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Alenilda Francisca de Lima Lopes

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE HISTÓRICA NA AGROVILA MATA GERAL EM REDENÇÃO, PARÁ

Atualizado: 7 de mai.

THE CONSTRUCTION OF HISTORICAL IDENTITY IN THE AGROVILA MATA GERAL IN REDENÇÃO, PARÁ





Como citar esse artigo Lopes, Teixeira e Nunes (2024):


LOPES, Alenilda Francisca de Lima; TEIXEIRA, Juarez Lopes; LIMA, Agenilda Francisca de. A construção da identidade histórica na Agrovila Mata Geral em Redenção, Pará. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 285-303. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.016



Autores:



Alenilda Francisca de Lima Lopes

Licenciada Plena em História Universidade Vale do Amaral Ceará. Professora de História desde 2000. – Contato: professoraalenilda@gmail.com


Juarez Lopes Teixeira

Licenciado Pleno em Matemática, Universidade Vale do Acaraú, Ceará. Professor da rede pública municipal Redenção Pará. – Contato: juarezlopesteixeira@hotmail.com


Agenilda Francisca de Lima

Licenciada Plena em Pedagogia pela Fesar Redenção Pará. Contato: agenildaz22@gmail.com 




RESUMO

 

Este artigo apresenta dados relevantes de uma pesquisa que objetiva registrar a identidade da comunidade Agrovila Mata Geral, município de Redenção-PA, para aplicação nas aulas da disciplina História, ministrada na escola local, EMEF São Lucas. O estudo não se atém a dados bibliográficos, pois ainda são inexistentes sobre a história local, apenas utiliza-se de poucos autores para embasar a importância da pesquisa. Trata-se, por tanto, de um artigo original, como base metodológica de abordagens qualitativa e quantitativa, com aplicação de um questionário aplicado a membros da comunidade envolvidos com a escola. A análise de dados foi realizada por meio de categorização em banco de dados Excel, complementada por gráficos e análises qualitativas das respostas abertas. A problemática do estudo foi definida com as seguintes questões: Como podemos efetivamente resgatar a história da Agrovila Mata Geral a partir de fontes vivas e registros existentes? Neste contexto, surgem questionamentos importantes: Os alunos estão familiarizados com o processo histórico de formação da agrovila? De que maneira ocorre a formação das identidades dos indivíduos dentro desta comunidade? Foi considerado, especialmente o histórico socioeconômico de reforma agrária e as características peculiares da região. Os principais achados indicam que, apesar da qualificação dos professores e da estrutura escolar adequada, há uma desconexão entre os conteúdos abordados e a realidade cotidiana dos alunos. Por fim, o estudo sugere que fortalecer as conexões entre a escola e a comunidade pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a educação histórica na Agrovila Mata Geral. Isso poderia incluir projetos comunitários que envolvam tanto alunos quanto moradores locais, ajudando a criar um sentido mais profundo de pertencimento e uma compreensão mais rica da história e cultura locais.

 

Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem; Educação Histórica; Reforma Agrária; Práticas Pedagógicas.

 

ABSTRACT

 

This article presents relevant data from research aimed at documenting the identity of the Agrovila Mata Geral community, located in the municipality of Redenção, PA, for application in History classes taught at the local school, EMEF São Lucas. The study does not rely on bibliographic data, as there is still a lack of information about local history; it only draws upon a few authors to justify the importance of the research. Therefore, it is an original article, based on a methodological approach that combines qualitative and quantitative methods, including the administration of a questionnaire to community members involved with the school. Data analysis was conducted through categorization in an Excel database, complemented by graphs and qualitative analysis of open-ended responses. The study's problem was defined with the following questions: How can we effectively retrieve the history of Agrovila Mata Geral from living sources and existing records? In this context, important questions arise: Are students familiar with the historical process of the agrovila's formation? How do individuals' identities form within this community? The socio-economic history of agrarian reform and the region's unique characteristics were particularly considered. The main findings indicate that, despite the qualifications of the teachers and the appropriate school structure, there is a disconnect between the content covered and the students' everyday reality. Finally, the study suggests that strengthening connections between the school and the community could be an effective strategy to improve historical education in Agrovila Mata Geral. This could include community projects involving both students and residents, helping to create a deeper sense of belonging and a richer understanding of local history and culture.

 

Keywords: Teaching-Learning; Historical Education; Agrarian Reform; Pedagogical Practices.

