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ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA E CLÍNICA DOS PACIENTES COM METÁSTASE CEREBRAL ORIUNDA DE CÂNCER DE PULMÃO EM SERVIÇO DE NEUROCIRURGIA

Matheus Henrique de Sousa Moura

Atualizado: 13 de fev.

EPIDEMIOLOGICAL AND CLINICAL ANALYSIS OF PATIENTS WITH BRAIN METASTASES FROM LUNG CANCER IN A NEUROSURGERY SERVICE





Informações Básicas

  • Revista Qualyacademics v.2, n.6

  • ISSN: 2965976-0

  • Tipo de Licença: Creative Commons, com atribuição e direitos não comerciais (BY, NC).

  • Recebido em: 25/12/2024

  • Aceito em: 27/12/2024

  • Revisado em: 28/12/2024

  • Processado em: 29/12/2024

  • Publicado em: 03/01/2025

  • Categoria: Estudo Experimental



Como citar esse material:


MOURA, Matheus Henrique de Sousa. Análise epidemiológica e clínica dos pacientes com metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em serviço de neurocirurgia. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.6, 2024; p. 299-311. ISSN 2965976-0 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v2n6.022



Autor:



Matheus Henrique de Sousa Moura

Médico pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. - Contato: math.moura1408@gmail.com



Baixe o artigo completo em PDF



RESUMO


Este estudo tem como objetivo analisar o perfil epidemiológico, clínico, terapêutico e prognóstico de pacientes diagnosticados com metástase cerebral decorrente de câncer de pulmão atendidos em um serviço de referência em Neurocirurgia. Trata-se de um estudo epidemiológico, documental, retrospectivo, descritivo e transversal, com abordagem quantitativa, no qual foram analisados dados de pacientes atendidos entre 2015 e 2022. As informações foram coletadas a partir de prontuários e as variáveis investigadas incluíram idade, raça/etnia autodeclarada, sintomas clínicos, marcadores tumorais, tratamento realizado e localização das metástases cerebrais. O câncer de pulmão, principal causa de mortalidade global entre as neoplasias malignas, tem como um dos maiores desafios o diagnóstico tardio, uma vez que os sintomas são frequentemente inespecíficos. Além disso, o prognóstico dos pacientes é reservado, principalmente quando se trata de metástases cerebrais, o que torna essencial a compreensão dos fatores que envolvem o tratamento e acompanhamento desses pacientes. O estudo incluiu 23 pacientes, sendo 60,8% mulheres e 39,2% homens, com idades variando entre 44 e 77 anos. O adenocarcinoma foi o subtipo histológico mais comum, presente em 95,6% dos casos. Quanto às lesões cerebrais, 34,7% apresentavam tumores solitários, 26% tinham lesões duplas e 39,1% possuíam múltiplas lesões. Os sintomas mais frequentes observados foram cefaleia e rebaixamento do nível de consciência. Em relação ao tratamento, 69,5% dos pacientes foram tratados exclusivamente com microcirurgia, enquanto 26% receberam uma combinação de microcirurgia e radioterapia. Os resultados mostraram que 43,4% dos pacientes evoluíram para óbito, 17,3% permanecem em acompanhamento, e os demais pacientes tiveram o seguimento perdido. Este estudo reforça a importância de conhecer o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes com metástase cerebral decorrente de câncer de pulmão, pois isso pode contribuir para melhorar as estratégias de diagnóstico e tratamento, além de destacar a relevância do diagnóstico precoce e das intervenções adequadas para a melhoria do prognóstico e da qualidade de vida dos pacientes.


Palavras-chave: Metástase cerebral; Câncer de pulmão; Epidemiologia; Prognóstico.

