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O ENSINO E APRENDIZAGEM DE LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS NUMA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA

TEACHING AND LEARNING READING IN THE EARLY GRADES FROM A CONSTRUCTIVE PERSPECTIVE





Como citar esse artigo:


VIANA, Wanessa Costa; SANTANA, Alfredo Henrique Castro; ROCHA Jesuslene Gomes. O ensino e aprendizagem de leitura nas séries iniciais numa perspectiva construtivista. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 484-501. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.028



Autores:


Wanessa Costa Viana

Licenciatura Plena em Língua Portuguesa. Universidade Estadual Vale do Acaraú. Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Análise Literária. Contato: wanessavianaredencao@hotmail.com 


Alfredo Henrique Castro Santana

Graduado em Artes visuais, pelo Centro Universitário FAVENI – UNIFAVENI. Pós-graduação em Ensino da Arte pela Instituição FACULESTE. Contato: alfredovascaino100@gmail.com.


Jesuslene Gomes Rocha

Graduação em pedagogia com Habilitação para magistério na Educação Infantil e nas séries Iniciais do Ensino Fundamental- UEPA. Especialização: Gestão, Orientação e Supervisão Escolar. Contato: jesuslenerocha@hotmail.com


 

RESUMO

 

A temática: o ensino e aprendizagem de leitura nas séries iniciais numa perspectiva construtivista, objetiva refletir acerca do desenvolvimento de habilidades dos alunos no que tange as ações do ler, da leitura significativa. Dessa forma, acredita-se que a ação de aprendizagem, se propaga por meio da experiência do sujeito com o objeto. Através dessa relação, o indivíduo constrói o conhecimento. Contrário a isso, é de se observar que no cotidiano escolar, o processo de ensino e aprendizagem de leitura, ainda enfrenta muitos problemas no que concernem a metodologias de ensino. As crianças nas séries iniciais, aprendem apenas a identificar vocábulos, a se relacionar com as letras de uma maneira decorativa e nada prazerosa, sem o considerar significativo de contextos e o prazer de descobrir, interpretar, criar. Para tanto, o referido se caracteriza como um estudo de cunho bibliográfico que contribua para o despertar de práticas pedagógicas de ensino de leitura significativas e para formação de leitores ativos, e críticos de sua realidade.

 

Palavras-Chaves: Leitura; Séries iniciais; Contextos; Construtivista.

 

ABSTRACT

 

The theme: teaching and learning reading in the initial grades from a constructivist perspective, aims to reflect on the development of students' skills regarding the actions of reading, meaningful reading. In this way, it is believed that the learning action propagates through the subject's experience with the object. Through this relationship, the individual builds knowledge. Contrary to this, it should be noted that in everyday school life, the process of teaching and learning reading still faces many problems regarding teaching methodologies. Children in the early grades only learn to identify words, to relate to letters in a decorative and non-pleasant way, without considering them as significant contexts and the pleasure of discovering, interpreting, creating. To this end, this is characterized as a bibliographical study that contributes to the awakening of significant pedagogical practices for teaching reading and the formation of active readers, who are critical of their reality.

 

Key Words: Reading; Initial series; Contexts; Constructivist.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

As legislações educacionais como a LDB 9394/96, assim como as diretrizes de ensino preconizam que a educação é um direito fundamental e essencial ao ser humano. Porém, ter acesso à educação não é um fator preponderantemente positivo e suficiente, ora que a educação precisa ser de qualidade, transformadora das injustiças sociais, culturais e econômicas.


O que significa dizer que educar levando em consideração o pleno exercício da cidadania, de certa forma é um processo um tanto difícil, porém, não é impossível. Principalmente se parti do pressuposto de que toda educação tem que ser crítica, consciente e contextualizada, onde o sujeito histórico, social e cultural – o aluno – deve ser respeitado.


Nessa ótica, acredita-se que é possível se construir uma educação qualitativa e transformadora, cuja válvula propulsora é a leitura. Está se bem trabalhada poderá proporcionar as crianças e jovens, a formação e informação para atuar como cidadãos, ou seja, converter problemas em oportunidades. 