 

1. INTRODUÇÃO

 

O Pará, conhecido por suas riquezas em minério e vegetação, viu a exploração desses recursos dar origem a várias cidades, incluindo Redenção e, paralelamente, a Agrovila Mata Geral, situada em uma área rural. O desenvolvimento de Mata Geral está intimamente ligado ao projeto de Reforma Agrária implementado pelo INCRA no início da década de 1980, visando promover uma distribuição mais equitativa de terras e estimular o crescimento econômico local. Este contexto histórico e socioeconômico singular oferece um pano de fundo rico para o estudo do processo de ensino-aprendizagem, particularmente na disciplina de história, que pode refletir e contextualizar as experiências vividas por essa comunidade.


Durante o período inicial de ocupação, os habitantes enfrentaram numerosos desafios ambientais e econômicos, desde condições climáticas adversas até riscos associados à fauna local. Essas adversidades fortaleceram a resiliência da comunidade, que possui uma população amigável e um povo batalhador. Além disso, moldaram suas atividades econômicas iniciais, como a extração de madeira e a agricultura de subsistência, evoluindo posteriormente para a pecuária, que ainda hoje caracteriza a economia local. Essa evolução econômica deve fazer parte do currículo de história na Escola Municipal de Ensino Fundamental São Lucas, buscando conectar os alunos com a história viva de sua própria região.


Atualmente, a Agrovila Mata Geral, com seus cerca de 300 habitantes, mantém uma identidade cultural rica e diversificada. A Escola São Lucas, que serve tanto ao ensino fundamental quanto ao médio, é um centro vital para a comunidade, não apenas educacionalmente, mas também como um espaço de encontro cultural e social. Este estudo se concentra especificamente em uma escola, utilizando os princípios de Vygotsky sobre o impacto do ambiente social no aprendizado, aborda a disciplina de história de maneira que ressoa com o contexto local dos estudantes.


Dada a escassez de documentação escrita sobre a história local, este estudo tem importância fundamental, visando documentar e analisar como o ambiente escolar pode efetivamente incorporar e refletir as realidades socioeconômicas e culturais de Mata Geral, formando a identidade local. Este enfoque ajuda a enriquecer a experiência educacional dos alunos. Ao integrar os achados deste estudo no projeto pedagógico da escola, propõe-se reforçar a conexão dos alunos com sua própria história, promovendo um ensino de história que não apenas informa, mas também engaja e inspira.


Ao avaliar como a Escola São Lucas implementa seu currículo de história, este trabalho busca oferecer insights sobre como práticas pedagógicas podem ser adaptadas para melhor atender às necessidades de uma comunidade tão única. A inclusão de aspectos locais no ensino de história ajudará os alunos a compreender melhor seu passado e presente, capacitando-os a participar mais ativamente na construção de um futuro mais justo e esclarecido para a região de Mata Geral. Este estudo, portanto, destaca a importância da educação histórica contextualizada e sugere caminhos para que a educação possa ser um veículo para maior conscientização e transformação social.

 

1.1 A NOÇÃO DE COMUNIDADE POLÍTICA, SOCIAL E CULTURAL

  

Entre os pioneiros da sociologia, Max Weber se destacou significativamente por suas contribuições ao estudo do racionalismo ocidental. Seu trabalho abrangeu a racionalização tanto em termos de sistemas sociais e organizações quanto de instituições e domínios culturais. Weber argumentava que o avanço de qualquer forma de estrutura social estava intrinsecamente ligado à racionalização, uma noção que se estendia também às comunidades políticas, hoje representadas pelos Estados-nação. No contexto ocidental, essa racionalização das entidades políticas evoluiu para as democracias liberais contemporâneas, caracterizadas pela valorização dos princípios de justiça centrados nos direitos individuais e por uma postura crítica contra a vinculação da identidade política a valores que não sejam universalmente aplicáveis.


Apesar de associar a racionalização a ideias de progresso, complexidade e independência das esferas culturais, Weber mantinha uma visão crítica desses processos e seu olhar sobre a modernidade era decididamente pessimista. Por um lado, ele via uma erosão da liberdade pessoal nos processos de burocratização, essenciais para o avanço de organizações sociais mais complexas, onde a ação racional não mais se guiava pela autonomia e princípios individuais, mas sim pelas exigências organizacionais. Por outro lado, nos processos de secularização ou desencantamento do mundo, ele observava uma perda de sentido que ameaçava a coesão social, à medida que as visões de mundo se tornavam mais seculares e as esferas culturais ganhavam autonomia e se diferenciavam.