 

 

ABSTRACT

 

This study aims to analyze the epidemiological, clinical, therapeutic, and prognostic profile of patients diagnosed with brain metastases resulting from lung cancer who were treated at a reference Neurosurgery service. This is an epidemiological, documentary, retrospective, descriptive, and cross-sectional study with a quantitative approach, in which data from patients treated between 2015 and 2022 were analyzed. The information was collected from medical records, and the variables investigated included age, self-declared race/ethnicity, clinical symptoms, tumor markers, treatment received, and the location of brain metastases. Lung cancer, the leading cause of global mortality among malignant neoplasms, presents one of its greatest challenges in late diagnosis, as symptoms are often nonspecific. Furthermore, the prognosis for patients is generally poor, especially in cases of brain metastases, highlighting the need to understand the factors involved in their treatment and follow-up. The study included 23 patients, 60.8% of whom were women and 39.2% men, aged between 44 and 77 years. Adenocarcinoma was the most common histological subtype, present in 95.6% of cases. Regarding brain lesions, 34.7% had solitary tumors, 26% had double lesions, and 39.1% had multiple lesions. The most frequently observed symptoms were headache and decreased level of consciousness. In terms of treatment, 69.5% of patients underwent microsurgery alone, while 26% received a combination of microsurgery and radiotherapy. The results showed that 43.4% of the patients progressed to death, 17.3% remained under follow-up, and the others were lost to follow-up. This study emphasizes the importance of understanding the epidemiological and clinical profile of patients with brain metastases resulting from lung cancer, as this knowledge can contribute to improving diagnostic and treatment strategies. It also highlights the relevance of early diagnosis and appropriate interventions to enhance patients' prognosis and quality of life.

 

Keywords: Brain metastasis; Lung cancer; Epidemiology; Prognosis.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O câncer de pulmão ganhou notoriedade no âmbito científico por ser, desde meados da década de 1980, líder em incidência e mortalidade, correspondendo a cerca de 13% de todos os novos casos de câncer. Segundo o Global Burden of Disease Study 2015, o câncer de pulmão é a principal causa de mortalidade por câncer - mais de 1,7-1,8 milhões de mortes por ano. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou em 596.000 o número de novos casos de câncer em 2023, 28.220 (4,7%) dos quais foram casos de neoplasia maligna primária de pulmão. Ademais, foi o primeiro mais letal em homens e o segundo em mulheres, sendo responsável por 28.717 óbitos em 2018. (INCA, 2023).


Tem como fatores de risco doença pulmonar preexistente, exposição química, exposição ocupacional (radônio, asbesto, urânio, entre outros), histórico familiar de câncer de pulmão e, principalmente, o tabagismo - estima-se que em torno de 89-90% dos casos de câncer de pulmão estejam relacionados com o habito de fumar. Ademais, os sinais e sintomas presentes no câncer de pulmão são inespecíficos, e, de acordo com o INCA, surgem em um período de evolução avançado da patologia. Assim sendo, é possível citar dentre as queixas mais comuns relatadas pelos pacientes: tosse persistente, hemoptise, angina, falta de ar, rouquidão e perda de peso. (MATHIAS, 2020).


Na maioria das vezes o diagnóstico é tardio, quando a doença já se encontra localmente avançada ou metastática, o que dificulta o tratamento curativo. No cenário inicial da doença, a expectativa de vida em cinco anos é de 50-90%. Em contraste, aqueles diagnosticados em estágio avançado, apresentam taxas de sobrevida em cinco anos menor do que 20%, O tratamento depende do tipo celular, do estágio da doença e do estado fisiológico do paciente. Em geral, o tratamento pode envolver cirurgia, radioterapia ou quimioterapia ou uma combinação dessas modalidades. Na última década, além de novas drogas, inovações tecnológicas em assistência surgiram em alta velocidade para permitir a individualização do tratamento do câncer; no entanto, o aumento em sua acessibilidade econômica não acompanhou essa evolução devido aos custos. (ARAUJO, 2018).


As metástases cerebrais são os tumores mais frequentes em adultos e representam importante causa de desfechos desfavoráveis. De acordo com dados do Metropolitan Detroit Cancer Surveillance System, a incidência de metástase cerebral (MC) foi, majoritariamente, oriunda de câncer de pulmão (MCOCP) com 19.9%, seguido dos oriundos de melanoma (6,9%), renal (6,5%) e mama (5,1%). Este evento representa uma grande preocupação no tratamento desses pacientes devido não apenas a sua alta frequência, como também pelos impactos significativos na sobrevida e qualidade de vida dos portadores. (BARNHOLTZ- SLOAN, 2004).