É neste sentido que se justifica a importância de trabalhar essa temática, pois o objetivo desse trabalho é proporcionar a prática de um ensino e aprendizagem construtivista que venha auxiliar no desenvolvimento da leitura como instrumento na formação de bons leitores, capazes de interpretar e analisar o que leem e veem ao seu redor.  E isso, numa ação de aprendizagem que acontece entre sujeito e objeto, onde o indivíduo constrói o conhecimento de maneira construtivista.


Com base em pesquisa e análise bibliográfica referente à aquisição da leitura pela criança – retratada por diferentes teóricos que já escreveram sobre o problema – é que se almeja compreender tal problemática. Teóricos como:  Emilia Ferreiro, Piaget, Vigotsky e outros, cujas concepções baseiam-se no princípio de que o indivíduo não adquire conhecimento e sim constrói. E que o processo de construção de conhecimento é feito pelo indivíduo, em interação com o meio durante toda a vida.


Nesse princípio, compreende-se a leitura como uma ação prazerosa de descoberta do mundo. Como uma viagem por infinitas regiões do saber de modo a se descobrir os segredos do universo. Pois, ler é dialogar com o universo das palavras que formam frases, textos, que traduzem mistérios.

 

2. REFERENCIAIS TEÓRICOS ACERCA DA AQUISIÇÃO DA LEITURA  

       

A leitura está normalmente relacionada à decifração de escrita, e por tradição, relaciona-se ao processo de formação do ser humano a sua capacidade para o convívio social, atuação política e econômica. No entanto o indivíduo precisa superar algumas idéias sobre a aprendizagem da leitura para alcançar esses objetivos. A priori deles é a de que, ler é simplesmente decodificar, transformar letras em sons, a compreensão é introduzida mais tarde. Teberosky (nova escola 2005) diz que, “... a escola acredita que a alfabetização se da em etapas e primeiro ensina as letras e os sons e mais tarde induz a compreensão do texto, faz o processo errado”.


A decodificação é apenas um dos procedimentos que utilizamos para ler. Porém a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do conhecimento que já possui a respeito do assunto.


Para Cagliari (1997, p. 150):

 

A leitura é, pois, uma decifração. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em seguida decodificar todas as implicações que o texto tem e, finalmente, refletir sobre isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu.

 

A leitura vai além do texto, pois o leitor deve assumir um papel atuante deixando de ser um simples decodificador ou um receptor passivo. A leitura é um diálogo do leitor com o objeto do escritor para o leitor, assim ocorre o intercâmbio, a interação.

Aprender a ler significa também ler o mundo, ir além da interpretação textual. Freire (2001, p.11) “A leitura de mundo precede a leitura da palavra” ...


O mundo da globalização exige cada vez mais que os indivíduos sejam competentes para se sair bem das dificuldades encontradas no cotidiano, porém, a leitura de mundo não é suficiente. Algumas pessoas analfabetas podem até se dar bem financeiramente, mas isso não significa que é um indivíduo culto, porque só a experiência de vida, por mais rica que possa ser não é suficiente para formar uma cultura fundamentada e geral.


Menezes (2006, p. 20) nos afirma que,


Os cidadãos que sonhamos formar não devem ter unicamente qualidades técnicas e práticas, mas também ser solidário, responsáveis, criativo, saber se expressar com clareza, interpretar e produzir textos, compreender situações usando conhecimentos humanísticos e científicos, assim como precisam ser capazes de aprender sempre.

 

2.1 O AMBIENTE ESCOLAR E O DESENVOLVIMENTO DO ENSINO-APRENDIZAGEM

 

A escola que temos não vem atendendo aos interesses dos alunos que chegam até ela, a mesma quer um aluno igual e harmonioso, esquecendo que os mesmos chegam à escola com saberes diferentes, com anseios e concepções de mundo variado, que são pessoas que almejam um futuro melhor, livre das injustiças sociais. No entanto esses educandos não podem ser vistos como sujeitos iguais, eles são sujeitos de um mundo em constante mudança na qual também estão incluídos.


A escola desconhece o seu espaço como lugar de troca de conhecimento, isto leva os alunos a insatisfação, a desconfiança e a incerteza, que os conduzem a repetência, restando lhes a culpa ou responsabilidade por seu fracasso escolar.

Visando a qualidade da educação em nosso país, foram estabelecidos vários objetivos, diretrizes e metas, entre elas temos: ampliação do Ensino fundamental para nove anos (9), avaliação da qualidade do ensino (Prova Brasil), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e outros.