Em Economia e Sociedade, obra que reúne suas principais contribuições teóricas conceptuais, Weber (2022) apresenta a seguinte definição para a noção de comunidade política:


Uma comunidade cuja ação social é dirigida para a subordinação de um território e da conduta das pessoas dentro dele à dominação ordeira por parte dos participantes, através da disposição de recorrer à força física, incluindo normalmente a força das armas (1978:901).
Além de dominar um território e de manter o controle sobre a conduta de seus habitantes, mesmo que tenha que fazer uso da força física para tal, uma comunidade política se caracterizaria ainda pela capacidade de regulação das interações entre seus membros, em sentido amplo, não se restringindo às ações ou práticas sociais voltadas apenas para a realização de seus interesses econômicos (Idem:902).

Na mesma linha, a menção à natureza ordenada da dominação destaca a relevância do reconhecimento da autoridade ou da legitimidade das relações de poder estabelecidas. De forma similar, as comunidades políticas também se definem pelo fomento de valores e características culturais que são compartilhados por seus membros, bem como por um senso de solidariedade e, possivelmente, uma identidade comum.


Entretanto, o processo de racionalização das instituições políticas, especialmente em democracias liberais modernas que enfrentam alta diferenciação social e diversidade cultural crescente, resultou em um afastamento tão significativo entre o quadro político institucional dessas democracias e as formas de vida que as sustentam, que se tornou desafiador considerá-las como comunidades políticas nos termos de Weber. Ou seja, como unidades políticas com uma identidade cultural clara ou que compartilham uma crença religiosa, filosófica ou moral específica. Por essa razão, alguns teóricos preferem usar o termo sociedades políticas em vez de comunidades. No entanto, a definição de uma unidade política, mesmo quando limitada às democracias constitucionais modernas, ainda exige algum tipo de vínculo entre princípios e valores, demonstrando que concepções meramente formais ou procedimentais de organização política são insuficientes para resolver essa questão. É nesse contexto que conceitos como cultura pública comum emergem e se tornam relevantes no debate teórico.


Em resposta às críticas sobre a importância da identidade de grupo e da sensação de pertencimento, do ponto de vista dos cidadãos e dos laços de solidariedade que daí surgem, os pensadores liberais desenvolveram noções como cultura pública ou cultura política comum. Esses conceitos buscam incorporar a dimensão dos valores, considerada essencial para motivar a participação dos indivíduos na vida política e na prática da cidadania nas democracias deliberativas.


Mesmo quando se tenta valorizar elementos substanciais da cultura em debate, as argumentações podem ser vistas como incompatíveis devido à diversidade cultural encontrada em variados grupos sociais. Isso desafia a eficácia da noção de uma cultura pública ou política comum em atender completamente às necessidades de contextualização dentro de uma comunidade. Como cidadão de uma democracia liberal moderna, pode ser difícil se sentir representado pelas instituições políticas ou internalizar noções de dever cívico quando essas estruturas parecem desconsiderar os valores cultivados nas comunidades ou grupos de referência. Nestes, os cidadãos buscam reconhecimento não só como indivíduos, mas também como pessoas dignas de respeito, portadoras de uma moral e identidade próprias.


Especificamente, no contexto da comunidade de Mata Geral e no modelo de comunidade política refletido entre a população de Redenção, este estudo explora até que ponto a dissociação entre direitos e valores ou entre valores universais e locais contribui para níveis adequados de integração social. Especialmente nas democracias liberais modernas, onde lidar com demandas por reconhecimento se tornou um dos principais desafios políticos atuais, este fenômeno pode ser visto como um esforço para contrapor a perda de significado que Weber destacou em sua análise da modernidade. Assim, este trabalho delineará as principais características que moldaram a formação inicial do povoado, esclarecendo suas origens migratórias e delineando o estilo de vida atual da comunidade. Adicionalmente, será feita uma análise do conceito de cultura pública comum, colocando-o em um contexto mais amplo e explorando sua aplicabilidade e limitações. 

 

1.2 O ENSINO DE HISTÓRIA - UM BREVE COMENTÁRIO

 

Com a ascensão dos processos de industrialização e urbanização no Brasil, houve uma reavaliação significativa sobre a representação do povo brasileiro na narrativa histórica nacional. Enquanto algumas correntes de pensamento atribuíam o atraso econômico do país à predominância de uma população mestiça, outras enfatizavam a importância de compreender a identidade nacional e suas características culturais distintas em comparação a outras nações, visando promover uma integração equitativa da sociedade brasileira na civilização ocidental.


