternância entre os usos de um nome, de um pronome, de uma elipse de uma repetição do nome, ao longo de um texto, para que sua clareza e sua relevância fiquem preservadas (Antunes, 2005, p. 94). Essa alternância impede que o texto se torne repetitivo, proporcionando uma leitura mais agradável. Além disso, ao dominar esses recursos, o aluno poderá adaptar sua escrita a diferentes gêneros textuais, ampliando sua autonomia linguística.
Portanto, a prática dos mecanismos de coesão não deve se restringir a exercícios descolados da realidade. É essencial incorporá-los nas atividades de leitura e escrita, para que o aluno compreenda a coesão não como uma regra gramatical distante e vazia, mas como um componente essencial da comunicação textual.
2.2. A COESÃO SEQUENCIAL E SEU PAPEL NA TESSITURA DA REDAÇÃO
A coesão textual sequencial é um aspecto fundamental para a construção de textos fluidos. Para garantir que as ideias se encadeiem de forma lógica, é necessário o uso adequado de conectores, que estabelecem relações entre as diferentes partes do discurso. Esses elementos não apenas promovem a continuidade do texto, mas também contribuem para sua organização e progressão, facilitando a compreensão do leitor. Nesse contexto, torna-se essencial compreender como as conjunções, preposições e outros conectores atuam na formação das conexões textuais, indo além da mera memorização de listas.
Os recursos utilizados para construir a coesão sequencial são, normalmente, os conectivos e os marcadores verbais, que realizam a conexão.
Por conexão queremos referir aqui o recurso coesivo que se opera pelo uso dos conectores, o qual desempenha a função de promover a sequencialização de diferentes porções do texto. [...] A conexão se efetua por meio de conjunções, preposições e locuções conjuntivas e preposicionais, bem como por meio de alguns advérbios e locuções adverbiais (Antunes, 2005, p. 140).
A relação textual por conexão - ou coesão sequencial - integra um grupo de possibilidades e conforme Koch (1994, p. 17) “É por meio de mecanismos como estes que se vai tecendo o “tecido” (tessitura) do texto. A este fenômeno é que se denomina coesão textual”
Em complemento, Fávero (2009) relata que:
Os mecanismos de coesão sequencial strictu sensu (porque toda coesão é, num certo sentido, sequencial) são os que têm por função, da mesma forma que os de recorrência, fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional. Diferem dos de recorrência, por não haver neles retomada de itens, sentenças ou estruturas (Fávero, 2009, p.33).
Consequentemente, a coesão sequencial se distingue da coesão referencial justamente por sua função de dar continuidade ao texto sem a necessidade de repetir ou retomar informações. Ela está mais voltada para a organização e a estruturação da progressão das ideias, garantindo que o texto avance de forma clara e contínua.
Neste universo, os conectores mais abundantes são as conjunções, que relacionam orações ou unidades sintáticas. No entanto, a memorização exaustiva da classificação das conjunções coordenativas e subordinativas, recorrente no contexto escolar, não acrescenta valor prático para o cidadão, uma vez que, caso consiga memorizar a gigantesca lista, o tempo de retenção da informação é limitado. O essencial, portanto, não é a memorização desse índice, mas a compreensão do funcionamento dos conectivos e sua aplicação prática. O foco deve ser a capacidade de utilizar esses elementos adequadamente, garantindo a coesão do texto, sem a necessidade de recorrer a classificações rígidas.
O rompimento do paradigma educacional tradicional é necessário, ou seja, o professor deverá ser arrojado, e ter a coragem de abandonar o modelo de aula unicamente expositiva e propor, por exemplo, aulas, periodicamente, dedicadas exclusivamente à leitura. A pressão para passar por todo o conteúdo programado em detrimento da dedicação do tempo à leitura é muito grande, “[...] como se o contato com bons textos não fosse a melhor maneira de se apreender os padrões mais prestigiados da língua” (Antunes, 2005, p. 41).
Diante disso, precisamos ter o zelo para não incorrermos no estímulo à memorização vazia, pois:
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas (Freire, 1982, p.12).
Logo, a compreensão do texto exige um envolvimento que vai além da simples acumulação de informações. A leitura e escrita devem ser uma prática em que o aluno realmente compreenda o conteúdo, e não apenas memorize e repita palavras ou ideias. Essa reflexão nos convida a repensar as abordagens pedagógicas, destacando a necessidade de estimular o pensamento crítico, ao invés de reforçar práticas retrógradas que não promovem um aprendizado realmente significativo.
Portanto, no que diz respeito às conjunções, é mais interessante que o discente reconheça seu uso adequado e seja capaz de produzir um texto que apresente boa coesão sequencial, do que decorar, por um curto período de tempo, uma lista inócua, vazia e distante da realidade dele. O objetivo central da aprendizagem da língua não deve ser a mera memorização de regras gramaticais desconectadas da prática cotidiana, mas sim o desenvolvimento da habilidade de construir textos claros e bem estruturados, em vez de apenas reproduzir conteúdo, o aluno deve ser incentivado a compreender as funções de cada elemento dentro da construção textual, reconhecendo a importância da coesão para a comunicação efetiva.