Embora o câncer de pulmão de não pequenas células seja mais frequente (80-85%), o de pequenas células é mais passível de metástase cerebral. O prognóstico dos pacientes com metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão (MCOCP) é ruim, possuindo uma sobrevida média de apenas 2,5 meses e a taxa de sobrevida em um ano é de 10,4%; sendo seu manejo focado no controle local e na qualidade de vida dos pacientes. (SMEDBY, 2009).


Mediante o exposto, objetivou-se, com o estudo, analisar o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes diagnosticados com metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em um serviço de referência em Neurocirurgia no Piauí e assim, levando em consideração a distribuição da doença segundo faixa etária, raça, escolaridade, marcadores tumorais, localização e quantidade de metástases e tratamento.


A análise desses pacientes poderá contribuir para o desenvolvimento de intervenções na saúde pública relacionadas ao tema que possam vir a mitigar o número de casos dessa patologia, que além das perdas em números de vidas ainda impactam emocionalmente os portadores.

 

2. MÉTODOS

 

Este estudo abrangeu o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes que evoluíram para metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão, atendidos no Hospital São Marcos, no período de 2015 a 2020. Tratou-se de um estudo de caráter epidemiológico, documental, retrospectivo, descritivo, do tipo transversal, de natureza quantitativa.


O projeto foi aprovado pelos serviços em que foi realizada a pesquisa, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São Marcos, com número CAAE 59023722.0.0000.8050. Foram seguidas todas as recomendações de boas práticas clínicas segundo a resolução CNS 466/2012.


Realizado em hospital de referência neurocirúrgica do estado do Piauí. O trabalho foi posto em prática através do exame e interpretação das informações contidas nos prontuários de pacientes com metástase cerebral oriunda de câncer de mama no período de análise. Não houve restrição de sexo ou idade. Entre as variáveis de interesse do estudo, foram selecionados, idade, raça/etnia autodeclarada, sintomas clínicos, marcadores tumorais e tratamento e localização das metástases cerebrais. Somado a isso, foram buscadas referências bibliográficas em bancos/sites de pesquisas científicas, como o Scientific Electronic Library Online (Scielo), Science Direct e o PubMed.


A partir dos dados obtidos, foi realizado uma análise descritiva simples, através de números absolutos e relativos e proporção na base 100 e os resultados foram apresentados através de tabelas e gráficos, utilizando os aplicativos Microsoft Excel e Microsoft Word, agrupando os dados por filtro utilizado. Os achados mais significativos foram apresentados em tabelas. A pesquisa não possui conflito de interesses.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

No intervalo de estudo, foram atendidos 23 pacientes com metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão (MCOCP), sendo 14 mulheres (60,8%) e 9 homens (39,2%). A faixa etária variou entre 44 e 77 anos. Com o intuito de caracterizar a idade desses pacientes as faixas etárias foram agrupadas em intervalos de cinco anos. De acordo com esse agrupamento, os grupos entre 64-68 e 74-78 anos lideraram com 5 casos em cada, a média de idade encontrada foi de 64 anos.

Sobre a etnia das mesmas, destacou-se a parda com 73,9%, seguido da branca e da preta, ambas com 8,6%. Quando foi avaliado o nível de escolaridade dos pacientes, observou-se que 8 (34,7%) possuíam ensino fundamental incompleto e 2 (8,6%) ensino médio completo. Como o hospital de referência analisado se localiza na capital e tendo em vista que essa instituição recebe uma grande quantidade de pacientes, buscou-se realizar a caracterização das mesorregiões de procedência dos pacientes portadoras de MCOCP com base na análise das cidades de procedência, que foram agrupadas em mesorregiões (Norte Piauiense, Centro-norte, Sudeste e Sudoeste). Assim, obteve-se que a maioria se concentrava no Centro-norte (onde a capital situa-se) com 52,1% (Tabela 1).

 

Tabela 1. Perfil epidemiológico dos pacientes portadores de metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em um Hospital de referência de Teresina-PI. 2015 a 2022.