Nos currículos escolares e materiais didáticos, incorporou-se a noção de democracia racial, propondo a ausência de preconceitos raciais e étnicos. Dentro deste paradigma, a composição do povo brasileiro era frequentemente descrita como uma harmoniosa mescla de descendentes de europeus, principalmente portugueses, indígenas e africanos, cada grupo contribuindo com sua parte para a construção de uma nação pacífica e multirracial.


No entanto, as inovações metodológicas no ensino de História foram escassas durante esse período. Apesar das recomendações dos proponentes da Escola Nova, que advogavam pela substituição dos métodos tradicionais por abordagens mais ativas e centradas no aluno, muitas práticas educacionais permaneceram inalteradas. Neste novo paradigma pedagógico, o professor era visto mais como um facilitador do processo de aprendizagem do que como um mero transmissor de conhecimento.


É importante observar que as transformações no campo da História como disciplina científica influenciaram tanto os conteúdos quanto os métodos tradicionais de ensino. Contudo, é essencial reconhecer que as mudanças na educação histórica não derivam exclusivamente dessas inovações historiográficas. Elas estão intrinsecamente ligadas a uma série de fatores sociais e culturais, incluindo a expansão do sistema educacional para atender a uma população com diversidade cultural crescente, que dispõe de acesso a um espectro mais amplo de informações.

 

1.3 O ESTUDO DA HISTÓRIA LOCAL E A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES

 

A escola é um espaço de construção e reconstrução simbólica, e os profissionais da educação também são profissionais da cultura. O ambiente escolar convive com as tradições quando a globalização da cultura e dos padrões de comportamento se instalou como tendência mundial. É na escola que começa a ser construída a identidade social e cultural.


Se é significativo o papel da instituição educacional, o modo como sua influência vem sendo exercida e como tem contribuído para a realização plena do ser humano deve estar presente nas bases filosóficas do sistema educacional. Questões como a exagerada ênfase na aquisição de "conteúdos" e tecnologias, e a pouca preocupação com os fatores humanísticos, como o fomento de valores sociais, a descoberta do "eu" e o desenvolvimento da socialização com outros membros da comunidade são apenas alguns pontos que ficam muito aquém do mínimo indispensável para a formação de um indivíduo preparado para enfrentar a vida, não só no campo profissional, mas principalmente nos campos pessoal e afetivo, pois por meio das relações que se estabelecem com o mundo e com os outros, o ser humano constrói sua identidade a partir do grupo social ao qual pertence, do contexto familiar das experiências individuais, e de acordo com os valores, ideias e normas que organizam sua visão de mundo. É na relação com os outros que a identidade se desenvolve, pois obviamente não há um "eu" ou um "nós" senão frente a outrem. Jamais alguém constrói sua identidade independente das relações estabelecidas com os outros e da representação que os outros têm a seu respeito.


A melhor compreensão, hoje, do fenômeno social da educação leva-nos a conceituar as instituições educativas como instrumentos da transmissão da cultura, sua consolidação e sua renovação. Ensinar História, considerando o eixo temático "História Local e do Cotidiano", parte do pressuposto de que o educando comece a realizar pesquisa sobre a história local, as informações propiciam pesquisas com depoimentos e relatos de pessoas da escola, da família e de outros grupos de convívio, podendo utilizar-se dos mais variados recursos disponíveis para fomentar o processo de identificação da realidade do cotidiano, podendo contrastar ou comparar o processo de desenvolvimento da localidade onde estão inseridos com o desenrolar dos acontecimentos que englobam o Brasil e o mundo.

 

1.4 UM BREVE HISTÓRICO DA AGROVILA MATA GERAL

 

O resgate histórico de um povo ocorre no contexto de um mundo contemporâneo que transforma a vida do homem. Não obstante, persiste a esperança na conquista, no crescimento, na trajetória e no registro vivo da história e na luta constante pela imagem viva de uma terra linda que foi conquistada na busca pela Mata Geral, hoje objeto de estudos científicos e acadêmicos. Os fragmentos foram obtidos através dos primeiros moradores e de pessoas que têm o prazer de percorrer os estreitos caminhos, revivendo o tempo presente em uma comunidade que sonha e caminha em direção a um novo mundo.


O processo de ocupação e desenvolvimento da região está diretamente ligado ao projeto de Reforma Agrária desenvolvido pelo INCRA no início da década de 80. Inicialmente, a área era uma mata fechada, pertencente à Fazenda Santa Tereza. Com o desenvolvimento da colonização, houve o deslocamento de famílias que aguardavam a liberação de terras. Segundo relatos, eram 30 famílias auxiliadas pelo INCRA para se deslocarem até essa região.