Nesse sentido, só é possível adentrar em determinadas discussões se o estudante tiver compreendido o valor das conjunções, de nada adiantando a fixação de listas. Por exemplo, na questão levantada por Garcia (2010), quando ele nos ensina:
Segundo a doutrina tradicional e ortodoxa — como já assinalamos —, as orações coordenadas se dizem independentes, e as subordinadas, dependentes. Modernamente, entretanto, a questão tem sido encarada de modo diverso. Dependência semântica mais do que sintática observa-se também na coordenação, salvo, apenas, talvez, no que diz respeito às conjunções “e”, “ou” e “nem”. Que independência existe, por exemplo, nas orações “portanto, não sairemos”? e “mas ninguém o encontrou”? Independência significa autonomia, autonomia não apenas de função, mas também de sentido. Que autonomia de sentido há em qualquer desses dois exemplos? Nenhuma, por certo (Garcia, 2010, p. 42).
Trata-se de um raciocínio profundo e enriquecedor sobre a hierarquia entre os valores semânticos e sintáticos das conjunções, só tangível àqueles que se dedicaram não apenas a reter técnicas para redações de vestibulares ou provas, mas aos que realmente aprenderam a pensar a língua portuguesa e suas nuances.
As preposições também fazem parte do grupo dos conectores, que são responsáveis pela conexão entre outras palavras ou orações e, nesse sentido, atuam na construção das relações semânticas entre os elementos do discurso, como tempo, causa, condição, lugar, modo e finalidade. A esse respeito, é comum que se recorra à memorização de listas, como as das preposições essenciais “a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás” (Chini; Caetano, 2020). Algumas abordagens pedagógicas sugerem que os alunos "cantem" essa lista ao ritmo de diversas músicas, o que pode ser uma estratégia divertida. No entanto, ela não favorece, necessariamente, a compreensão mais profunda do papel das preposições na construção do texto.
Nesse sentido, uma proposta mais eficaz seria incentivar o aluno a identificar essas preposições durante a leitura de textos pertinentes, compreendendo como cada uma delas contribui para a relação entre os elementos do discurso e qual valor morfossintático ela atribui ao termo com o qual se conecta. Ao focar na compreensão do uso contextual das preposições, o aluno não apenas memoriza as palavras, mas também adquire uma habilidade crítica para usá-las de maneira mais eficaz e adequada em sua produção textual.
2.3. A IMPRESCINDIBILIDADE DO CONDICIONAMENTO DOS ESTUDANTES PARA O USO DOS MECANISMOS DE COESÃO NA PRODUÇÃO DE REDAÇÕES
Segundo Antunes (2005, p.16), quando estamos diante de um texto que não está muito bem formulado dizemos que falta coesão, sem saber exatamente quais recursos concorrem para a construção de um texto coeso. Esse julgamento, muitas vezes intuitivo, reflete a percepção de que algo está desconectado ou desalinhado no desenvolvimento das ideias, mas não necessariamente implica um entendimento aprofundado dos mecanismos linguísticos que conferem coesão ao texto.
Apesar de o pensamento acima ser relativamente reducionista e carecer de maiores explicações, ele é válido e reforça a importância da habilidade de escrever um texto que tenha elementos coesivos suficientes para não incorrer nesse problema.
Conforme Fávero (2009, p.10) “A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligadas entre si dentro de uma sequência”.
Além disso, precisamos considerar que, não é possível dissociar a coesão da coerência textual, em que pese nosso estudo tratar daquela, essa deve ter espaço garantido nas discussões propostas, pois conforme Koch (1994, p. 18) “[...] podem ocorrer sequenciamentos coesivos de enunciados que, porém, não chegam a constituir textos, por faltar-lhes a coerência”.
A coesão e a coerência estão intimamente ligadas. A coesão garante a tessitura textual, enquanto a coerência garante a construção de um sentido amplo. Um texto pode apresentar coesão, com todos os elementos linguísticos conectados de forma clara, mas se não houver um sentido lógico, ele será incompreensível. Por outro lado, uma produção textual pode apresentar um sentido geral, mas se a coesão estiver comprometida, a compreensão será dificultada. É a combinação de coesão e coerência que garante a qualidade de um texto.
É patente a necessidade de colaborar para que o estudante consiga desenvolver as habilidades para produzir um texto coeso, pois:
Se é verdade que a coesão não constitui condição necessária nem suficiente para que um texto seja um texto, não é menos verdade, também, que o uso de elementos coesivos dá ao texto maior legibilidade, explicitando os tipos de relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que o compõem (Koch, 1994, p. 18).