Na ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, a criança passará a freqüentar a escola mais cedo, com seis anos de idade, sendo que antes ela só ingressava no Ensino Fundamental a partir dos sete anos. Todos os municípios têm até 2010 para se adequar as novas exigências do MEC para oferecer o Ensino Fundamental de nove anos.


“O Ministério da Educação defende que a mudança vai oferecer algumas respostas as necessidades que as crianças apresentam de melhoria no ensino escolar”


Menezes (2006, p.20) afirma que:


[...] para alcançar a educação pretendida são necessárias escolas bem equipadas, convivência cultural e vínculos comunitários, que promovam a avaliação continua do aprendizado, com professores bem formados. Além de boas escolas, pretende-se que crianças e jovens tenham acesso a equipamentos culturais públicos, como museu, bibliotecas, teatros e praças de esportes, em que artes, ciências e técnica sejam experimentadas de fato.

 

A Prova Brasil que é avaliação do Ensino Fundamental comprova que os alunos se atrapalham na interpretação de textos longos, ou com informações científicas, não entendem a intenção do autor em história em quadrinhos e não identificam a idéia central de um texto argumentativo com linguagem informal.


A escola deve cumprir seu papel que é propiciar condições para os educandos desenvolver as competências lingüísticas necessárias para sobressair frente às exigências da sociedade contemporânea.


Nesta perspectiva os PCNs sugerem as seguintes habilidades a serem desenvolvidas ao longo das nove séries do Ensino Fundamental:


1 – Expressar-se em diferentes situações.

2 – Saber expressar-se de diferentes maneiras.

3 – Conhecer e respeitar as variedades lingüísticas do português falado.

4 – Saber distinguir ou compreender o que dizem diferentes gêneros de texto.

5 – Entender que a leitura pode ser uma fonte de informação, de prazer e de conhecimento.

6 – Ser capaz de identificar os pontos mais relevantes de um texto, organizar notas sobre esse texto, fazer roteiros, resumos e esquemas.

7 – Expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opções individuais.

8 – Ser capaz de identificar e analisar criticamente os usos da língua como instrumento de divulgação de valores e preconceitos de raça, etnia, gênero, credo ou classe.


Segundo Cagliari (1998) a educação brasileira precisa passar por uma reformulação na grade curricular das universidades, para poder oferecer aos professores uma formação técnica, capaz de suprir as necessidades da linguagem e da lingüística, pois as escolas de formação dedicam-se a maior parte do tempo às disciplinas pedagógicas metodológicas e psicológicas.


Cagliari (1998, p.34):


A escola precisa saber dosar todos esses conhecimentos para poder atuar de maneira correta. Nada substitui a competência do professor e, enquanto nossas escolas continuarem a formar mal nossos professores, a alfabetização e o processo escolar como um todo continuarão seriamente comprometidos.

 

2.2 PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA EM SALA DE AULA

 

O construtivismo propagou-se na América Latina, principalmente na Argentina e Brasil. No último as demonstrações mais significativas ocorreram nas redes municipais de Porto Alegre e São Paulo. O construtivismo que tomou o espaço do ensino tradicional de algumas escolas brasileiras sofreu mudanças em relação à prática espontaneísta. Hoje ele requer do professor uma atuação firme e planejada, ou seja, uma prática intervencionista.


Ao contrário do que muitos pensam o construtivismo não é um método de ensino, mas, um processo pelo qual o indivíduo constrói o conhecimento.

         

Solé e Coll (1998, p.10) nos dizem que,


[...] a concepção construtivista não é em sentido estrito, uma teoria, mas um referencial explicativo que, partindo da consideração social e socializadora da educação escolar, integra contribuições diversas, cujo denominador comum é constituído por um acordo em torno dos princípios construtivistas.

 

O construtivismo enfatiza que o aluno aprende quando atua de forma direta na construção do conhecimento, o aprendiz é o sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que vai produzir a transformação, que converte informação em conhecimento próprio. Essa construção pelo aprendiz não se dá por si mesmo e no vazio, a partir do nada, mas a partir das experiências, interesses, conhecimentos prévios e situações, nas quais ele possa agir sobre o que é objeto de seu conhecimento com a finalidade de aprendê-lo. 