Em busca de melhores condições de vida, essas famílias enfrentaram diversos desafios. Na época, para chegar ao local, existia apenas a estrada principal que ligava Redenção ao Projeto Cumaru, essa em péssimas condições de tráfego. Levava-se muitas horas para chegar, pois o transporte geralmente era feito a pé ou no lombo de animais.


Na beira da estrada, onde hoje se localiza a Agrovila, havia apenas barracos onde os colonos guardavam seus pertences e partiam para abrir a mata. Com foices e facões, faziam trilhas até seus lotes e, em pequenas clareiras, erguiam seus barracos de lona cobertos com palha. Enfrentavam calor, chuva e, em meio a muitos insetos e animais, alguns perigosos, corriam o risco de sofrer acidentes e adoecer a qualquer momento. O medo predominante era de contrair malária ou febre amarela.


Como não havia infraestrutura hospitalar, se adoeciam, primeiramente tentavam curar-se com remédios caseiros. Em casos de sorte, eram assistidos pelos agentes da antiga SUCAM, que realizavam atendimentos mensais. Caso não houvesse melhora, o recurso seria o deslocamento, geralmente até Redenção ou Conceição do Araguaia, mas muitos acabaram não chegando a tempo, resultando em mortes.


A primeira atividade econômica da região foi a extração vegetal de madeira, que se manteve ativa nos primeiros anos. Paralelamente à extração, iniciou-se a agricultura de subsistência, com o plantio de arroz, milho, mandioca, entre outros. Como as colheitas eram fartas, o excedente era utilizado para a criação de animais ou vendido por meio de um pequeno posto da Cobal, o que efetivamente contribuiu para o desenvolvimento da pecuária. Os pequenos lotes de assentamento foram gradativamente substituídos por médias fazendas, que hoje se caracterizam principalmente pela criação de gado de corte e, em menor proporção, de gado leiteiro.


O centro habitacional que constitui o vilarejo formou-se inicialmente como um entreposto, pois está localizado aproximadamente no meio do percurso entre Redenção e Cumaru do Norte, juntamente com a necessidade de oferta educacional para os filhos dos colonos que se estabeleceram.


Mesmo com alguns benefícios realizados, como a melhoria das estradas, abertura de vicinais, construção de escola e seu funcionamento do ensino fundamental ao médio, posto de saúde, energia elétrica e água encanada que proporcionaram melhorias na qualidade de vida para a população local, muitas pessoas migraram para outras regiões que consideravam mais atraentes ou por outros motivos.


A população é formada por um grupo bastante heterogêneo, vindo de diversos estados, como Minas Gerais, Tocantins, Maranhão, Goiás, entre outros. As atividades econômicas incluem pequenos comércios, agropecuária e vínculos empregatícios prestados ao órgão público. A maioria das residências são tipicamente moradias fixas, construídas principalmente de madeira e cobertas com telhas de barro. Na área da saúde, a Agrovila conta com um posto de atendimento emergencial, que inclui prevenção de doenças por meio de campanhas de vacinação e atendimento de enfermagem.


Hoje, o pequeno povoado da Agrovila Mata Geral tem pouco mais de 300 habitantes, entre crianças e adultos, e possui características culturais típicas das outras regiões do sudeste do Estado do Pará, tendo como principal fonte de economia a criação de gado para leite e o gado Nelore (para corte). Não possui um local para lazer, e muitos moradores se deslocam para outras cidades em busca de diversão e outras formas de entretenimento.


Haja vista que é um braço de Redenção, e vê cidades como Cumaru do Norte e Pau D'Arco, que aparentemente apresentam as mesmas características do povoado de Mata Geral, fazendo deste um bom lugar para residir e, para quem é proprietário de terras, a situação é muito confortável.


Atualmente, não há produção agrícola, prevalecendo a agropecuária como fonte de riqueza da região. Com o desmatamento e a transformação da terra em pastagens (grama, capim), houve espaço para a expansão da pecuária, que se tornou a principal força econômica da região. Hoje, a pequena vila está no centro dos pecuaristas da região.


Nunca se pôde imaginar que a descoberta de um pequeno lugarejo pudesse trazer tantos benefícios e formar uma vila como a que chamamos hoje. Foi com muito sacrifício que as pessoas descobriram, ou seja, encontraram um cantinho do mundo para habitar com suas famílias, vindas de longe, um povo humilde e de muita fé.