Variável

N

%

Idade



44-48

1

4,3%

49-53

2

8,6%

54-58

4

17,3%

59-63

2

8,6%

64-68

5

21,7%

69-73

4

17,3%

74-78

5

21,7%

Etnia



Parda

17

73,9%

Branca

2

8,6%

Preta

2

8,6%

Não consta

2

8,6%

Escolaridade



Superior completo

2

8,6%

Médio completo

2

8,6%

Fundamental completo

8

34,7%

Fundamental incompleto

8

34,7%

Analfabeto

2

8,6%

Não consta

1

4,3%

Procedência por mesorregião do Piauí



Norte

5

21,7%

Centro-norte

12

52,1%

Sudeste

3

13,0%

Sudoeste

1

4,3%

Outros estados

2

8,6%

Fonte: Autores (2022). Dados extraídos dos prontuários eletrônicos.

 

Entre os 16 pacientes que possuíam imuno-histoquímica, foram encontrados 7 tipos diferentes de marcadores tumorais, sendo os marcadores Citoceratina 7 e TTF-1 os mais frequentes, presentes em todos os pacientes; seguidos da Napsin A com 15 (93,75%) e do CEA com 9 (56,25%) (Tabela 2).

 

Tabela 2. Número e percentual de marcadores tumorais pacientes portadores de metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em um Hospital de referência de Teresina-PI. 2015 a 2022.

Tipo de marcadores tumorais

N

%

Litoreratina

16

69,5%

TTF-1

16

69,5%

Napsin A

15

65,2%

Leratina 1,5,10 e 14

3

13,0%

Litoreratina 20

2

8,6%

CEA

9

39,1%

BRST-2

1

4,3%

Sem Imuno-Histoquímica

7

30,4%

Fonte: Autores (2022). Dados extraídos dos prontuários eletrônicos.

 

O adenocarcinoma foi o mais comum, presente em quase a totalidade dos pacientes (95,6%), porém, houve um paciente que apresentou como tipo histológico o sarcoma. Com relação ao número de lesões metastáticas, 8 pacientes (34,7%) possuíam tumores solitários, 6 casos (26%) possuíam lesões duplas e 9 casos (39,1%) eram portadores de múltiplas lesões. Nesse contexto, tais lesões localizavam-se supratentorialmente em 14 pacientes (60,8%), infratentorialmente em 3 pacientes (13%) e em ambas as regiões em 6 pacientes (26%). Quanto ao diagnóstico por imagem, foi realizado por ressonância magnética em 15 (65,2%) pacientes e a tomografia computadorizada (TC) foi utilizada por 8 (34,78%) dos pacientes.


Quanto a sintomatologia apresentada pelos pacientes, predominou o quadro de cefaleia e rebaixamento da consciência, presentes, respectivamente, em 11 (47,8%) e 8 (34,7%) pacientes. As manifestações focais foram: paresia 12 (52,1%) pacientes, vertigem 9 (39,1%), convulsão 4 (17,3%) e afasia 2 (8,6%). Nessa perspectiva, 16 pacientes (69,5%) foram tratados apenas com microcirurgia, 6 (26%) com a combinação de microcirurgia e radioterapia e um paciente faleceu antes de receber tratamento. Diante disso, 10 pacientes (43,4%) evoluíram para óbito, 4 (17,3%) permanecem em acompanhamento e outros 9 tiveram o seguimento perdido (Tabela 3).

 

Tabela 3. Perfil clínico dos pacientes portadores de metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em um Hospital de referência de Teresina-PI. 2015 a 2022.

 

Variável

N

%

Sintomatologia



Paresia

12

52,1%

Cefaleia

11

47,8%

Náusea + Vômito

2

8,6%

Vertigem

9

39,1%

Afasia

2

8,6%

Convulsão

4

17,3%

Distúrbios Visuais

2

8,6%

Rebaixamento de Consciência

8

34,7%

Localização



Supratentorial

14

60,8%

Infratentorial

3

13,0%

Ambas as regiões

6

26,0%

Número de lesões



Lesões solitárias

8

34,7%

Lesões duplas

6

26,0%

Lesões multiplas

9

39,1%

Tratamento



Microcirurgia

16

69,5%

Microcirurgia + Radioterapia

6

26,0%

Não consta

1

4,3%

Fonte: Autores (2022). Dados extraídos dos prontuários eletrônicos.