Dessa forma, a coesão textual, embora não seja uma condição exclusiva para que um conjunto de enunciados se constitua como um texto, desempenha um papel fundamental na clareza da produção escrita. O uso adequado de elementos coesivos permite que as relações entre as partes do texto se tornem explícitas, facilitando a compreensão e a articulação das ideias. Portanto, é imprescindível que o ensino da escrita priorize o desenvolvimento dessas habilidades, uma vez que a coesão contribui diretamente para a eficácia comunicativa, tornando a mensagem mais acessível e inteligível para o leitor.
O que é dito em um ponto se liga ao que foi dito noutro ponto, anteriormente e subsequentemente. Assim, cada segmento do texto — da palavra ao parágrafo — está preso a pelo menos um outro. Quase sempre, cada um está preso a muitos outros. E é por isso que se vai fazendo um fio, ou melhor, vão-se fazendo fios, ligados entre si, atados, com os quais o texto vai sendo tecido, numa unidade possível de ser interpretada (Antunes, 2005, p. 46).
Assim, a coesão permite estabelecer conexões claras e explícitas - também chamada de tessitura do texto - entre as ideias, o que torna mais fácil para o leitor acompanhar o raciocínio do autor de maneira fluida e eficiente. Ao dominar os mecanismos coesivos, o aluno é capaz de construir um texto coerente, produzindo um significado mais profundo. Motivo pelo qual a prática da leitura é tão importante na formação acadêmica, porque não basta o texto ser coeso, mas, com certeza, esse é um requisito fundamental para uma redação seja capaz de dar acesso às faculdades mais prestigiadas e à possibilidade de exercício pleno da cidadania.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões apresentadas ao longo deste estudo evidenciam a necessidade de uma postura progressista, por parte dos professores, ou seja, o modelo tradicional das aulas expositivas, repetidoras, centradas na memorização, deve ser abandonado. Os alunos devem ser incentivados a lerem os clássicos da literatura em língua portuguesa e textos contemporâneos, inclusive no ambiente escolar, mesmo que seja necessário enfrentar as pressões conteudistas.
Essa mudança de perspectiva é fundamental para transformar o ensino da língua portuguesa em uma experiência que vá além da simples repetição mecânica de conteúdo. Estimular a leitura crítica possibilita o desenvolvimento da competência linguística. Além disso, a leitura de textos variados permite que os alunos identifiquem diferentes estilos, estruturas e recursos linguísticos, contribuindo para a construção de um olhar mais maduro das possibilidades que os textos podem oferecer. Ao analisar como os autores utilizam esses recursos para construir seus textos, os alunos desenvolvem a habilidade para reconhecer e utilizar os elementos coesivos de forma eficaz em suas próprias produções.
Verificamos que a ênfase na memorização de regras gramaticais isoladas é insuficiente para o desenvolvimento da competência coesiva. Embora o conhecimento das normas seja importante, ele, por si só, não garante que os estudantes consigam produzir textos claros e coesos. É preciso, portanto, adotar uma abordagem mais prática e contextualizada, que os permita reconhecer e utilizar os recursos coesivos de forma significativa. A implementação de metodologias ativas e inovadoras, como a análise de textos autênticos e a produção colaborativa, pode contribuir para uma docência mais eficaz.
Valorizar o ensino da coesão nas aulas de redação, auxilia a formação de cidadãos mais críticos e participativos, capazes de se expressar de forma clara e coerente e de compreender as complexidades da linguagem. Um indivíduo que domina a escrita coesa tem maior facilidade para argumentar, defender suas ideias e dialogar em diferentes contextos sociais, acadêmicos e profissionais, o que amplia suas oportunidades de inserção e participação ativa na sociedade. Porque o ensino da coesão textual vai além de preparar os alunos para provas, avaliações escolares, e memorização, trata-se de formar cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, capazes de utilizar a linguagem como instrumento de transformação social. A capacidade de comunicação eficaz é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa através de uma educação libertadora.
4. REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 5. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
CHINI, Alexandre; CAETANO, Marcelo Moraes. Gramática Normativa da Língua Portuguesa: um guia completo do idioma. Brasília: OAB, 2020.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 11. ed. São Paulo: Ática, 2009.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1982.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 27. ed. Rio de Janeiro: Fgv, 2010.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 7. ed. São Paulo: Contexto, 1994.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz?. 3. ed. São Paulo: Parábola, 2020.
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Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).
Como citar esse artigo:
LIMA, Alcilene Fiesca de; SORIA, Evely Miranda; MELLO, Ingred Thereza Cristina Petter de; SANTOS, Isabelle Nogueira da Silva. Importância da prática de treinamento físico para usuários de substâncias psicoativas – revisão integrativa. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.6, 2024; p. 240-256. ISSN 2965976-0 | D.O.I.:
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