Conheça a Jornada do herói, ou monomito, a estrutura de storytelling mais utilizada nos grandes bestsellers de todos os tempos. Aprenda agora como usar esta técnica para escrever um livro incrível.
A FÓRMULA DA JORNADA DO HERÓI
A jornada do herói é o método responsável:
- Pelo fascínio das mais famosas histórias mitológicas;
- Por tornar inesquecíveis os contos da Disney, entre outros;
- Por explodir os grandes sucessos de bilheteria nos cinemas;
- Por transformar escritores comuns em grandes best-sellers mundiais;
- Por tornar o roteiro de uma palestra em uma apresentação inesquecível, contagiante e um grande sucesso nos palcos.
Muitos homens e mulheres de sucesso usam este método para apresentação de negócios, lançamento de novos produtos, criação de textos, vídeos e pitch de vendas.
Bem, eu ressalto que na vida real, nos negócios, nas palestras é importante ser sincero e verdadeiro. Assim preservaremos nossa essência, saúde mental e espiritual. Por isso alguns dos conceitos da jornada do herói poderão ser usados e outros não, dependendo de cada caso.
Mas, se você veio até aqui porque quer escrever um conto fantástico e inesquecível, o que vale mesmo é a invencionalidade, a originalidade e muita criatividade. E para isso pode contar com a fórmula, ou o método da Jornada do Herói.
O QUE É A JORNADA DO HERÓI?
No clássico O herói de mil faces, de 1949, o estudioso e escritor Joseph Campbell conceituou a fórmula da jornada do herói: uma estrutura em 17 passos, dividida em 3 etapas, presente nas mais fantásticas histórias mitológicas do mundo antigo e aplicada e replicada em todas as histórias fascinantes já contadas e recontadas pela humanidade.
Joseph Campbell
No livro A Jornada do Escritor, Christopher Vogler, com anos de experiência na indústria cinematográfica, sendo um dos mais aclamados roteiristas de Hollywood, faz uma precisa análise sobre a fórmula da jornada do herói e a transformou em um memorando para os estúdios Disney. Mais tarde escreveu o livro A Jornada do Escritor, um guia de storytelling para escritores e roteiristas, baseando-se em alguns dos mais importantes filmes do cinema e condensou a fórmula da jornada do herói em 12 passos.
Christopher Vogler
Quero lhe pedir permissão para ser audacioso e apresentar um resumo do livro A Jornada do Herói, acrescentando outros dois conceitos baseados em meu aprendizado nestes últimos 20 anos como escritor e palestrante:
COMO USAR A JORNADA DO HERÓI EM 14 PASSOS:
1. Criação do herói
Recebo na redação da Editora UNISV, muitos livros, contos criativos, mas onde não conseguimos identificar o herói no meio de tantos personagens. Não estou dizendo que não pode dar certo. Se a história seguir um roteiro que prenda a atenção do público envolto de mistérios, e o herói ou um grupo de heróis se manifestarem no final, com certeza será bem vindo ao nosso selo editorial VIBE Books. Mas em geral, definir o(s) herói(s) e seu(s) mundo(s) torna tudo mais simples e cativante para o leitor.
Aqui vão algumas dicas para criação do herói:
a) Se for copiar, copie com originalidade (rs).
Criar personagens do zero nem sempre é possível por existirem tantos e tantos. Então copie um pouquinho de vários personagens e de seus mundos e você obterá status de original (Como diria Lavoisier, no mundo “nada se cria, tudo se transforma”).
b) Suba no ombro de gigantes.
Uma ideia que tem dado certo é a de cruzar a vida do herói com a vida de outro personagem famoso, fictício ou real.
Ex.:
- A pequena Sabrina Sapeca era sobrinha da Chapeuzinho Vermelho...;
- A jornalista deveria ir a Londres fazer um apanhado com os descendentes das vítimas de Jack, o estripador, 20 anos após os últimos casos...;
- O caçador de vampiros foi designado a evitar que Santos Dumont fosse vítima de um vampiro no dia da exposição do 14bis...;
- O Gato Verde de barriga amarela foi para Portugal na embarcação de Cabral...”.
E por aí vai... São inúmeras as possibilidades. O fato aqui é pegar impulso em uma história já contada.
c) Crie Identidade.
Faça com que o seu leitor se identifique emocionalmente com o herói, seja em uma dificuldade ou limitação, seja em gostos parecidos, ou sua relação com os amigos, familiares, ou sociedade em que vive. Seja com aquilo que o leitor gostaria de ser ou situação em que ele gostaria de viver. Isso fará com que o seu público alvo ame o herói logo nas primeiras páginas do livro.
2. O mundo comum
Agora que você criou o herói de sua narrativa, deve descrever o seu mundo comum, apresentando o protagonista como um ser comum em seu meio, com destaque para suas fraquezas, hábitos, e limitações, ou para seus pontos fortes em relação aos demais.