 

Após a análise dos dados obtidos neste estudo, verificou-se que houve predominância no gênero feminino e na faixa etária acima de 64 anos, o que pode estar relacionado ao fato da incidência do câncer de pulmão aumentar progressivamente após os 40 anos de idade, contribuindo para sua disseminação por metástase.


A idade média do diagnóstico de metástase cerebral encontrada em nosso estudo foi de 64 anos, superior ao de trabalhos semelhantes encontrados na literatura, cuja média publicada por cuja média foi de 53,2 anos.  De acordo com Rosen (2007) “a metástase cerebral ocorre com semelhante frequência em homens e mulheres, porém, quando comparado por órgãos específicos, há discrepância”. Uma possível justificativa para o aumento na incidência em mulheres é o fato de que, em termos históricos, as mulheres adotaram a prática de fumar mais tardiamente que os homens, além de poder estar relacionado ao período de latência (CARDOSO, 2013).


O entendimento da heterogeneidade do câncer de pulmão metastático é necessário tanto para o combate aos fatores de riscos por meio da intensificação de medidas preventivas contra o tabagismo, como também para o melhor direcionamento de terapias disponíveis para que o cenário dessa doença seja modificado. O tabagismo representa um importante fator etiológico na gênese e disseminação do câncer de pulmão, sendo este 10 vezes mais frequente nos fumantes que em não fumantes, e 15 a 30 vezes mais comum nos fumantes de maior carga tabágica (40 maços/ano), demonstrando, a relação dose-efeito: 90% dos casos de câncer de pulmão no homem e 79% na mulher podem ser atribuídos ao tabagismo (PASCHOAL, 2009).


No grupo de pacientes analisados, observamos que 17 se consideravam pardas, 10 não possuíam o ensino fundamental completo, e 12 residiam no Centro Norte do estado, sendo, portanto, relevante conhecer e identificar o grupo de pacientes pertencentes a um baixo nível sócio-econômico-cultural a fim de criar políticas públicas que alcancem de forma efetiva esta população.


Em pacientes com MCOCP, o adenocarcinoma é responsável pela grande maioria dos casos. Esse subtipo esteve presente em quase a totalidade dos pacientes deste estudo, isso pode ser explicado pela agressividade do comportamento biológico desse tipo de tumor, ampla aplicação de drogas direcionadas e avanços no manejo do adenocarcinoma pulmonar. Esses fatores contribuíram para prolongar a sobrevida dos pacientes, levando a aumento da probabilidade de metástase (SEQUIST, 2013).


Existem vários painéis de anticorpos para o câncer de pulmão, dentre estes anticorpos, o fator de transcrição da tireoide 1 (TTF-1) e Napsin A são amplamente utilizados. O TTF-1 é um marcador molecular específico do epitélio folicular da tireoide e do epitélio alveolar, que demonstra alta sensibilidade e especificidade na imuno-histoquímica para o diagnóstico de câncer de pulmão. A Napsin A é um membro da família das proteinases aspárticas com alta especificidade, cuja expressão pode ser encontrada positiva em alguns adenocarcinomas de pulmão pouco diferenciado negativos pelo TTF-1. A Napsin A se mostra um marcador útil quando usada em conjunto com o TTF-1, pois fornece alta sensibilidade e especificidade para a classificação do carcinoma pulmonar primário como adenocarcinoma (DO VALE, 2021).


As manifestações clínicas desses pacientes podem ser gerais ou focais. Dentre as manifestações gerais, a cefaleia e o rebaixamento da consciência foram os mais comuns. A manifestação focal mais prevalente foi paresia, seguida de vertigem, similar ao encontrado na literatura. Os pacientes analisados apresentaram alguma sintomatologia antes do diagnóstico da metástase. Portanto, paciente com câncer que evoluem com manifestação neurológica geral e/ou focal, deve-se prosseguir com investigação por imagem para diagnóstico e tratamento direcionado (SOFFIETTI, 2006).