Tudo isso ocorreu por volta dos anos 80, quando esse povo simples se instalou no meio de uma área fechada, até então conhecida como área de reserva da grande fazenda Santa Tereza, onde havia uma grande riqueza de madeira e minério. Logo depois, quando as pessoas e famílias se apossaram, perceberam que valeria a pena investir e construir uma vida nova, alcançando seus objetivos e criando seus filhos, que futuramente formariam uma nova comunidade, conhecendo as lutas e a ânsia por uma vida melhor.


Hoje a vila Mata Geral é uma história de grande importância, de dedicação para os alunos e educandos que passaram por aqui, também motivo de orgulho para essa comunidade saber que existe alguém resgatando algo sobre essa bela vila, sendo também trabalhos das grandes academias como a UVA.


Será sempre louvável aquilo que foi conquistado através de muitas lutas, sacrifícios e sofrimentos. Vale ressaltar que esta pesquisa de campo é de suma importância para nós acadêmicos, que contribuiu de maneira significativa tanto quanto aos alunos da escola São Lucas. Os alunos mostraram um bom desempenho nas atividades, fizeram textos, dramatizações relatando a chegada de um dos pioneiros da Mata Geral, na qual expressavam as dificuldades que passaram até chegar ao momento esperado, que é a vida mais tranquila, sem medo de superar os obstáculos. Essas famílias já contam com uma grande vitória, cada uma tem sua vida estável. Haja vista que a grande maioria conseguiu uma vida financeira razoável, onde puderam formar seus filhos, que ajudam a repassar o sofrimento e a luta que seus pais passaram até chegar aos dias atuais.

 

2. ASPECTOS DA PESQUISA

 

2.1 HISTÓRICO DA ESCOLA

   

A Escola São Lucas iniciou ainda na época do assentamento, em 1983, quando o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), sob o governo de João Batista Figueiredo, autorizou ao GETAT (Grupo de Terras do Araguaia ao Tocantins) assentar os colonos nas terras onde o governo havia feito a desapropriação. Essas terras pertenciam ao corpo da fazenda Santa Tereza, de propriedade do senhor João Gomes do Val, um dos pioneiros de Redenção.

No início, devido à necessidade dos assentados de proporcionar educação aos filhos, surgiu a necessidade de abrir uma escola, que inicialmente foi chamada de Escola Mata Geral 7. A primeira professora foi a senhora Noemia de Andrade, que era leiga, porém contribuiu para o aprendizado das crianças do ensino primário.

A partir da década de 90, seu nome foi alterado para São Lucas e funcionou até 1993, oferecendo apenas o ensino primário. Em 1994, teve início a primeira turma da 5ª série, e a primeira conclusão do Ensino Fundamental ocorreu em 1998. Neste ano, a nona turma da 8ª série concluirá seus estudos.


O Ensino Médio foi uma grande conquista da comunidade, iniciando no ano de 2004 e funcionando por meio de uma parceria entre a Prefeitura e o Estado. Além do Ensino Fundamental e Médio, a escola oferece a modalidade de Ensino EJA (Educação de Jovens e Adultos) e planeja implementar a Educação Infantil, completando todo o ciclo da Educação Básica, observando os aspectos legais e normativos estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, bem como no Regimento das Escolas Públicas do município de Redenção, Pará. A composição das turmas é determinada pela série, faixa etária e pelo desenvolvimento cognitivo dos alunos.


A escola possui características de uma escola de periferia, com alunos de diferentes classes sociais, incluindo baixa renda e até mesmo situações consideradas de extrema pobreza. Muitos enfrentam problemas familiares, vivendo em lares desestruturados com avós ou tios, o que pode gerar maior indisciplina por parte dos alunos. A qualidade do ensino na EMEF São Lucas melhorou à medida que o currículo e o conteúdo das disciplinas foram adaptados, tornando-os mais atraentes e relevantes para a realidade escolar e dos alunos.

 

2.2 IDENTIFICAÇÃO DOS PROFESSORES

 

Foram realizadas entrevistas com professores da referida escola sobre como está sendo trabalhada a História no chão da sala de aula. Todos têm mais de 5 anos de magistério, sendo a maioria com curso superior. São seis professores no total, dos quais, com exceção de uma professora, trabalham do Ensino Fundamental do 1º ao 8º ano.