Ele pode estar habituado às situações do cotidiano, ou insatisfeito em como as coisas são. Ressalte indícios de um problema, ou situação, que precisa ser resolvida, estando o protagonista atento, ou não a eles.
Descreva fatos que façam com que o leitor comece a se identificar com o herói, ou com os demais personagens de seu meio, se envolvendo com sua trajetória, personalidade, virtudes ou defeitos.
3. O chamado à missão
Chegou o momento que que a jornada do herói toma sua forma inicial, mediante um ocorrido extremo que cause desconforto ao protagonista, tire-o da zona de conforto e o chame a tomar uma atitude que representará um grande desafio rumo ao desconhecido. O sequestro da princesa, a crueldade do ditador, o mal que se aproxima etc.
Neste ponto, ainda introdutório da história, ocorre uma forte motivação para que o protagonista cumpra o chamado à aventura, seja para segurança de seus entes queridos, preservação da sociedade, restauração da paz em sua rotina, atingimento de seus objetivos de vida, superação de crenças limitantes, mudança de maus hábitos, ou superação de suas fraquezas. Você pode focar em uma, ou usar um misto destas emoções provocadas ao protagonista.
4. Recusa do chamado
A primeira reação de qualquer ser humano quando é chamado a sair de sua zona de conforto é recusar a agir de forma diferente, certo? Alguns demoram muito tempo para decidir agir e outros nunca agem. Claro que o seu protagonista irá agir, caso contrário não haveria enredo para o seu livro. Mas ele terá um momento, ou longo tempo de recusa ao chamado em sua jornada do herói, por alguma emoção predominante, tal qual: insegurança, medo, obrigações que o mantém em sua rotina comum, conflitos internos, traumas de já ter tentado uma vez e ter falhado etc. Esta indecisão deverá atormentar o herói por algum tempo, oscilando entre insights de coragem para embarcar na aventura e momentos de temor em se afastar do ambiente seguro para enfrentar os perigos lá fora.
Mesmo que esta recusa demore muitos anos na trajetória de seu protagonista, caso não ajam situações que prendam a atenção do leitor, você não deverá ocupar longos textos com esta parte de sua narrativa, pois correrá o risco de tornar a leitura monótona e insípida. O objetivo aqui é mostrar que assim como o leitor, o herói da história também encontra dificuldades para vencer o processo de autossabotagem.
5. Encontro com o mentor
Diante do impasse em que se encontra, o nosso herói é preciso um empurrãozinho para que ele decida romper todas as barreiras emocionais limitantes e partir para maior aventura de sua vida. Este empurrão foi chamado por Campbell de encontro com o mentor, o que, geralmente, ocorre nos contos mais fascinantes. O momento em que o protagonista da história se encontra com um mentor (sábio, mago, fada, força sobrenatural, carta escrita por um antecessor que ele admira, pessoa que agiu e venceu, exemplo de vida, livro, vídeo, palestra etc.) que dará ao herói tudo o que ele precisa, seja treinamento, conselho, ferramenta, poder, motivação ou outra coisa que faça com que a autoconfiança do herói supere todas as limitações que o impediam de mergulhar em sua missão.
6. A travessia do primeiro limiar
Finalmente o herói parte para sua aventura. Neste momento, descreva como o seu protagonista cruza a fronteira entre seu mundo comum e o novo mundo que o espera: uma passagem para outro universo, o cruzamento do mar, a travessia pelo portal, a viagem no tapete mágico, o momento da partida ao desconhecido onde a transição entre o seu confortável mundo e a escaldante jornada começa. A descoberta de um segredo, uma habilidade, onde o seu protagonista finalmente assumirá seu papel e se desprenderá da sua rotina para encarar novos desafios.
7. Enfrentamento de provas, encontro com aliados e inimigos
O momento em que as primeiras aventuras de seu protagonista ocorrem. Provas, obstáculos, acidentes, armadilhas, ciladas, imprevistos, ou contratempos que o prepararão para os desafios maiores, ou desafio final. Blocos da história onde ele descobre novas habilidades, encontra outros que poderão ser seus aliados, ou inimigos (geralmente os dois grupos se manifestam).
Nesse momento da jornada do herói, ele começa a se desenvolver e apresentar suas habilidades para lidar com desafios, ou suas qualidades relacionais, traços positivos de caráter, conquistando ainda mais o fascínio do leitor pelo personagem.
8. Aproximação da caverna secreta
Trata-se de uma metáfora para um momento de reflexão do protagonista. A aproximação da caverna secreta é o momento em que a jornada do herói é interrompida por uma situação que o leva a confrontar seus questionamentos iniciais, tentando-o a desistir de sua aventura. A morte de um aliado, uma derrota, uma desmotivação provocada pelo inimigo que parece indestrutível, uma lembrança do passado, saudades do seu mundo, arrependimento pré-concebido, ou outra situação que o faça recorrer a um esconderijo, ou simplesmente se refugiar dentro de si mesmo para rever seus dilemas e enfrentar seus conflitos e crenças limitantes. Um breve retorno ao seu estado de recusa ao chamado.