Durante um estudo retrospectivo, avaliou-se dados coletados de 2.673 pacientes com câncer de pulmão não pequenas células metastáticas tratados entre 1990 e 2008. Somente 10% dos pacientes apresentavam um escore no Karnofsky performance status (KPS) > 90, e metade dos pacientes tinham um escore no KPS ≤ 70%, refletindo o acesso vagaroso dos pacientes a centros especializados em câncer. Sabe-se que o KPS é influenciado por múltiplos fatores, mas provavelmente a anorexia e a perda de peso sejam alguns dos principais problemas, representando fatores independentes para mortalidade antes mesmo de se iniciar o tratamento para câncer de pulmão (YOUNES, 2011).


A demora no diagnóstico de câncer em geral e, em particular, de câncer de pulmão é um dos principais desafios enfrentados no Brasil. Aproximadamente 70% dos pacientes apresentam doença localmente avançada ou metastática (estágio III e IV, respectivamente). De acordo com um grande banco de dados de casos de câncer no estado de São Paulo, apenas 8,8% dos 20.850 pacientes com câncer de pulmão registrados no sistema entre 2000 e 2010 apresentavam doença no estágio I. (DOS SANTOS, 2016).


Atualmente, a ressonância magnética contrastada representa o padrão ouro para diagnóstico de metástase, representando uma abordagem mais sensível do que a tomografia. Dentro de alguns casos, a biopsia da lesão é indicada, apesar dos riscos associados ao procedimento. As MCOCP, provocam lesões cerebrais múltiplas e disseminadas por diferentes regiões do encéfalo. Possui preferência por regiões em que a vasculatura é mais fina e estreita, corroborando assim o papel potencial da disseminação hematogênica. Geralmente, MCOCP apresenta-se como lesões múltiplas, porém, quando detectadas precocemente podem ser como lesões solitárias e isso está associado a uma melhor resposta à ressecção cirúrgica (ALI, 2013).


No caso do câncer de pulmão de pequenas células, que possui alta probabilidade de evolução com metástase cerebral, alguns serviços optam por radiação profilática do cérebro como parte do tratamento, mesmo na ausência de lesões cerebrais confirmadas por exames de imagem. O uso de irradiação craniana profilática demonstrou ser eficaz na redução de metástases ao longo de três anos, com metástase cerebral tendo uma incidência de 33% em pacientes submetidos a irradiação, enquanto os pacientes que não receberam obtiveram 59%. O seu manejo tem evoluído nos últimos anos devido aos avanços tecnológicos da radioterapia e melhores opções de terapia sistêmica. A ressecção cirúrgica permanece sendo importante opção no tratamento dessas metástases, principalmente em pacientes com lesão solitária ou sintomático (EBBEN, 2016).

 

4. CONCLUSÃO

 

O estudo revelou predominância de metástases cerebrais oriundas de câncer de pulmão em mulheres acima de 59 anos, com maior incidência em pacientes de raça parda e baixo nível socioeconômico. Houve aparecimento de metástases em faixas etárias inferiores, sendo assim, o rastreio precoce do câncer de pulmão ganha cada vez mais importância em pacientes mais jovens, a fim de evitar complicações como a metástase. O adenocarcinoma foi o subtipo mais frequente, com predomínio de lesões múltiplas e localização supratentorial. Esses achados reforçam a importância do rastreio precoce e do diagnóstico oportuno, bem como da implementação de políticas públicas que ampliem o acesso ao tratamento e reduzam fatores de risco.

 

5. REFERÊNCIAS

 

ALI, A; GOFFIN, J. R.; ARNOLD, A.; ELLIS, P. M. Survival of patients with non-small-cell lung cancer after a diagnosis of brain metastases. Curr Oncol, v. 20, n. 4, p. 300-306, 2013.

 

ARAUJO, L. H.; BALDOTTO, C.; CASTRO, G.; KATZ, A.; FERREIRA, C. G.; MATHIAS, C. et al. Lung cancer in Brazil. J Bras Pneumol, v. 44, n. 1, p.55-64, 2018.

 

BARNHOLTZ-SLOAN, J. S.; SLOAN. A. E.; DAVIS, F. G.; VIGNEAU, F. D.; LAI, P.; SAWAYA R. E. Incidence proportions of brain metastases in patients diagnosed (1973 to 2001) in the Metropolitan Detroit Cancer Surveillance System. J Clin Oncol, v. 22, n. 14, p. 2865-2872, 2004.