Trabalhar nesta linha de pensamento, é levar o aluno a pensar sobre o objeto de estudo, é desafiá-lo a refletir, pois é através da reflexão e da intervenção do professor, que o educando conseguirá avançar no processo de aquisição da leitura e escrita. Nesta perspectiva cabe ao professor conhecê-lo, acompanhá-lo, fazer as intervenções adequadas e aproveitar o conhecimento individual para o enriquecimento do grupo.


De acordo com Ferreira e Teberosky (1.999), as crianças não chegam às escolas vazias, sem saber nada sobre a língua e as mesmas passam por quatro fases de desenvolvimento até que estejam alfabetizadas: pré-silábica, a criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada; Na silábica, a mesma interpreta a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada letra; Já na fase silábica-alfabética, a criança mistura a lógica da fase anterior com a identificação de cada sílaba; Na alfabética já domina, enfim, o valor das letras e sílabas. 


Aprender a ler é uma atividade complexa, a mesma exige um trabalho pedagógico sistemático. Quando são lidos diversos tipos de textos para crianças que ainda não sabe ler e escrever convencionalmente, ensina-se a elas como são organizados na escrita os diversos gêneros, desde o vocabulário adequado a cada um, até os recursos coesivos que lhe são característicos, por esta razão ela deve ser oferecida por inteira para os alunos e de forma funcional, isto é, tal como é usada realmente. Isso depende das oportunidades de ouvir a leitura de textos diversos, participarem de situações sociais nas quais os textos reais são utilizados, pensar sobre os usos, as características e o funcionamento da língua escrita.


Quando o aluno aprende a ler pela perspectiva do construtivismo, não aprende só a decodificar as letras, mas as características discursivas da linguagem, ou seja, a forma, que ela assume em diferentes gêneros, através dos quais se realiza socialmente.


[...] se produz linguagem tanto numa conversa de bar entre amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir uma carta – diferentes práticas sociais das quais se podem participar. Por outro lado, à conversa de bar na época atual diferencia se da que ocorria há um século, por exemplo, tanto em relação ao assunto quanto à forma de dizer... PCNs (p. 24)

 

Nesta perspectiva as crianças para aprender a ler, precisam encontrar sentido na leitura, portanto os educadores devem garantir que a leitura e sua aprendizagem façam sentidos, e ajudá-las a ler tornando a leitura fácil, sem dificultá-la. Portando é preciso proporcionar condições para que as crianças possam interagir com a diversidade de textos escritos, testemunharem a utilização que os leitores fazem deles, participar de atos de leitura de fato, negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes.


Segundo Teberosky (2005, p. 26) formar grupos menores com as crianças e com a intervenção correta do professor, ajuda as mesmas no processo de aquisição da leitura e escrita.


Formar grupos menores para as crianças terem mais oportunidade de falar e ler para eles são estratégias fundamentais! É preciso compartilhar com a turma as características dos personagens, comentar e fazer com que todos falem sobre a história, pedir aos pequenos para recordar o enredo elaborar questões e deixar que eles exponham as dúvidas.       

 

Ler para as crianças é importante, porém ainda mais importante é ler com elas, as mesmas recebem a sua primeira chance de resolver muitos problemas de leitura quando elas leem com adulto o mesmo texto ao mesmo tempo. Não importa se no início a criança não reconhece nenhuma das palavras para as quais está olhando, na verdade, é durante o processo de confrontamento com as palavras desconhecidas que elas encontram a motivação e a oportunidade de começar a distinguir e a reconhecer determinadas palavras, as crianças que leem juntos com um adulto ou com outro leitor procurarão as palavras que elas conhecem e selecionarão, elas próprias, as demais palavras que querem aprender ou participar.


Apesar do modelo tradicional de ensino estar presentes em algumas escolas no nosso país, felizmente encontra-se educadores que têm compromisso com a educação transformadora, objetivando formar leitores competentes, que compreendam o que leem, e que possam ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto que leem e outros já lidos, observando que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto.