 

2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ALUNOS    

         

rata-se de uma turma por série, com um total de 215 alunos, sendo 120 do sexo masculino e 95 do sexo feminino, dos quais 13 são repetentes. A maioria é oriunda de famílias de baixa renda, o que os leva a ocupar as horas vagas exercendo diversas atividades nas ruas, como vender geladinhos, trabalhar como domésticas e ajudar os pais em serviços braçais. Cabe ressaltar que, entre esses alunos, há dois com necessidades especiais, sendo um surdo-mudo e outro com cegueira.

 

2.4 DADOS DA PESQUISA

 

Os dados obtidos na pesquisa estão no quadro abaixo onde o mesmo aponta percentual dos professores que consideram importante trabalhar a história local em sala de aula. Esses dados foram conseguidos através de questões elaboradas que foram entregues aos professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Lucas.



 











Observamos no quadro acima que 57,1% dos professores já incluem regularmente a História Local em suas práticas pedagógicas, enquanto 42,9% ainda não abordam esse tema em sala de aula.














Ao analisarmos essa questão mais detalhadamente, percebemos que, dentre várias razões, a principal dificuldade enfrentada pelos professores na prática pedagógica é a escassez de materiais que forneçam subsídios sobre essa temática. A falta de recursos adequados torna desafiador para os educadores introduzirem conteúdos relacionados à História Local, limitando, assim, a abordagem desses aspectos significativos da comunidade na sala de aula. Essa lacuna destaca a necessidade premente de desenvolver e disponibilizar materiais didáticos específicos e acessíveis que apoiem os professores nesse processo educacional.

  

Já na pesquisa realizada com a turma da 7ª série, turma única da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Lucas, sobre o que os alunos pensavam sobre trabalhar a História local, constatamos os dados a seguir:



 











A turma da 7ª série é composta por 20 alunos, dos quais a maioria, ou seja, 80%, expressou concordância quanto à importância fundamental de estudar a História local. Para eles, quando um tema que faz parte do seu cotidiano é abordado em sala de aula, torna-se mais fácil de compreender. O restante, 20%, optou por não opinar, possivelmente por falta de interesse no assunto.


Ao analisarmos essa situação, podemos concluir que tanto os alunos quanto os professores reconhecem a grande importância de explorar os aspectos da realidade local. Iniciando com temas cotidianos da comunidade, é possível abordar questões que também estão presentes em nossa sociedade e em outras localidades. Isso demonstra que nenhum evento contemporâneo ocorre de forma isolada; tudo o que acontece no contexto social pode estar interligado com o que ocorre no mundo geral.

 

2.5 RESUMO DA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE OS DADOS DA PESQUISA

 

Observamos nos quadros acima que as entrevistas realizadas com professores e alunos destacaram uma prática amplamente discutida nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que enfatiza a importância de estudos que conectam questões locais a outras localidades. Essa abordagem reflete a compreensão fundamental nos estudos históricos de localizar e analisar as múltiplas relações entre eventos e indivíduos ao longo do tempo e espaço, buscando explicações abrangentes que capturem a complexidade das experiências históricas humanas.


Apesar da maioria dos alunos ser proveniente de famílias de baixa renda, observa-se que muitos deles estão dispostos a se engajar na pesquisa e análise de dados, mesmo diante dos recursos limitados. Esses alunos demonstram um interesse crescente pela leitura e pela busca de informações para seu crescimento intelectual, o que ressalta sua disposição para aprender e se desenvolver academicamente.


Embora os professores ainda não estejam abordando adequadamente temas relacionados ao cotidiano dos alunos, é importante destacar que, como a maioria possui formação superior, eles demonstram certa flexibilidade em se adaptar a essa orientação. Conforme preconizam os PCNs, o sujeito histórico pode ser compreendido como os agentes de ação social que se tornam relevantes para os estudos históricos com objetivos educacionais, incluindo indivíduos, grupos ou classes sociais.

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Na construção e organização do presente trabalho, que aborda a Formação Política e Sociocultural da Comunidade de Mata Geral, zona rural no município de Redenção, Pará, foi necessário um breve estudo sobre o assunto em questão, abordando as discussões levantadas. Tão crucial quanto analisar o papel dos educadores no processo histórico de construção da Agrovila Mata Geral é compreender como ocorreu sua origem migratória, contribuindo para o processo de formação de identidade de cada indivíduo que deu origem à comunidade como um todo.


Há uma dimensão na qual todo professor participa, independentemente de sua posição política: produzir uma reflexão sobre as práticas sociais inventadas por moradores que experimentam os sabores, sensações, alegrias e dificuldades perpassando por diversos tempos, com seus ritmos e marcações peculiares da zona rural, que afetam diretamente seus moradores.