O objetivo desta parte da história é o de gerar mais expectativa no leitor e sinalizar a aproximação do grande desafio para o qual o personagem precisa estar totalmente preparado.
Seguidamente ele tem uma epifania, um retorno à coragem, lembrança das palavras de seu mentor que o faz colocar a cabeça no lugar e relembrar as razões pelas quais aceitou sua missão.
9. O grande desafio
Finalmente chega o momento em que o protagonista deverá usar tudo o que aprendeu ao longo de sua trajetória para enfrentar a grande prova de sua vida, o desafio mais difícil da jornada do herói.
Aqui você pode descrever, por exemplo, uma experiência de quase morte do herói, um teste físico ou psicológico extremo com o seu maior e mais forte inimigo.
O leitor chega a pensar que o herói será derrotado, mas é claro que não. Por fim ele vencerá o inimigo mortal, graças a todo o conhecimento, habilidade e força que reuniu durante seu percurso.
10. O beijo da princesa - a recompensa.
Depois de enfrentar a terrível batalha, chega o momento de o protagonista receber a recompensa. O beijo da princesa pode ser representado por um objeto precioso, um título, uma reconciliação, a mais incrível habilidade que alguém poderia conquistar, a pedra preciosa que salvará o seu reino, a planta que curará sua mãe doente, o elemento que restaurará a honra de sua família, ou qualquer outro elemento de valor que sua criatividade de escritor(a) possa levar você a ter, e que levou o herói a cruzar sua jornada desde o início. Mas, a comemoração precisa ser breve, pois o herói ainda precisa de forças para fazer seu retorno triunfal.
11. O caminho de volta
O caminho de volta deve ser um momento de êxtase para o leitor, que anseia ver o personagem ser reconhecido por tudo o que fez. Finalmente, o herói poderá, em um percurso bem mais tranquilo, retornar para casa laureado de vitórias e com profundas reflexões sobre a experiência vivida.
Aqui você pode rechear a história com uma situação ou reflexão sobre a escolha do herói em realizar um objetivo pessoal com a recompensa ao invés de partilhar com sua comunidade. Alguns escritores usam este momento para o herói ser tentado a permanecer no local da recompensa, se apoderar do trono do inimigo, ou qualquer outro benefício que o faça esquecer de sua comunidade e das motivações iniciais que o levaram a jornada.
12. A ressurreição do mal
Quando tudo parecia perfeito, o mal ressurge das profundezas para uma última batalha épica, o clímax da jornada do herói. O inimigo ressurge como um desafio bem mais difícil do que o anterior.
Tal reviravolta surpreende o leitor e coloca uma tremenda responsabilidade sobre os ombros do protagonista, pois ser derrotado, implicaria não apenas em sua derrota, mas faria outros aliados sofrerem, ou esta seria a última oportunidade de salvação para os seus entes-queridos. Sendo assim ele precisa usar todas as suas habilidades, ou poderes, dar o melhor de si para vencer o desafio final e mostrar que é digno de vitória.
Por fim, o herói derrota o inimigo de uma vez por todas (ou pelo menos ele pensa assim) e salva o seu mundo.
13. O retorno com a recompensa
Agora sim, o herói voltará triunfante, com a recompensa que salvará o seu mundo, recebendo o devido reconhecimento pelo seu ato de bravura e por sua vitória. Todos festejam o seu retorno, até mesmo aqueles não acreditavam que ele fosse capaz. Em alguns casos, aqueles que se opuseram a sua viagem são punidos pela maldade e atos de má fé, mudando toda a dinâmica da sociedade.
Assim, o herói conclui sua jornada como uma nova pessoa, bem mais forte e decidida do que aquela do início da história, transformando seu mundo comum e apresentando uma lição final para o leitor, a conhecida “moral da história”.
14. O chamado para próxima aventura
Item opcional muito comum e forte, onde o mal, ou um novo mal se propõe como um chamado para próxima aventura do herói. Talvez seja, realmente, um chamado para o próximo volume da coleção, ou somente uma ação que levará o leitor para esta incógnita. O fato é que esta técnica simples, porém altamente eficaz, levará o leitor a aguardar ansioso pelo próximo trabalho do escritor, mesmo que não seja a continuação da história de seu livro anterior.
Devo ressaltar que muitos livros de ficção fazem sucesso sem seguir este método, mas grande parte dos maiores sucessos da literatura e do cinema utilizam a Jornada do Herói com êxito, ainda em nossos dias, o que mostra que continua sendo muito eficaz.
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BONUS PARA LHE INSPIRAR:
A SUA JORNADA DO HERÓI
Jociandre Barbosa é escritor, autor/coautor ou organizador de 16 livros; palestrante motivacional e editor para livros sobre desenvolvimento humano e profissional da UNISV
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