Educar, para o exercício da cidadania, é um processo difícil, porém, não é impossível, partindo do pressuposto de que toda educação tem que ser crítica e consciente, partindo da realidade vivenciada pelo o aluno acreditamos que, é possível construir com o mesmo esta educação qualitativa e transformadora, portanto a leitura bem trabalhada pode dar as crianças e jovem formação e informação para atuar como cidadãos, ou seja, converter problemas em oportunidades; organizar-se para defender seus interesses; solucionar problemas através do diálogo e da negociação, respeitando as normas estabelecidas; criar unidade de propósito a partir da diversidade cultural e da diferença; sem confundir unidade com uniformidade; trabalhar para fazer possíveis todos os direitos humanos. Todas essas capacidades são elementares para a construção de uma sociedade democrática e produtiva.

 

2.3 A LEITURA NA FORMAÇÃO CIDADÃ E AQUISIÇÃO DO SABER

 

Um dos maiores desafios hoje na educação é a formação de bons leitores que realmente saibam usufruir da leitura de modo a se interpretar o que se lê e consequentemente, levantar impressões sobre. Uma realidade facilmente notada em nossas escolas, onde a maioria dos alunos não sabem interpretar as questões dos testes, pequenos textos e até frases, e isso, em turmas de 1º anos a 8ª séries como também, ensino médio e até a universidade. Os jovens atualmente estão cada vez mais distantes de serem bons leitores, criativos, pensadores, pois tudo passa pela máxima do ato de saber ler.


As políticas de leitura vêm sendo discutidas nos diversos segmentos da educação, destacando-se a sua relevância para a aquisição do conhecimento, da cultura, do saber e da conscientização política, face aos desafios do mundo. Saber ler tornou-se, pois, condição indispensável para o acesso a qualquer área do conhecimento e, mais ainda, à própria vida do ser humano, uma vez que a leitura apresenta função utilitária e transformadora da sociedade. Porém, pesquisas indicam que a falta de leitura não se concentra apenas no ensino fundamental, mas prossegue no ensino médio e, por efeito dessa constatação, alcança o ensino superior.


Sendo assim, nem sempre é correto acreditar que o aluno chega à universidade adotando práticas sistemáticas de leitura. Embora a problemática da leitura esteja em todos os níveis da educação, este trabalho busca identificar as possíveis relações entre as experiências de leitura no ensino fundamental. Já que foi esta a etapa observada e analisada durante o estágio supervisionado.


Silva (1992, p. 42) enfatiza que a “leitura está intimamente relacionada com o sucesso acadêmico do ser que aprende, e, contrariamente, à evasão escolar”. Mais adiante, o autor conclui que “escrever e ler são atos complementares: um não pode existir sem o outro (idem, p. 64)”.


Por tal motivo, defendemos que ler é estabelecer relações entre o texto e o conteúdo sistematicamente internalizado sob a forma de conhecimentos. Abordamos a questão do conhecimento como resultado de experiências que se sobrepõem àquilo que se é e já se sabe. Essa ideia reforça nossa concepção de que a prática da escrita também pode estar atrelada às experiências de leitura.


Quando evidenciamos aqui a questão da importância da leitura na formação de alunos críticos, não se entenda a situação de decodificar palavras e frases para depois proclamá-las ansiadamente, porém compreender os textos para além das linhas, identificando seu sentido e expondo opiniões e raciocínio próprio sobre o conteúdo lido.

 

2.4 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO ATO DE LER NA FORMAÇÃO DE ALUNOS CRÍTICOS.

 

O acesso ao aprendizado da leitura apresenta-se como um dos múltiplos desafios da escola e, talvez, como o mais valorizado e exigido pela sociedade. Como afirma Foucambert (1994, p.123), o acesso à escrita é o único meio de alcance da democracia e do poder individual, o qual ele define como "a capacidade de compreender por que as coisas são como são" e que não se confunde com os "poderes" permitidos ou facilitados pelo status social do indivíduo. Desta forma, ele diferencia o "Poder" dos "poderes", dizendo que o primeiro permite ir além do que é evidente, possibilitando a descoberta das relações por detrás das circunstâncias, situações ou coisas, estando, portanto, ligado à transformação; enquanto os poderes encontram-se na reprodução e na compreensão estática e não reveladora do real.