 

CARDOSO, D. M. Perfil clínico-epidemiológico de pacientes com metástase cerebral. 2013. 73f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina) - curso de medicina da UFS, Universidade Federal de Sergipe, Aracaju. Disponível em: https://ri.ufs.br/handle/riufs/8015. Acesso em: 15 jan. 2025

 

DO VALE, G. P.; OLIVEIRA, C. S.; FERRO, G. V. R.; DIAS, L. B. Perfil imunohistoquímico dos marcadores TTF-1 e NAPSIN-A no câncer de pulmão: estudo em amostras de um laboratório de referência na amazônia oriental. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 7, p. 75548-75559, 2021.

 

DOS SANTOS, R. S.; FRANCESCHINI, J. P.; CHATE, R. C.; GHEFTER, M. C.; KAY, F.; TRAJANO, A. L. C.; PEREIRA, J. R.; SUCCI, J. E.; FERNANDO, H. C.; SAAD JÚNIOR, R. Do Current Lung Cancer Screening Guidelines Apply for Populations With High Prevalence of Granulomatous Disease? Results From the First Brazilian Lung Cancer Screening Trial (BRELT1). Ann Thorac Surg, v. 101, n. 2, p. 481-6, 2016.

 

EBBEN, J. D.; YOU, M. Brain Metastasis in Lung Cancer: Building a Molecular and Systems-Level Understanding to Improve Outcomes. International Journal of Biochemistry and Cell Biology, v. 78, p. 288-296, 2016.

 

MATHIAS, C.; PRADO, G. F.; MASCARENHAS, E.; UGALDE, P. A.; GELATTI, A. C. Z.; CARVALHO, E. S.; FARONI, L. D.; OLIVEIRA, R.; LIMA, V. C. C.; CASTRO, G. Lung cancer in Brazil. Journal of Thoracic Oncology, v. 15, n. 2, p. 170-175, 2020.

 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. INCA, 2023. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/estimativa-2023-incidencia-de-cancer-no-brasil. Acesso em: 15 jan. 2025.

 

Paschoal M. E. M. Epidemiologia do câncer de pulmão. Revista Pulmão RJ, v. 4, n. 1, p. 53-55, 2009.

 

ROSEN, S. T. Brain metastases. New York: Springer, 2007.  

 

SEQUIST, L. V.; YANG, J. C.-H.; YAMAMOTO, N.; O'BYRNE, K.; HIRSH, V.; MOK, T.; GEATER, S. L.; ORLOV, S.; TSAI, C.-M.; BOYER, M.; SU, W.-C.; BENNOUNA, J.; KATO, T.; GORBUNOVA, V.; LEE, K. H.; SHAH, R.; MASSEY, D.; ZAZULINA, V.; SHAHIDI, M.; SCHULER, M. Phase III study of afatinib or cisplatin plus pemetrexed in patients with metastatic lung adeno-carcinoma with EGFR mutations. J Clin Oncol, v. 31, n. 27, p. 3327–3334, 2013.

 

SMEDBY, K. E.; BRANDT, L.; BÄCKLUND, M. L.; BLOMQVIST, P. Brain metastases admissions in Sweden between 1987 and 2006. Br J Cancer, v. 101, n. 1, p. 1919–1924, 2009.

 

YOUNES, R. N.; PEREIRA, J. R.; FARES, A. L.; GROSS, J, L. Chemotherapy beyond first-line in stage IV metastatic non-small cell lung cancer. Rev Assoc Med Bras (1992). v. 57, n. 6, p. 686-691, 2011.

 

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Como citar esse artigo:



MOURA, Matheus Henrique de Sousa. Análise epidemiológica e clínica dos pacientes com metástase cerebral oriunda de câncer de pulmão em serviço de neurocirurgia. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v.2, n.6, 2024; p. 299-311. ISSN 2965976-0 | D.O.I.: doi.org/10.59283/unisv.v2n6.022



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ISSN da Revista Científica: ISSN 2965-9760

Editor Chefe: Jociandre Barbosa de Sousa - CBO 26120

Registro OCID: 0009-0001-0261-3789
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