Apesar do acompanhamento dos pais aos seus filhos no processo escolar não ser frequente no cotidiano comum característico de cidades pequenas, é importante ressaltar que todas as crianças da Agrovila Mata Geral têm acesso à escola, o que contribui significativamente para a construção das estruturas sociais, culturais e intelectuais de qualquer cidadão. A escolarização desempenha um papel fundamental na formação do educando, dando suporte para a aquisição de informações, observação de normas e promoção da boa formação, bem como o preparo para o exercício da cidadania.


A falta de material de pesquisa sobre o assunto ressalta a importância de realizar estudos que forneçam subsídios para futuros estudiosos do tema tratado neste trabalho de monografia, bem como para educadores interessados na área pedagógica ora estudada. Por isso, a consulta deste trabalho serve como fonte de conhecimento para qualquer pessoa interessada em obter maiores esclarecimentos e enriquecer seus saberes, ressaltando que este trabalho não é uma obra concluída, mas sim um grande passo para iniciar os relatos históricos, fornecendo informações essenciais sobre o processo de desenvolvimento e a formação histórica local.


A produção deste trabalho foi muito importante para nossa formação acadêmica, uma vez que proporciona uma visão mais ampla sobre o ensino de História numa perspectiva interacionista, onde os discentes e docentes se percebem como agentes colaboradores na construção da história e não apenas como meros sujeitos. Acreditamos que dessa forma contribuiremos para uma sociedade participativa, mais responsável e, acima de tudo, formando verdadeiros cidadãos, sem ferir a ordem, o caráter e a ideologia de cada indivíduo.


Apenas através da integração em todas as bases sociais é possível construir a sociedade almejada, a tão sonhada "Cultura da Paz", que só será possível reconstruindo o ser humano de dentro para fora.


Concluímos que para transformar a realidade constatada pela pesquisa, é necessário rever alguns fatores negativos ainda presentes no ensino de História, especialmente em relação à temática da História local.

 

3.1 SUGESTÕES

         

Nessa perspectiva, decidimos apresentar algumas ações para tornar o ensino-aprendizagem mais eficiente.


  • Primeiramente, é necessário criar um projeto de trabalho bem definido, estabelecendo o que desejamos alcançar e quem queremos atingir.

  • Em seguida, devemos criar um ambiente de estudo agradável, para que tanto os professores quanto os alunos se sintam confortáveis.

  • Logo após, os professores devem aplicar metodologias que incentivem os alunos a desenvolver o gosto pela leitura.

  • Outra ação importante para promover o aprendizado na área de História é o incentivo por parte da comunidade escolar para que os alunos participem de eventos locais e se envolvam em assuntos sociais e políticos, possibilitando que expressem suas opiniões de maneira crítica.

 

Para minimizar a falta de orientação no estudo do conteúdo proposto, e após a coleta de dados, decidimos apresentar alguns eixos norteadores que servirão de base para o desenvolvimento de conteúdo.

 

1º CICLO 1- O Educando e a percepção do espaço vivido (história local). 2- Localização no espaço geográfico. 3- Noções de atividades econômicas. 4- Os primeiros acontecimentos (por meio de narrativas).


2º CICLO 1- O Município ontem e hoje. 2- A importância da segurança. 3- Atividades econômicas do Município. 4- O mapeamento do seu bairro.

 

4. REFERENCIAS

 

FERREIRA, C. E. EDF208 História da Educação Geral. http:/www.ime.usp.br/grad/catalogo/200/apend/node5.html> Acesso em 07/jul/03.


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Ensino Fundamental, Brasília. MEC/SEF, 1997. p. 108, outubro, 2002.


Regimento Escolar das Escolas Municipais de Redenção (PA).


WEBER, M. 1978 Economy and Society (An Outline of Interpretive Sociology), vol. 2. Organizado por G. Roth e C. Wittich. Berkeley: University of California Press.

 


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publicação de artigo científico

Esse artigo pode ser utilizado parcialmente em livros ou trabalhos acadêmicos, desde que citado a fonte e autor(es).



Como citar esse artigo:


LOPES, Alenilda Francisca de Lima; TEIXEIRA, Juarez Lopes; LIMA, Agenilda Francisca de. A construção da identidade histórica na Agrovila Mata Geral em Redenção, Pará. Revista QUALYACADEMICS. Editora UNISV; v. 2, n. 2, 2024; p. 285-303. ISSN: 2965-9760 | DOI: doi.org/10.59283/unisv.v2n2.016


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