Ainda de acordo com Foucambert (1994), o acesso ao "Poder" só é possível a partir da reflexão, distanciamento e teorização do real., ou seja, através de uma atitude científica frente ao mundo, a qual, nos moldes da própria Ciência, favorece a transformação da realidade. Contudo, segundo esse autor, isto só é possível através do acesso ao processo de produção do saber e não, apenas, por meio da transmissão dos saberes, os quais são imbuídos de neutralidade e se apresentam como objetos separados dos processos que os geram, promovendo a uniformidade entre os indivíduos que a eles têm acesso.


Sendo assim precisam-se oportunizar diferentes leituras aos alunos e assim, estabelecer uma ampla rede de relações de indivíduos que buscam no universo da leitura o gosto, o aprendizado e a formação de cidadãos críticos, reflexivos e atuantes. É imprescindível que, criem diferentes oportunidades para levar aos seus alunos a ler. Tarefa não muito fácil, mas estudos mostram que é possível explorar esse universo e torná-lo atrativo nas escolas com diferentes textos que usamos no dia-a-dia. Despertar esse prazer no aluno de ler, de descobrir e de crescer humano e intelectualmente, deve ser o objetivo central de toda instituição e de ensino e dos professores.


Neste sentido o autor Smith (1999), fala que a concepção para estimular a leitura consiste em:


Somente por meio dela que as crianças aprendem a ler, e que os professores devem, portanto garantir que a leitura seja acessível e agradável a todas as crianças [...] mostro que elas podem aprender a ler somente pelo uso de materiais e atividades que elas entendam e que desperta seu interesse, que possam relacionar com atividades que já conhecem. Os únicos livros que devem ser lidos para as crianças ou que elas devem ler são aqueles que realmente despertam interesse, que contêm rimas e histórias fascinantes, e não a prosa desinteressante e artificial a que muitas crianças são obrigadas a prestar a atenção, como por exemplo, ler sobre um dia entediante na vida de duas crianças fictícias ou então ler frases tipo vovó viu a uva” (SMITH, 1999:134).

 

Portanto, o que acontece em sala de aula referente à leitura é de extrema importância, pois essas experiências são determinantes para que os alunos se tornam leitores ou não; considerando que ser leitor não é apenas decodificar códigos, mas ler, entender e opinar sobre o que foi lido.

 

3. SUGESTÕES DE ATIVIDADES NO ENSINO DE LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS

 

A realidade nos revela verdades mascaradas de “belas mentiras” e que somos influenciados a seguir, principalmente aquele que não sabe ler e interpretar o que ler.  A mídia tem esse poder de exercer tal influencia através dos diversos canais de informação como internet, rádio, televisão, revista, jornais e isso com uma intensa carga ideológica sustentada como verdades absolutas.  


Outro ponto é que a prática da leitura já não é uma rotina, se lê muito pouco e os bons leitores de hoje, os formadores de opinião, estão cada vez mais extintos. Fato que compromete muito o desenvolvimento escolar e a formação profissional e política do aluno, principalmente nesse mercado de trabalho cada vez mais competitivo onde o melhor ganha seu espaço.


Além do mais, em muitas escolas, a prática de alfabetização ainda está muito ligada a manuais, modelos de ensino e aprendizagem obsoletos que ao invés de formar leitores com capacidade de reflexão, análise e crítica da sua realidade, molda soletradores e identificadores de códigos linguísticos que não veem além da pauta em que seus olhos vagueiam.


No âmbito da educação, de acordo com estatísticas, pesquisas e relatórios escolares, há um quadro crescente e significativo de alunos que não sabem ler ou escrever, refletir e interpretar um texto, redigir uma redação sobre determinado assunto, enfim, produzir conhecimento. E esse déficit de aprendizagem é real não apenas na disciplina de Língua Portuguesa, mas também em outras áreas do núcleo comum.


O referente contexto leva a entender que o ensino forma cidadãos passivos e analfabetos funcionais e que devido ao não exercício da reflexão, não sabem analisar o mundo ao seu redor. O que se observa, é que tal fenômeno acontece em nível de Brasil afetando as Escolas.


Nesse sentido as sugestões de atividades voltadas ao ensino e aprendizagem de leitura, se acorrenta no desejo de se tentar minimizar o déficit de leitura nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Para isso, o professor irá usar de recursos que melhor se adequem a realidade dessa clientela, de metodologias que envolvam atividades práticas como produção de textos com os alunos através de palavras geradoras, identificação de letras e leituras de frases e textos em rótulos de objetos, produtos de vendas e propagandas visuais; a utilização de músicas para a identificação de letras, frases e nomes. Ou melhor, ler o que existe ao seu redor de maneira construtiva e motivadora. Assim, acredita-se que com a referida prática em classe e extraclasse os educandos aprenderão a ler com maior facilidade, como também entender o que se passa ao redor.  


Enfim, as sugestões de atividades para a prática de leitura se apresentam como norteadora para a formação de leitores capazes de ver o mundo além do papel e das imagens que o mundo escrito e visual transmiti. É importante lembrar que aprender a ler se torna essencial para derrubar barreiras como à do analfabetismo que cega e fecha portas, visto que, a aprendizagem se desenrola com mais vigor quando se passa a descobrir o significado por trás do reino das palavras.


Dessa forma, para se alcançar êxito no que concerne a presente proposta, é necessário que a Escola mude seu modo de ver e praticar a educação buscando sustentar suas ações curriculares em objetivos comuns como:


  • · Propiciar um referencial metodológico de ensino e aprendizagem dinâmico e contextual que desperte a curiosidade, a motivação e o gosto pela leitura como instrumento propulsor ao desenvolvimento de habilidades cognitivas.

  • · Incentivar o espírito de equipe, de colaboração permitindo a ajuda mútua entre os alunos.

  • · Realizar leituras em grupo e discussão das temáticas abordadas de forma contextual e participativa.

  • · Promover oficinas para a produção de recursos visuais e do mural escolar.

  • · Propor atividades de campo que quebre a monotonia da sala de aula e do ambiente fechado.

  • · Desenvolver atividades práticas que dinamizem a aula e permitam que o aluno expresse sua criatividade, seu conhecimento.

  • · Realizar palestras com pais, alunos e professores sobre a importância do hábito de ler na vida do ser humano.

  • · Utilizar recursos audiovisuais e atividades práticas em sala de aula e fora de sala na prática de ensino e aprendizagem da leitura.

  • · Motivar o aluno a identificar e ler: letras, palavras e textos por intermédio de rótulos de produtos de vendas e propagandas, além do uso prático e diário do dicionário.

  • · Produzir textos juntamente com os alunos utilizando palavras do cotidiano e do conhecimento destes.

  • · Associar a leitura com elementos auxiliares como: objetos, desenhos, pinturas de maneira a se exercitar a leitura visual e a observação.

  • · Desenvolver a capacidade de criação através da leitura e interpretação de textos no ambiente escolar e extraescolar.

  • · Integrar leitura e escrita como instrumentos norteadores ao desenvolvimento da linguagem.

  • · Incentivar o prazer da leitura e da produção de trabalhos literários numa perspectiva de crescimento político, social e cultural.

  • · Promover oficinas de produção de recursos didáticos através de sucatas que auxiliem no despertar da leitura.

  • · Mobilizar a família para que esta participe ativamente da vida escolar de seu filho.

  • · Estreitar laços de convivência e experiências entre professores, corpo técnico e alunos numa perspectiva de construção sistemática do ensino-aprendizagem anelado no prazer de ler.


Para tanto, as sugestões de atividades se vinculam na dinâmica de integração entre os diversos setores da Escola e profissionais, além da família e comunidade como forma de se possibilitar um ensino e aprendizagem mais eficiente e qualitativo no que diz respeito ao prazer de ler e descobrir o mundo ao redor. Sendo assim, se espera que com tal proposta de trabalho os alunos possam identificar letras, palavras como também ler, interpretar e escrever textos.


Para isso, é preciso uma ação metodológica com base em aspectos construtivista de ensino, em que se priorizam o desenvolver de atividades práticas que motivem a curiosidade em descobrir a leitura, produzir textos, pesquisar os diversos caminhos da escrita.


E dentro do âmbito escolar, há necessidade enquanto currículo de realizar momentos de palestras e campanhas sobre a importância da leitura envolvendo pais, alunos, comunidade e o corpo escolar de forma a incentivar a prática e o prazer em ler, escrever, descobrir o mundo por trás do que está escrito.

Assim, como auxílio pedagógico no ensino e aprendizagem da leitura, tem-se como sugestões:


  • · Dinâmicas de trabalho em grupo.

  • · Atividades de recorte e colagem de letras, frases, textos e figuras num trabalho de associação.

  • · Uso de músicas, brincadeiras, trabalho em classe e extraclasse no que se refere ao exercício da pesquisa e leitura.

  • · Leitura individual e em equipe proporcionando um ensino dinâmico e motivador.

  • · Pesquisa de campo com os alunos no sentido de se mostrar as diversas maneiras da escrita como também exercitar a leitura ambiente em lojas, comércios, faixas, anúncios (exercício por grupo de 5 alunos no máximo por dias alternados e com seus respectivos responsáveis).

  • · Utilização de tecnologias/mídias como computador e internet para estimular a pesquisa e a leitura de textos, hipertexto e produção textual.

       

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Quando se aprende a ler, se aprende também a descobrir o mundo que está por trás das mensagens, dos escritos. Ler significa enxergar além do que nossos olhos vislumbram. Significa interpretar, decifrar a intensidade de informações que estão por detrás dos vocábulos e que nos fazem ver a vida com uma nova perspectiva e de certa forma agir sobre ela como agente produtor de conhecimento. Saber ler além de ser uma função social primordial na relação, hoje, em sociedade, é de fundamental importância para a formação do homem atual. Falo do ler como instrumento de transformação e evolução do homem enquanto ser social, político e histórico.


Nessa lógica, para falar em Educação como instrumento de ação reflexiva e de transformação, é primordial se abordar a importância da leitura na Educação. A leitura que é uma ferramenta que possibilita a evolução na melhoria da condição social e humana. Então enxergar, entender e interagir com o mundo de uma maneira crítica, tem através da leitura um caminho para a promoção do desenvolvimento de habilidades e competências. Isso, na medida em que os conhecimentos vão sendo absorvidos e se amplia gradativamente a produção cultural da humanidade.


Nesse prisma, faz-se necessário trabalhar essa questão, de uma forma vinculada à leitura, ou seja, fazer da leitura, não apenas a decodificação de códigos, mas um mecanismo de transformação da realidade, onde ler torna-se um ato de conhecimento e de descobertas de “novos mundos”, novas possibilidades e novas opções de escolha.


É um trabalho de conscientização, de resgate de valores em todas as dimensões da vida. Por isso, a leitura e a interpretação do que se lê tem o poder de alcançar a transformação pessoal dos alunos, e uma vez conseguido isto, fica mais acessível chegar à formação da criticidade frente a si mesmo e o mundo que o rodeia. Aí sim, acontece a transformação, tendo então, um cidadão, sujeito de sua história e a partir disso, tudo começa a mudar.


Assim, é notório que as questões mais intrigantes nesse trabalho, relaciona-se a metodologia, sistema de ensino, relação social, investimentos, direta e indiretamente ligados ao ensino. Fatores históricos que ainda emperram o avanço na educação, principalmente quando enfatizamos a questão aprendizagem de leitura.


E numa visão construtivista se apresenta uma proposta de ensino de leitura com o objetivo macro de formar leitores críticos e capazes de fazerem a diferença no meio.


Com isso, a compreensão que fica, é o de uma mudança radical no Projeto Político Pedagógico da Escola para a formação do homem atual, consciente de seu tempo. Sendo essencial uma mudança sublime no modo de como se ensinar a ler, de como se conduzir a leitura para a formação política e critica do mundo. Um objetivo que deve ser trilhado por todos e para todos enquanto sistema de ensino, enquanto escola. Quando essa práxis se torna significativa, há simultaneamente a transformação humana, social e política. Há a transformação da Escola, do homem, da sociedade e do mundo. Com essa concepção acredita-se na formação de leitores críticos, de bons leitores promotores de mudanças.

 

5. REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: de 1ª a 4ª série. Revista Nova Escola: Edição Especial, São Paulo: Abril Cultural.

 

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & lingüística. 10ª ed. São Paulo: Scipione, 2003.

 

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publicação de artigo científico

Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).



Como citar esse artigo:


VIANA, Wanessa Costa; SANTANA, Alfredo Henrique Castro; ROCHA Jesuslene Gomes. O ensino e aprendizagem de leitura nas séries iniciais numa perspectiva construtivista. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 484-501. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.028


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